Paulo Guedes ignora anúncio de PIB negativo e afirma que o Brasil “está decolando de novo”

 
Ainda ministro da economia, Paulo Guedes parecer viver em mundo paralelo, como se sofresse de esquizofrenia política. Teórico conhecido que sempre teve dificuldade para levar as próprias ideias ao campo da prática, Guedes não desiste de dar declarações estapafúrdias e que não condizem com a realidade.

Nesta quinta-feira (2), após o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgar dados sobre recuo de 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre, o que coloca o País em recessão técnica, Paulo Guedes ousou dizer que o Brasil “está decolando de novo”.

Apresentado ao eleitorado nacional, em 2018, como Posto Ipiranga, em alusão ao mote da campanha publicitária da rede de postos de combustíveis, Guedes vem tentando nos últimos três anos justificar o fracasso de uma política econômica que pirou sobremaneira durante a pandemia do novo coronavírus.

Para explicar a alegada nova “decolagem” da economia, o ministro usou a arrecadação de tributos. “Mês a mês, batemos a arrecadação histórica, em termos reais, tirando a inflação. A arrecadação está muito forte, o que mostra que o Brasil está decolando de novo, pelo nosso tempo. Preparar para decolagem”, afirmou Guedes, em evento sobre os dez anos de concessões aeroportuárias.

“O crescimento está contratado. Essa conversa de que o Brasil não vai crescer é coisa de maluco. Gás natural, petróleo, saneamento, cabotagem, ferrovias, aeroportos. Está tudo contratado, R$ 600 bilhões, e vem mais R$ 100 bilhões com o 5G”, acrescentou Guedes.

Enquanto Paulo Guedes vale-se de afirmações delirantes, a anos-luz da realidade enfrentada pelos brasileiros, a maioria dos analistas apostam em uma economia ainda estagnada no último trimestre do ano. Para 2022, a opinião dos analistas oscila entre um cenário de crescimento econômico muito fraco e um quadro de recessão.

Antes do advento da pandemia do novo coronavírus, Paulo Guedes disse que a economia brasileira “havia decolado e estava em pleno voo”. Constatados os primeiros estragos da Covid-19 no País, Guedes repetiu o falso mantra, mas de forma distorcida: “Estávamos em pleno voo, começando a decolar quando fomos atingidos por essa onda”.

 
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Em 29 de maio de 2020, Guedes não chegou a fazer um “mea culpa”, mas disse que analisaria o PIB do primeiro trimestre daquele ano para verificar se a economia estava “em pleno voo” antes da pandemia. O ministro reconheceu que o estado da atividade econômica nacional poderia estar “meio anêmico” nos dois primeiros meses do ano passado.

“Vou pedir para desagregarmos. Para vermos se nos dois primeiros meses já estávamos decolando e no terceiro mês a crise nos derrubou, ou se já estávamos em estado meio anêmico”, afirmou Guedes em seminário virtual promovido pelo BNDES.

Na ocasião, o ministro afirmou ser possível uma recuperação em “V” da economia. “Falo em V porque os sinais vitais da economia estão mantidos. Pode ser um V meio torto? Pode. Pode ser um V da Nike? Pode”. O logotipo da marca esportiva mencionada por Guedes tem uma das pernas do “V”, a segunda, mais próxima da horizontal, o que sugere recuperação econômica mais lenta e demorada, como acabou se confirmando.

Em dezembro de 2020, Guedes chamou de “negacionista” que não via recuperação em “V” da economia. A declaração foi para rebater as críticas de analistas ao PIB do terceiro trimestre daquele ano, que, segundo dados do IBGE, ficou em 7,7%.

Em setembro passado, Paulo Guedes voltou a afirmar que a economia havia voltado em “V”, recuperando-se da recessão provocada pela pandemia de Covid-19. Segundo ele, a queda mostra que a economia ficou “praticamente de lado”, ou seja, praticamente estável.

“Diziam que eu estava em universo paralelo quando eu dizia que Brasil ia voltar em V. (…) A economia voltou em V, estamos crescendo novamente. Hoje saiu um dado [PIB], é praticamente de lado. Como foi -0,05%, arredondou para -0,1%. Se fosse -0,04% era zero”, disse Guedes, em evento da Frente Parlamentar pelo Brasil Competitivo.

O ministro alegou que o segundo trimestre de 2021 foi o “mais difícil”, devido ao novo pico de casos e mortes pela Covid-19 e seus impactos na economia. Segundo o IBGE, no segundo trimestre o PIB registrou queda de 0,1%, na comparação com o primeiro trimestre. O novo recuo do PIB no terceiro trimestre levou o Brasil à recessão técnica, como já mencionado.

É difícil saber em que país Paulo Guedes vive, mas certamente é em um universo paralelo. Sobre negacionistas, termo usado pelo ministro para criticar analistas econômicos, o ministro deveria consultar o presidente da República, um especialista no assunto.

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