Polícia Federal ateia fogo em balsas de garimpo ilegal no rio Madeira

 
Uma operação policial localizou e queimou no sábado (27) pelo menos 69 balsas que estavam sendo usadas por garimpeiros no rio Madeira, no Amazonas, para explorar ouro de forma ilegal. Elas estavam abandonadas nas margens do rio, e apenas um homem foi preso.

A “corrida do ouro” no rio Madeira estava ativa pelo menos desde o início de novembro, segundo o Greenpeace. O frenesi de garimpeiros teria começado após um boato sobre uma embarcação ter encontrado ouro na região da cidade de Autazes, a pouco mais de 100 quilômetros de Manaus. Rapidamente, pelo menos 300 balsas rumaram para aquele trecho do rio. No estado do Amazonas, garimpar ouro no rio Madeira é ilegal.

As imagens das centenas de balsas de dragagem perfiladas foram divulgadas em diversos veículos de comunicação na última terça-feira (23). Na quinta, o vice-presidente Hamilton Mourão, que preside o Conselho Nacional da Amazônia, anunciou que a Polícia Federal e a Marinha preparavam uma operação contra as balsas ilegais na região, o que deu tempo para os garimpeiros se dispersarem. Na manhã de sexta-feira (26), poucas embarcações ainda estavam no mesmo trecho do rio.

No sábado, a PF deflagrou a operação Uiara, com apoio da Marinha e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Além da prisão de um homem, os policiais apreenderam mercúrio e ouro no local. A operação foi comemorada pelo ministro da Justiça, Anderson Torres, no Twitter.

O Greenpeace afirmou que boa parte das dragas destruídas já havia saído da cidade de Autazes e foram localizadas em cidades vizinhas, como Nova Olinda do Norte. “Esta ação prova que o Brasil tem capacidade para enfrentar a ilegalidade e garantir a proteção dos nossos rios, florestas e comunidades tradicionais. Basta vontade política!”, afirmou a entidade no Twitter.

O Greenpeace pediu que o governo desenvolva ações semelhantes em outros territórios que atualmente sofrem com o garimpo ilegal, como as terras indígenas Munduruku, Yanomami e Kayapó.

O Ministério Público Federal acionou na sexta-feira o Tribunal de Contas da União para apurar se houve alguma omissão dos órgãos de fiscalização, como a PF e o Ibama, que teria permitido a atividade das dragas nas últimas semanas.

 
Risco de contaminação

Movidas por motores a diesel, as dragas sugam um grande volume de sedimento acumulado no fundo do rio, que é despejado sobre uma espécie de carpete. Os fragmentos de ouro sugados junto com a terra são recuperados com a ajuda do mercúrio, que tem a capacidade de se unir a outros metais e formar amálgamas.

Após essa etapa, o calor de um maçarico separa os dois metais, já que o mercúrio se liquidifica e evapora numa temperatura inferior do que o ouro. No fim do processo, normalmente, as partes que não interessam, como os restos contaminados, são jogados de volta ao rio.

Um dos maiores problemas do uso mercúrio é o impacto causado no ambiente e na saúde: o produto contamina peixes que, quando consumidos pela população, se acumula no corpo humano. Os sistemas nervoso e imunológico podem ser afetados, assim como pulmões e rins, com sintomas que vão de tremores a perda de memória e, em casos extremos, a morte.

Garimpo ilegal

O avanço da mineração ilegal acompanha declarações e decisões do governo Bolsonaro que enfraqueceram órgãos de fiscalização e, segundo organizações ambientalistas e indígenas, encorajaram os garimpeiros a buscar a sorte à margem da lei.

Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Minas Gerais com o Ministério Público Federal divulgada em julho apontou que apenas 34% das 174 toneladas de ouro exportadas pelo Brasil em 2019 e 2020 tinham origem legal comprovada. (Com agências de notícias)

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