Tentativa do governo de desacreditar relatório da CPI da Covid confirma a preocupação de Bolsonaro

 
Há dias, por ocasião da apresentação do relatório da CPI da Covid, sob a responsabilidade do senador Renan Calheiros (MDB-AL), o clã Bolsonaro reagiu de forma dual ao conteúdo do documento. O presidente Jair Bolsonaro disse que a CPI nada produziu de efetivo para o País, a não ser “ódio e rancor”. Na sequência, Bolsonaro atacou o relator, a quem chamou de “vagabundo”. O senador Flávio Bolsonaro, que na CPI protagonizou momentos de crispação com Calheiros, classificou o relatório como uma grande piada.

A estratégia dos Bolsonaro de desqualificar o relatório durou pouco tempo, pois o documento reúne provas irrefutáveis de crimes cometidos pelo presidente da República no âmbito do enfrentamento da pandemia do novo coronavírus. Enquanto o chefe do Executivo acionou a Advocacia-Geral da União (AGU) na tentativa de requerer o arquivamento do relatório na Procuradoria-Geral da República (PGR), o senador fluminense anunciou que ingressará no Supremo Tribunal Federal contra Calheiros pelo suposto cometimento de ao menos 20 crimes cometidos durante a CPI.

Esse comportamento antagônico de ambos revela o desespero do clã presidencial diante de um relatório que pode ter desdobramentos tão complexos quanto difíceis para os principais denunciados pela CPI.

 
Prova maior desse desespero surgiu na esteira da interferência do Palácio do Planalto na votação, pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), de relatório contendo recomendações contrárias ao uso do chamado “kit Covid” no tratamento da doença causada pelo vírus SARS-CoV-2.

A votação, realizada na quinta-feira (21), terminou empatada (6 a 6). Votaram contra o relatório cinco secretários do Ministério da Saúde e um representante do Conselho Federal de Medicina (CFM), cujo presidente é alinhado ao presidente da República. A favor do parecer votaram representantes da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde; da Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde; da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS); Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CNS); do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conass); e do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems).

O gerente-geral de Medicamentos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Gustavo Mendes, a quem cabia o voto de desempate, participou da discussão, mas perdeu o momento da votação enquanto entrava em um voo para Brasília. Informações de bastidor sugerem que Mendes votaria contra o relatório.

A investida palaciana para esvaziar o relatório da CPI da Covid não deixa dúvidas a respeito da preocupação do presidente da República em relação às graves acusações sobre diversos crimes, alguns dos quais podem terminar em condenação, caso a PGR decida não se omitir diante dos fatos e das provas.

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