Um relatório interno do governo britânico apelidado de “Partygate”, divulgado nesta segunda-feira (31), informa que as festas promovidas pelo primeiro-ministro, Boris Johnson, e membros de seu gabinete durante bloqueios impostos pela pandemia de Covid-19 representaram uma “grave falha”.
Os eventos vieram à tona a partir de dezembro de 2021, desgastando a imagem de Johnson, que vem sendo pressionado a renunciar inclusive por membros do próprio Partido Conservador. Nesta segunda-feira, ele se desculpou no Parlamento.
A responsável pelo relatório, Sue Gray, concluiu que houve “falhas de liderança e julgamento” por parte do governo e “alguns dos eventos não deveriam ter ocorrido”.
Após a divulgação do relatório, a polícia britânica confirmou que está investigando 12 festas realizadas em oito datas ao longo de 2020 e 2021, por potencialmente terem violado bloqueios impostos pelo próprio governo britânico para conter o novo coronavírus.
Críticas no relatório
Como a investigação policial ainda está em andamento, o relatório interno não especifica que regulamentos foram violados. No entanto, Gray fez algumas observações duras e críticas no documento de 12 páginas.
“Houve falhas de liderança e discernimento por diferentes elementos do número 10 [da Downing Street, em Londres, gabinete do primeiro-ministro] e do Gabinete [governo] em momentos diferentes. No contexto da pandemia, quando o governo pedia aos cidadãos que aceitassem restrições profundas nas suas vidas, alguns dos comportamentos […] são difíceis de justificar.”
“Alguns dos eventos não deveriam ter sido permitidos. Outros eventos não deveriam ter sido autorizados a ocorrer como ocorreram”, censura o texto, ressaltando também “o consumo excessivo de álcool” naquele que é um local de trabalho.
Segundo o relatório, “pelo menos algumas das reuniões em causa representam uma falha grave em cumprir não apenas os altos padrões esperados daqueles que trabalham no núcleo do governo, mas também os padrões esperados de toda a população britânica na época”.
Pedido de desculpas
Falando ao Parlamento na tarde desta segunda-feira, Johnson pediu desculpas; “Lamento pelas coisas que simplesmente não acertamos e pela forma como este assunto foi tratado. Não adianta dizer isso ou aquilo, estava nas regras.
“Este é um momento em que devemos nos olhar no espelho e aprender. Eu percebo [o problema] e vou corrigi-lo”, prometeu. Apesar de reivindicações veementes, Johnson se recusa a renunciar. É necessário que 54 deputados entreguem “cartas de desconfiança” para ativar uma moção de censura interna.
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O fato de o relatório interno omitir menções a possíveis crimes foi visto por alguns como uma oportunidade para o premiê conservador de 57 anos “respirar”.
A vice-líder do Partido Trabalhista, de oposição, Angela Rayner, escreveu no Twitter, antes da publicação do documento, que o povo nas ruas sabe que Johnson quebrou as regras: “Ele fez as regras, ele quebrou as regras, ele é inapto para o cargo.”
Investigação policial
A investigação policial sobre os 12 incidentes potencialmente criminais teve início após inúmeras alegações e queixas de que a polícia se recusara a analisar os casos anteriormente.
Entre os eventos sob investigação da polícia estão um nos alojamentos privados de Johnson, em 13 de novembro de 2020, quando o assessor Dominic Cummings se demitiu; uma festa de aniversário de Johnson em junho de 2020; e dois encontros na véspera do funeral do príncipe Philip, marido da rainha Elizabeth 2ª, quando o Reino Unido estava em luto oficial.
A polícia recebeu para análise mais de 300 imagens e 500 páginas de informações. Interrogatórios ainda estão em andamento.
“Se, após uma investigação, os agentes acreditarem que é apropriado, porque os regulamentos da Covid foram violados sem uma justificação razoável, será emitida uma multa. Uma vez que a multa seja paga, o assunto é considerado encerrado”, declarou a polícia.
O “Partygate” causou uma onda de indignação entre os britânicos, impedidos de se encontrarem com amigos e familiares durante meses em 2020 e 2021 para conter a propagação da Covid-19. Dezenas de milhares de cidadãos foram multados pela polícia por desrespeitarem as regras.
Sondagens recentes mostram uma queda na popularidade de Johnson, eleito em 2019 com uma maioria absoluta histórica graças à promessa de concretizar o Brexit. (Com agências internacionais)
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