Falso bom-mocismo: Bolsonaro aceita depor de forma presencial em inquérito sobre interferência na PF

 
Na política, como sempre afirmamos, inexistem coincidências, ou seja, nada acontece por acaso. Tudo é minuciosamente pensado. Alvo de inquéritos que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF) e temendo a piora de sua nada fácil situação, o presidente Jair Bolsonaro acenou à Corte como uma “bandeira branca”, mesmo que falsa seja.

Nesta quarta-feira (6), durante sessão plenária, o STF anunciou que o presidente da República manifestou interesse em depor presencialmente no inquérito que apura sua suposta interferência na Polícia Federal (PF).

A decisão foi comunicada ao Supremo pelo chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), Bruno Dantas, no dia em que os magistrados poderiam decidir se Bolsonaro seria autorizado a depor por escrito. Com isso, a pedido do ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito, foi retirado da pauta do STF o julgamento de recurso apresentado pela AGU contra o depoimento presencial.

O ministro Luiz Fux, presidente do STF, chegou a pautar o tema para esta quarta-feira, antes de Moraes anunciar o novo posicionamento de Bolsonaro e afirmar que deve avaliar se o recurso da AGU ainda pode ser julgado.

Na verdade, Bolsonaro, aconselhado por assessores palacianos, optou pelo depoimento presencial temendo não apenas a retomada da crispação com o STF, mas também a possibilidade de uma eventual decisão da Corte valer para todos os inquéritos de que é alvo.

Bolsonaro também solicitou para decidir local, dia e hora em que será ouvido, prerrogativa é compatível com o exercício das funções de chefe de Estado e o seu direito de defesa.

 
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O caso

O inquérito sobre a suposta interferência de Bolsonaro na PF foi aberto em abril de 2020, após Moro pedir demissão do Ministério da Justiça e fazer graves acusações contra o presidente. De acordo com o ex-juiz, o presidente decidiu trocar a chefia da Polícia Federal, à época comandada por Maurício Valeixo, para blindar familiares e amigos no âmbito de inquéritos.

“Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro oficialmente e não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar foder minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura. Vai trocar, se não puder trocar, troca o chefe dele; não pode trocar o chefe, troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira”, disse Bolsonaro na fatídica reunião ministerial de 22 de abril do ano passado.

Valeixo foi exonerado da chefia da PF em 24 de abril. Na véspera, Moro disse a Bolsonaro que não ficaria no ministério se o diretor-geral fosse afastado e acabou pedindo demissão na mesma data. À época, o ex-ministro da Justiça afirmou não ter assinado a exoneração de Valeixo e que ficou sabendo do caso pelo Diário Oficial. Ele também já havia declarado que Maurício Valeixo não pediu para deixar o cargo, como alegou Bolsonaro.

Ao renunciar ao cargo de ministro, Moro acusou o presidente da República de tentar interferir na Polícia Federal ao cobrar a troca da direção-geral, bem como a do comando da Superintendência no Rio de Janeiro. As declarações acabaram levando à abertura da investigação pelo Supremo em 28 de abril. Bolsonaro nega as acusações.

Em depoimento ao Supremo, Moro apontou que a citada reunião ministerial serviria de prova contra Bolsonaro no caso. O ministro Celso de Mello, agora aposentado, tornou pública a gravação do encontro, cujo teor das conversas causou fortes repercussões no meio político.

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