Escândalo envolvendo prefeito afastado de Pinheiro (MA) exige que políticos aliados se manifestem

 
Na edição de 13 de janeiro, o UCHO.INFO trouxe detalhes da Operação Irmandade, da Polícia Federal, que cumpriu mandatos de busca e apreensão em três cidades do Maranhão e tem como alvo principal o prefeito da cidade de Pinheiro, João Luciano Silva Soares, conhecido na política maranhense como Luciano Genésio.

Genésio, que costumava circular entre destacados políticos maranhenses, é investigado por fraude em licitação, desvio de recursos públicos e lavagem de dinheiro. Os recursos desviados são provenientes do Fundo Nacional da Saúde (FNS) e do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb).

De acordo com o delegado federal Roberto Rocha, que comandou a Operação Irmandade, o esquema criminoso estava concentrado nos pregões 030/2018 e 016/2020, que custaram aos cofres públicos aproximadamente R$ 38 milhões. O ilícito foi possível porque empresas pertencentes a integrantes do bando venceram as respectivas licitações, fazendo repasses financeiros ao prefeito e a pessoas de seu relacionamento. (Confira no áudio abaixo declaração do delegado federal Roberto Rocha)

 
A PF requereu à Justiça a prisão preventiva de Luciano Genésio, até porque as provas, segundo o delegado, são irrefutáveis, mas o desembargador Cândido Ribeiro, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), negou o pedido, considerando parcialmente o pleito da operação policial – afastamento do cargo.

Muito estranhamente, os políticos quem mantêm alguma relação com Luciano Genésio mergulharam em obsequioso silêncio, sem qualquer sinalização de que comentarão o assunto que movimentou os bastidores do poder no Maranhão na última semana.

Governador Flávio Dino

O governador Flávio Dino (PSB), em março de 2015, ou seja, nos capítulos iniciais de seu primeiro mandato, nomeou o então suplente de deputado estadual Luciano para o comando da Superintendência de Articulação Regional de Pinheiro, órgão vinculado à Secretaria de Articulação Política e Assuntos Federativos, à época capitaneada por Márcio Jerry.

A nomeação, devidamente publicada no Diário Oficial do Estado, serviu para dar consistência à campanha de Luciano Genésio à prefeitura de Pinheiro, que anos antes foi administrada por seu pai, José Genésio Mendes Soares, condenado, em 2006, pelo Tribunal de Contas do Estado do Maranhão a devolver R$ 14 milhões aos cofres municipais. Como diz a sabedoria popular, o “fruto não cai longe da árvore”.

A proximidade de Luciano Genésio com o atual governador do Maranhão rendeu ao prefeito afastado de Pinheiro não apenas a coordenação política na região, mas a nomeação de sua irmã, Lucyana Genésio, ao cargo de secretária adjunta de Desenvolvimento Sustentável da Secretaria de Meio Ambiente do Maranhão (SEMA). Até o fechamento desta matéria, a página da SEMA na internet estava fora do ar. De acordo com a imprensa local, Lucyana estaria utilizando a estrutura do governo do Maranhão para alavancar sua candidatura a deputada estadual.

Não obstante, o governador Flávio Dino já deveria ter se manifestado sobre a operação da PF, pois Luciano Genésio foi eleito vice-presidente da Federação dos Municípios do Estado do Maranhão (FAMEM), para o biênio 2021-2022, na chapa Sálvio Dino (Sálvio Dino Jesus de Castro e Costa), já falecido e pai do chefe do Executivo maranhense e do competente procurador da República Nicolao Dino.

 
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André Fufuca

Ligado a Luciano Genésio, o deputado federal André Fufuca, que assumiu a presidência nacional do Progressistas após a ida do senador Ciro Nogueira (PI) para a Casa Civil da Presidência, até o momento não se manifestou publicamente sobre a Operação Irmandade. Alguma palavra de Fufuca era esperada pelos maranhenses, já que o afastado prefeito de Pinheiro é filiado ao Progressistas.

Em julho de 2021, quando Ciro Nogueira assumiu cargo no Palácio do Planalto, Fufuca afirmou nas redes sociais: “Com muita honra e humildade, aceitei a missão de conduzir o nosso partido durante o período em que o presidente Ciro Nogueira assume a Chefia da Casa Civil do Governo Federal”.

