CPI da Covid: vazamento do relatório final abre caminho para contestações da “tropa de choque” do governo

 
Que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, assim como outras tantas, seria transformada em palanque político o UCHO.INFO já sabia. Tanto é assim, que este portal não dedicou muito espaço aos trabalhos da comissão. Em alguns momentos, a CPI excedeu no terreno do sensacionalismo, mas conseguiu retomar o rumo graças ao bom-senso de alguns de seus integrantes.

A queda de braços entre o relator da comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL), a tropa de choque do governo e o clã Bolsonaro acabou refletida no relatório final, com tipificação de crimes que certamente serão questionados no âmbito jurídico. Diante desse fato, o relatório não está livre de ser alvo de emendas, caso o texto final não seja modificado, de acordo com senadores que integram o chamado “G7”.

O vazamento de parte do relatório repercutiu negativamente no colegiado, abrindo caminho para a “tropa de choque” do governo contestar o documento, cuja votação está marcada para 26 de outubro. Presidente da CPI, o senador Omar Aziz (PSD-AM) disse nesta segunda-feira (18) que o conteúdo vazado para a imprensa será mantido, mas alterações no texto devem acontecer para preservar o trabalho da CPI. “Ninguém vai condenar ninguém fazendo do relatório uma pirotecnia”, disse Aziz.

Entre os membros do grupo majoritário há divergências em relação à acusação de “genocídio indígena” na pandemia, crime que pode levar o presidente da República a ser julgado em tribunais internacionais, e de homicídio qualificado por parte de Bolsonaro.

 
“Espero que ele não retire nada, que ele não perca tempo nem se esforce para retirar porque ninguém é besta aqui e a gente não coloca a carroça na frente dos bois à toa. Não é assim”, disse o presidente da CPI.

Vazamento de documentos é comum em CPIs, mas considerando as mais de 600 mil mortes por Covid-19, em boa parte fruto do negacionismo do governo, beira a temeridade dar munição à base do governo para colocar em xeque o relatório final.

O senador Renan Calheiros afirmou ser contra o vazamento, mas considerou positivo, pois dá transparência aos trabalhos da CPI. “Fui contra. Mas, já que vazou, acabou sendo bom. O debate tem que ser público. Cada um [senador] deve dizer o que defende”, declarou Calheiros.

O parlamentar alagoano está equivocado, já que transparência não se consegue dessa maneira, assim como debate público não se faz desse modo. Ademais, vazar um documento que sequer foi votado e pode receber emendas é no mínimo sinal de irresponsabilidade e oportunismo político.

Calheiros garante que não vazou as minutas do relatório final. Se o relator da CPI não vazou trechos do relatório para a imprensa, alguém deve ser responsabilizado pelo ato, que configura um enorme desrespeito aos familiares das vítimas do novo coronavírus.

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