No Dia Internacional da Educação, defendo mais uma vez a democratização do ensino de qualidade no Brasil

 
(*) Waldir Maranhão

Tenho insistido em artigos anteriores na educação como ferramenta de transformação da sociedade. Hoje, 24 de janeiro, Dia Internacional da Educação, não posse me furtar de voltar ao tema.

Não podemos fechar os olhos para o grave cenário educacional, pois qualquer pretensão de mudança passa obrigatoriamente por melhorias na educação brasileira em todos os níveis.

Refiro-me principalmente ao ensino público, onde 80% dos alunos do ensino médio buscam uma luz no fim do túnel. É de se lamentar que essa luz esteja se distanciando cada vez mais de quem realmente precisa.

Muito tem se falado sobre as próximas eleições, pré-candidatos têm se apresentado ao eleitorado com propostas pouco convincentes, como sempre acontece. Nenhum dos que pretendem chegar ao Palácio do Planalto ousou falar em educação.

Se até então a educação estava abandonada no campo da realidade, agora o abandono alcançou os discursos de campanha. Isso significa que o brasileiro não pode se calar diante de candidatos que ignoram a tragédia que se abate sobre a educação.

Para que ninguém ouse questionar o que ora afirmo, recorro a dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2019, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), 11 milhões de brasileiros acima de 15 anos são analfabetos e 52% da população acima de 25 anos não concluiu o ensino básico, etapa que termina no último ano do ensino médio.

Entre a população de 15 a 29 anos, 14,2% estavam ocupadas e estudando em 2019; 22,1% não estavam ocupadas nem estudando; 28,1% não estavam ocupadas, porém estudavam; e 35,6% estavam ocupadas e não estudando.

A pandemia do coronavírus levou a educação brasileira aos subterrâneos. Volto a ressaltar que não faço referência ao ensino privado, que também tem suas mazelas, mas à educação pública, que sofreu e sofrerá duramente com os efeitos da mais grave crise sanitária dos últimos cem anos.

Levantamento do UNICEF, divulgado hoje (24/01), aponta que 10% dos alunos que abandonaram os estudos durante a pandemia não pretendem voltar à escola. Nesse período pandêmico, que ainda não terminou, houve significativo recuo na aprendizagem de matemática e língua portuguesa. Traduzindo, o que já era ruim ficou pior.

Defender a melhoria da educação no Brasil significa muito mais do que incrementar o aprendizado. É garantir a cidadania, proporcionar postos de trabalho melhores, incentivar a economia, ter como enfrentar as questões ligadas à segurança pública, minimizar a disparidade social, evitar problemas de saúde, garantir a oportunidade a todos, ou seja, exercer a democracia em sua plenitude.

A polarização política que vivemos nos dias de hoje é preocupante e não aponta para uma solução de curto prazo. Aliás, o Brasil não pode ser pensado em quatro anos, talvez oito. É necessário pensar o Brasil para frente, para daqui quarenta, cinquenta anos. Temos o dever de preparar o país para as próximas gerações.

Diante do cabo de guerra que se instalou no campo ideológico, contrapondo direita e esquerda, muitos eleitores, formadores de opinião, têm se posicionado contra o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula. Dizem não querer nem um nem outro na Presidência.

Com esse posicionamento, ganha sobrevida a chamada “candidatura de terceira via”, que por enquanto não conseguiu definir um nome de consenso e que seja palatável ao eleitor.

O que tenho visto é uma enxurrada de ataques recíprocos, sem que os pré-candidatos tenham apresentado qualquer proposta consistente, principalmente para a educação. Na verdade, nenhum candidato ousou falar sobre educação, como mencionei acima.

Apesar de sua artilharia verbal, sempre carregada de rancor e destempero, Ciro Gomes ainda sobrevive como possível candidato graças aos que se arrependeram de votar em Bolsonaro e aos que rejeitam Lula.

Que ninguém pense ser o pedetista Ciro Gomes a tabua de salvação que o Brasil tanto busca. O PDT dos tempos de Brizola e Darcy Ribeiro há muito deixou de existir.

O professor Darcy Ribeiro, que tanta falta faz e deixou um legado extraordinário, propôs uma revolução educacional com base na democratização do ensino de qualidade. Seu projeto ganhou corpo e forma no Rio de Janeiro, com Leonel Brizola, a partir dos Centros Integrados de Educação Pública (Cieps).

Não se deve descartar qualquer projeto que tem como meta a universalização do ensino de qualidade. Isso é obrigação de qualquer homem público que arrisca falar em democracia. É importante garantir a cada jovem brasileiro a chance de encontrar a luz no fim do túnel.

Disse o saudoso Darcy Ribeiro: “O Brasil, último país a acabar com a escravidão tem uma perversidade intrínseca na sua herança, que torna a nossa classe dominante enferma de desigualdade, de descaso.”

(*) Waldir Maranhão – Médico veterinário e ex-reitor da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), onde lecionou durante anos, foi deputado federal, 1º vice-presidente e presidente da Câmara dos Deputados.

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