(*) Waldir Maranhão
O sul da Bahia foi devastado por causa dos temporais que afetaram 815 mil pessoas, deixando 101 desabrigados e desalojados. Ao todo, 163 municípios baianos estão em estado de emergência. Enquanto os baianos contabilizavam os estragos provocados pelas chuvas, o presidente Jair Bolsonaro desfrutava de férias em praias de São Paulo e Santa Catarina, com direito a bizarrices de toda ordem.
Internado às pressas em razão de problema no abdômen, o presidente da República, por ocasião da alta médica, tentou justificar seu silêncio com alegações estapafúrdias, ao mesmo tempo em que negou ter tirado férias.
Gostem ou não seus radicais apoiadores, Bolsonaro não fez um gesto de solidariedade ao povo baiano, possivelmente porque o governador da Bahia, Rui Costa, é filiado ao PT, partido que terá Lula como candidato ao Palácio do Planalto em outubro próximo.
Lembro que ao assumir a Presidência da República, Jair Bolsonaro prometeu cumprir a Constituição e governar para todos os brasileiros. Desde sua chegada ao poder central, o presidente vem se dedicando a criar polêmicas e disseminar ódio e intolerância.
As chuvas seguiram a estrada da natureza, fazendo estragos consideráveis em Minas Gerais, onde mais de 60 municípios declararam estado de emergência em virtude do rastro de destruição. E Bolsonaro não dirigiu uma só palavra de apoio aos mineiros. Amenizar a omissão com o discurso de que recursos ferais foram liberados não diminui a dor dos atingidos pelas chuvas.
Bolsonaro, que como sempre insiste em dar viés vitimista às suas internações, deixou um caro e concorrido hospital da capital paulista e viajou para Goiás, onde deu o pontapé inicial em partida de futebol que reuniu cantores sertanejos e alguns nomes destacados do esporte. E nenhuma palavra de alento para as vítimas das chuvas foi dita.
No meu estado, o Maranhão, o alto volume de chuvas e deixou um cenário de destruição nas cidades de Imperatriz, Mirador, Paraibano, Barra do Corda, Grajaú e Jatobá. O estrago nesses municípios é impressionante, com dezenas de pessoas desabrigadas e desalojadas, sem contar os prejuízos que não param de crescer. Apesar do cenário catastrófico, o presidente da República não teve tempo para se solidarizar com os maranhenses atingidos pela força das águas celestiais.
No Tocantins, o nível elevado do rio homônimo também provocou em várias cidades, obrigando o governo estado estadual a decretar estado de emergência para conseguir recuperar o que foi destruído em termos materiais, pois histórias de vida não voltarão.
O cargo de chefe de Estado é marcado por compromissos, surpresas e atribulações, mas é preciso rasas doses de humanidade diante de tragédias como as mencionadas acima. Nenhum homem público tem o direito de dar as costas ao cidadão em situações de graves dificuldades.
Sempre pronto para adular sua plateia, Bolsonaro cita o nome de Deus de maneira quase teimosa, mas age como se fosse um anticristo. Até porque, a solidariedade e a fraternidade são pilares importantes do cristianismo.
Ideologias à parte, não posso deixar de reconhecer que o ex-presidente Lula tem inegável conexão com o povo, em especial com os desassistidos pelo Estado e ignorado por muitos governantes.
É preciso decretar o fim do estado de coisas que assola o Brasil, gerando desesperança entre os cidadãos. Esse quadro só pode ser mudado a partir das urnas eleitorais.
Há dias, durante evento do diretório estadual do Partido dos Trabalhadores no Maranhão, eu, filiado ao PROS, fui convidado a falar aos presentes. Na ocasião, sem me preocupar com reações partidárias, defendi a volta de Lula ao Palácio do Planalto. A repercussão da minha fala superou as expectativas, inclusive nas hostes estaduais do PROS.
Quem conhece a realidade social do meu estado sabe o quão importante e necessário é mudar o status quo. Isso se repete diariamente em muitos estados brasileiros, sem que os homens públicos se ocupem com a busca de uma solução, mesmo que não definitiva.
Quem fecha os olhos para o calvário alheio, trocando a responsabilidade de um presidente da República por passeios de lancha e peripécias em parque de diversões, não tem cabedal para usar o nome de Deus em discurso impulsionados pela farsa.
Para concluir, cito o saudoso ex-senador alagoano Teotônio Vilela (1917-1983), que certa vez disse: “A maior tragédia do Brasil não é a dívida externa, nem a dívida interna: é a dívida social.”
(*) Waldir Maranhão – Médico veterinário e ex-reitor da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), onde lecionou durante anos, foi deputado federal, 1º vice-presidente e presidente da Câmara dos Deputados.
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