(*) Carlos Brickmann
Sempre os outros é que são ladrões. Já a turma de quem fala dos outros é sempre honestíssima, aguardará tranquilamente que a Justiça comprove que as acusações contra ela são apenas armações. E, enquanto aguarda com plena confiança e serenidade que a Justiça se manifeste, toma providências para adiar os julgamentos e descobrir falhas processuais que anulem os processos.
Boa parte dos políticos mente muito. Mas o pior aparece, quase sempre, quando falam a verdade. O general Augusto Heleno disse que precisa tomar calmante na veia para conversar com o presidente Bolsonaro e evitar que ele reaja como gostaria às decisões do Supremo. Já o presidente, em conversa com empresários da Fiesp, Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, disse que foi informado de que o Iphan, após constatar que o local era um sítio arqueológico, tinha paralisado a construção de mais uma loja Havan, de um amigo e seguidor, Luciano Hang – aquele careca que, segundo o escritor Olavo de Carvalho, anda vestido de Zé Carioca. Como não sabia o que era o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), perguntou a um ministro do que se tratava. Completou: “Tinham mandado paralisar a obra porque acharam um azulejo. Ripei todo mundo do Iphan”. Onde já se viu desagradar um empresário amigo da casa só para fazer o que é certo?
Os empresários o aplaudiram. Este colunista tem uma dúvida: em outros tempos, não se diria que o general e o presidente fizeram uma confissão?
As duas verdades
Fernando Bezerra, líder do Governo no Senado, estava tão feliz por ter obtido o apoio de Bolsonaro à sua candidatura ao Tribunal de Contas da União que até acreditou nele. Tirou o terceiro lugar, muito abaixo de Kátia Abreu e do vencedor, Antonio Anastasia, do PSD de Gilberto Kassab. E, ao descobrir que tinha sido traído pelo chefe, deixou a liderança do Governo. Bolsonaro se irritou: disse que Bezerra “já ia tarde” e que, por causa dos problemas do senador em Pernambuco, teve de intervir na Polícia Federal do Estado.
Pois é: a declaração de Bolsonaro também tem cara de confissão.
Cadê o nosso?
Governistas, oposicionistas, lavajatistas, evangélicos, esquerdistas, todos unidos e coesos: juntaram-se para multiplicar as verbas públicas destinadas à campanha eleitoral. Nas últimas (e já milionárias) eleições, as excelências tinham devorado R$ 1,8 bilhão. Agora, poderão gastar até R$ 5,7 bilhões. A coisa era tão escandalosa que o presidente Bolsonaro havia vetado a quantia monumental. Mas o veto foi derrubado na sexta, dia em que o Congresso nem costuma funcionar – mas dessa vez era para legislar em causa própria. A quantia exata não deve chegar aos R$ 5,7 bilhões, mas ficar perto de uns quatro bilhões, quatro bilhões e meio – assim, todos poderão dizer que não foram com tanta sede ao pote. Mas, gastando desse jeito, com a economia do país sem crescimento real, acaba sendo necessário furar o teto de gastos para conseguir R$ 400,00 de auxílio para famílias que estão à beira da fome.
E o veto?
Bolsonaro tinha vetado o absurdo. Mas não deve estar triste com a queda do veto: quem articulou a votação foram três partidos de sua base, aquele ao qual pertence (o PL, de Valdemar Costa Neto), o PP, maior dos partidos que o apoiam, e o Republicanos, ligado a movimentos evangélicos, em especial a Igreja Universal do Reino de Deus. Marcelo Crivella, que Bolsonaro tentou sem êxito nomear embaixador na África do Sul, pertence ao Republicanos. O presidente não fez qualquer articulação para que o seu veto fosse mantido.
O predestinado
O ministro André Mendonça, que acaba de tomar posse como ministro do Supremo Tribunal Federal, disse numa das igrejas do pastor Silas Malafaia que Deus o escolheu para o STF desde antes da criação do mundo.
Por falar nele
A propósito do pastor Silas Malafaia, será que ele já seguiu o conselho oferecido publicamente pelo jornalista Ricardo Boechat, na BandNews FM?
O conselho que ficou famoso de Ricardo Boechat a Malafaia está no link https://www.youtube.com/watch?v=IP0CLLJIe9o
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.
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