O plano russo de invadir a Ucrânia e a dura realidade do Maranhão

 
(*) Waldir Maranhão

Muito tem se falado sobre a tensão que toma conta do cenário internacional por causa de iminente invasão da Ucrânia por tropas militares russas.

O noticiário tem dado destaque ao tema, principalmente porque, a se consumar o plano do presidente Vladimir Putin, não se deve descartar um perigoso conflito bélico na região, já que os Estados Unidos e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) estão prontos para uma reação.

Com participação menor no cenário das grandes potências, Putin está incomodado com a proximidade da Ucrânia com a União Europeia, que tenta ganhar relevância geopolítica com o episódio.

Putin, que precisa esticar a corda ao máximo para desviar os olhares ora focados na crise econômica do seu país, entende que com o desmonte da União Soviética, em dezembro de 1991, a Ucrânia ficou com parte do território pertencente à Rússia.

Esse entendimento explica a tomada da Crimeia em 2014 por tropas russas. Vladimir Putin alegou na ocasião, e continua mantendo o discurso, que a Península da Crimeia é estratégica para a Rússia.

Na verdade, Putin, um ditador inegável, tenta criar uma cortina de fumaça para esconder os muitos problemas existentes no país. Além disso, uma eventual invasão da Ucrânia levaria o Kremlin a considerar novos avanços sobre os territórios de antigas repúblicas soviéticas, sempre sob a mesma alegação.

Para não ficar de fora do protagonismo internacional, Putin conquistou um aliado importante nessa queda de braços com o Ocidente: a China. O governo de Pequim, que se equilibra sobre a ideologia comunista e o capitalismo selvagem, olha muito além do conflito entre os russos e o Ocidente. Quer desestabilizar os Estados Unidos no campo internacional.

Caso a invasão da Ucrânia aconteça de fato, como pretende Putin, surgirá no horizonte um caminho para nações nada democráticas invadirem outros territórios, como é o caso que contrapõe China e Taiwan.

Enquanto mantém um regime “linha dura”, a China há muito conquista comercialmente outras regiões do planeta. A presença chinesa na África é inegável e tende a crescer nos próximos anos. Isso também ocorre em alguns países da Europa, que em meio a crises acabaram se rendendo ao capital chinês.

Pequim, que duela constantemente com Washington, quer que os Estados Unidos atendam às reivindicações do mandatário russo. Até o momento, as negociações diplomáticas em torno do tema fracassaram, produzindo reflexos na economia global.

Se por um lado o preço do petróleo preocupa, por outro a dependência europeia em relação ao gás natural russo é uma realidade. Por isso a Alemanha, cuja indústria é dependente do gás fornecido pela Rússia, trabalha para solucionar o conflito. Em outras palavras, Moscou tem o gás como trunfo, mas também depende dos recursos que gera.

Muitos perguntarão quais os reflexos da crise internacional, que pode terminar em guerra, no Brasil e no meu estado, o Maranhão.

Sem que ao menos um pavio tenha sido aceso até o momento, a economia do planeta já sente os efeitos da crise. O preço do barril de petróleo aumentou, provocando efeito cascata na economia de muitos países. E no Brasil esses efeitos já são sentidos.

Com a disparada do preço do petróleo, que impacta na gasolina e no diesel, o custo do transporte de mercadorias fica mais caro. Considerando que o Brasil é um país com dimensões continentais e dependente do transporte rodoviário, o encarecimento dos produtos é questão de tempo. Sem contar o reflexo da crise internacional na inflação.

No Maranhão, considerado um dos mais pobres estados brasileiros, a fome, a miséria e a disparidade social são persistentes, sem que até agora os presidenciáveis tenham tratado do assunto em seus discursos de pré-campanha. Por outro lado, o mantra do atual governo – “menos Brasília, mais Brasil” – continua no campo da retórica.

A crise internacional que surge a partir da Ucrânia tem provocado efeitos danosos por toda parte, inclusive no Maranhão, que precisa buscar solução utilizando os próprios recursos naturais.

Longe de ser um estado eminentemente urbano, o Maranhão tem grandes áreas agriculturáveis, ou seja, é capaz de produzir alimentos para matar a fome do nosso povo e também para além de nossas fronteiras.

É inaceitável fechar os olhos para uma dura realidade, que sabota a dignidade dos maranhenses, sabendo que a solução está em nosso próprio estado. Bastam planejamento, visão estratégica e vontade política.

O Maranhão, além das terras prontas para a agricultura, é dotado de portos de grande calado, os quais permitem a exportação da própria produção e de outros estados. Temos condições de produzir alimentos e também de exportá-los.

Os políticos do Maranhão precisam descer dos palanques e inteirar-se da tragédia que se abate sobre a população. É necessário abrir os olhos para a realidade que nos cerca, seja daqui ou de fora.

Torço para que o conflito envolvendo a Ucrânia se resolva com diálogo, mas não posso aceitar o marasmo de sempre. Como disse o imperador romano Júlio César, às margens do Rio Rubicão, “a sorte está lançada”.

(*) Waldir Maranhão – Médico veterinário e ex-reitor da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), onde lecionou durante anos, foi deputado federal, 1º vice-presidente e presidente da Câmara dos Deputados.

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