Ex-ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência da República, o general da reserva Carlos Alberto Santos Cruz, que deixou o Palácio do Planalto na esteira do discurso de ódio orquestrado pelo clã presidencial, disse em entrevista à revista IstoÉ que Jair Bolsonaro “sempre foi um covarde”.
Essa covardia ficou latente na segunda-feira (31), quando o presidente afirmou que coube ao Advogado-geral da União, Bruno Bianco Leal, a decisão de faltar ao depoimento na Polícia Federal, em Brasília, no âmbito do inquérito que apura vazamento de dados sigilosos sobre ataque ao sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2018.
Na verdade, Bolsonaro usou a determinação do ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, para provocar o STF e abrir nova frente de conflito em ano eleitoral. É importante ressaltar que nas comemorações do Sete de Setembro, no ano passado, o presidente afirmou, na Avenida Paulista, em São Paulo, que não mais cumpriria ordens de Moraes, a quem chamou de “canalha”.
Nesta terça-feira (1), na abertura dos trabalhos do Judiciário, que sempre conta com a presença do chefe do Executivo, Bolsonaro decidiu não comparecer porque, como disse o general Santos Cruz, é “covarde”.
Durante a cerimônia virtual, em razão do recrudescimento da pandemia de Covid-19, o presidente do STF, ministro Luiz Fux, mandou duro recado ao Palácio do Planalto ao dizer que espera um ano eleitoral com “estabilidade e tolerância”.
“Este Supremo Tribunal Federal, guardião da Constituição, concita os brasileiros para que o ano eleitoral seja marcado pela estabilidade e pela tolerância, porquanto não há mais espaços para ações contra o regime democrático e para violência contra as instituições públicas”, afirmou Fux.
O presidente da Corte ressaltou que, apesar de a política “despertar paixões”, deve ser vista pela sociedade como “ciência do bom governo”. “A política e as eleições despertam paixões acerca de candidatos, de ideologias e de partidos. Embora esses sejam sentimentos legítimos, a política também deve ser visualizada pelos cidadãos como a ciência do bom governo”, declarou.
O ministro insistiu que a democracia não deve se pautar pelo “nós contra eles”. “Não obstante os dissensos da arena política, a democracia não comporta disputas baseadas no ‘nós contra eles!’ Em verdade, todos os concidadãos brasileiros devem buscar o bem-estar da nação, imbuídos de espírito cívico e de valores republicanos”, completou Fux.
O magistrado defendeu o Estado de Direito e a liberdade de imprensa em seu discurso: “Vivemos um Brasil democrático, um Estado de Direito, no qual podemos expressar nossas divergências livremente, sem medo de censuras ou retaliações […] Nesse cenário, o império da lei, a higidez do texto constitucional brasileiro e a liberdade de imprensa reclamam estar acima de qualquer que seja o resultado das eleições”.
O presidente do STF tem o direito de flertar com o impossível, mas não pode ignorar a disposição de Bolsonaro para acirrar os ânimos políticos como forma de evitar o desmoronamento de um projeto de reeleição.
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