“Nunca fugi de trabalho e nem de responsabilidade, sempre dei o meu melhor pelo povo do meu Estado. Agora pretendo servir com honra e dignidade o meu país. O Progressistas hoje é o terceiro maior partido do Brasil. Agradeço a confiança do nosso Presidente Nacional Ciro Nogueira e dos demais membros que me outorgaram tão nobre missão. Contem comigo”, completou

Em setembro de 2021, Fufuca e Genésio se reuniram para discutir demandas da Prefeitura de Pinheiro. Na pauta do encontro, assuntos relacionados ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e às ações de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino (MDE), além de temas pertinentes à área da saúde.

“Estamos trabalhando juntos para trazer mais recursos para nossa cidade. O deputado Fufuca é um amigo e grande parceiro que sempre contribuiu conosco. Hoje conversamos sobre assuntos importantes ligados à educação, saúde e desenvolvimento para nossa Pinheiro”, comentou Luciano Genésio à época.

Pois bem, se André Fufuca, como ele próprio frisou em sua conta no Instagram, “sempre deu o melhor pelo povo” do Maranhão, esperava-se do parlamentar ao menos uma declaração após a Operação Irmandade. Contudo, o presidente nacional do Progressistas, um dos pilares do Centrão, continua em silêncio.

Weverton Rocha

Outro político maranhense ligado a Luciano Genésio é o senador Weverton Rocha (PDT), que está de olho no Palácio dos Leões, sede do Executivo estadual. Weverton, segundo reportagem do site “Alerta Maranhão”, estaria trabalhando nos bastidores do Judiciário para tentar reverter o afastamento do prefeito de Pinheiro, determinado pelo TRF-1, que também autorizou a Operação Irmandade.

A posse da vice-prefeita Ana Paula Lobato no comando da Prefeitura de Pinheiro estava marcada para a última sexta-feira (14), mas uma manobra articulada por Genésio e o presidente da Câmara Municipal, vereador Elizeu de Tantan, acabou adiando para esta segunda-feira (17), quando esperava-se que uma liminar – no caso do Superior Tribunal de Justiça (STJ) – concedesse ao prefeito afastado o direito de voltar ao cargo, enquanto o mérito da ação não for analisado por alguma Turma da Corte. A posse de Ana Paula Lobato aconteceu às 17 horas desta segunda-feira.

Proibido de frequentar o Paço municipal e outros órgãos da prefeitura por determinação do TRF-1, Genésio contratou o escritório de advocacia do juiz federal aposentado José Carlos Madeira. Esta é a segunda vez que o escritório de Madeira defende Luciano Genésio em meio a atos polêmicos e nada republicanos. A primeira vez primeira foi em julho de 2021, quando o prefeito de Pinheiro foi alvo da Operação Estoque Zero, contra desvio de dinheiro público federal destinado ao enfrentamento da Covid-19.

Coincidência ou não, o ex-juiz José Carlos Madeira é apontado como coordenador do plano de governo do senador Weverton Rocha ao governo do Maranhão. Weverton, que é tido como o candidato do presidenciável pedetista Ciro Gomes (CE) ao Palácio dos Leões, transita com facilidade nos bastidores do governo do presidente Jair Bolsonaro. Aliás, o filho “01” do presidente da República, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), tem boa relação com Weverton, com quem desfrutou momentos de lazer em locais paradisíacos do Maranhão. Em suma, Weverton é candidato de um crítico feroz de Bolsonaro, mas não esconde sua inegável simpatia pelo bolsonarismo e seus caciques.

Por meio do aplicativo de mensagens WhatsApp, o UCHO.INFO entrou em contato com o secretário de Comunicação Social do Governo do Maranhão, Ricardo Capelli, o senador Weverton Rocha e o deputado federal André Fufuca, mas até a publicação desta matéria, às 20 horas, não obtivemos retorno de nenhum dos contatados. Este portal de notícias está à disposição para publicar a as opiniões do governador Flávio Dino, Weverton e Fufuca a respeito do escândalo.

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