O achismo no país do acaso

(*) Gisele Leite

Durante o café da manhã, procuro me informar sobre o que se passa no mundo através dos jornais. Deparo-me com um artigo, num site muito acessado, a respeito da CPI da Covid em que o chefe da nação é acusado de charlatanismo e curandeirismo por incentivar o uso de determinadas medicações que não têm eficácia comprovada no combate ao coronavírus.

Em sua defesa, através de entrevista à uma rádio lá de Cuiabá, El Jefe afirma que apenas “deu a sugestão como alternativa”.

Passemos a analisar o discurso.

Afirma, o Comandante Supremo, que procurou atender o povo, no melhor discurso em terceira pessoa, pois não foi o capitão e, sim, o presidente Fulano de Tal, ele que junto com médicos e embaixadores (que deveriam ser médicos pesquisadores também para exarar parecer com tanta veemência), mundo afora, chegaram a essa conclusão.

Alternativa por alternativa, também posso dar a minha… chá de capim limão cura gripe. Pode até parecer cômico, mas estaríamos no mesmo nível de conhecimento científico no que se refere a matéria.

Vossa Excelência se revolta quando entende que todos são contra o tratamento precoce que, na minha opinião, o mais efetivo é a PREVENÇÃO, salvo melhor juízo.

Afirma que o grande negócio é provocar a indústria farmacêutica para que adquira, onerosamente, as vacinas – duplo equívoco, pois essas indústrias pesquisam, criam e comercializam produtos, independentemente de provocação. Quanto ao “jabaculê” leia-se, comissão, que possivelmente tenha acontecido, é prudente nem julgar.

Apesar de afirmar que não é curandeiro, nem charlatão, ainda pede que a população continue usando a medicação “alternativa” que sugeriu.

Quanto ao uso das vacinas, de determinada grife (grife sim, devido sua raridade e escassez, se tornando objeto de luxo), afirma que pessoas que a tomaram foram infectadas e morreram, sugerindo que tal imunizante para nada serve, enquanto, fato notório, os cientistas afirmaram que a vacina REDUZ o resultado morte em 90% o que é melhor do que zero chance de sobrevivência.

Numa tentativa desesperada e pueril de corroborar suas explicações, pega a ciência pelos cabelos e arrasta sua cara num muro chapiscado afirmando que os medicamentos descobertos no Brasil são fruto do acaso.

Alto lá! Para o Mundo que eu quero descer!

Quer dizer que o tempo de estudo, pesquisa, esforço físico, mental, dedicação, sem contar com o investimento feito na compra de materiais e insumos, de nada vale… é fazer qualquer coisa e “caramuru!” está pronto.

Pensando bem, ele não está de todo errado. Há muito tempo, a casualidade faz parte do cotidiano da Nação.

Por acaso, eu não sabia. Por acaso, não era meu. Por acaso a fazenda onde foi, comprovadamente, identificado trabalho escravo, pertence a um deputado federal… por acaso, não mais que por acaso.

No final do discurso, de uma forma surpreendentemente dissimulada, cita o exemplo da uma empresa estadunidense que ao pesquisar um medicamento para doenças cardíacas (no discurso, usa o termo, remédio para o coração, que, a meu ver, pode ser até o Amor) e acabou encontrando o Viagra (que dispensa apresentações). Ei!!! Alô!!! Sua casualidade foi longe demais! Estamos falando de mais de meio milhão de mortos… por um vírus, não de infarto!

Enfim… diante de tantas afirmações, dignas dos Anais do FEBEAPÁ (Festival de Besteiras que Assola o País), de Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto), pego uma banana e começo a comê-la, em homenagem a essa República.

(*) Gisele Leite – Mestre e Doutora em Direito, é professora universitária. Artigo em coautoria com o Dr. Ramiro Luiz Pereira da Cruz.

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