Após temporal, devastação e mortes, “Petrópolis parece uma zona de guerra”

 
O temporal que caiu na cidade de Petrópolis, na região serrana fluminense, na última terça-feira deixou até o momento ao menos 117 mortos, segundo informações divulgadas pela Defesa Civil estadual. A Polícia Civil está trabalhando para agilizar o reconhecimento e a liberação de corpos.

Os bombeiros entraram no terceiro dia de buscas, já que ainda há desaparecidos. Os trabalhos de resgate resultaram no salvamento de 24 pessoas até a noite desta quarta-feira. De acordo com a Polícia Civil, até o início da manhã desta quinta havia mais de 130 desaparecidos.

Mais de 20 pontos de deslizamento foram registrados em toda a cidade. Apenas no Morro da Oficina, no Alto da Serra, um dos locais mais atingidos, dezenas de casas foram soterradas. Há ainda casos de pessoas que foram levadas pelas cheias nas ruas.

Ao menos 54 casas foram destruídas pela tempestade, e mais de 430 pessoas foram levadas para abrigos improvisados. Em torno de 400 bombeiros e 200 policiais civis participam dos resgates em Petrópolis, incluindo peritos legistas e criminais, auxiliares de necropsia, papiloscopistas e técnicos de várias delegacias da região.

“Pior chuva desde 1932”

Em visita a Petrópolis, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, afirmou que essa foi a pior chuva da região desde 1932. “Foi a pior chuva desde 1932. Realmente, foram 240 milímetros em coisa de duas horas. Foi uma chuva altamente extraordinária”, disse.

Outros desastres causados por chuvas já ocorreram na serra fluminense. Em 1988, foram 134 mortos em Petrópolis. Em 2011, 918 pessoas morreram e outras dezenas desapareceram na região serrana, principalmente em Nova Friburgo e Teresópolis.

Castro afirmou que a cidade serrana vive “cenas de guerra”. “As imagens são muito fortes e, provavelmente, vamos amanhecer com imagens tão ou mais fortes. É realmente uma tragédia grande. Cenas de guerra! Carros pendurados em postes! O que nós vimos é uma cena muito triste, cena praticamente de guerra”, comparou, em

“É desesperador”

“Todo mundo está dizendo que parece uma zona de guerra”, disse Wendel Pio Lourenço, morador de Petrópolis de 24 anos, enquanto caminhava na rua carregando uma televisão, indo para buscar abrigo numa igreja.

À agência de notícias AFP, ele afirmou que estava tentando salvar alguns poucos pertences, depois de passar a madrugada ajudando nas buscas por desaparecidos. “Encontrei uma garota que foi enterrada viva”, contou.

Imagens postadas nas redes sociais mostram casas destruídas e carros e árvores sendo arrastados pela correnteza.

 
“Eu só conseguia ouvir meu irmão gritando, ‘socorro! socorro! meu Deus!”’, recorda Rosilene Virginia, citada pela agência de notícias Associated Press. “É muito triste ver pessoas pedindo ajuda e não ter como ajudar, não ter como fazer nada. É desesperador, um sentimento de perda tão grande.”

“É devastador. Nunca poderíamos ter imaginado algo assim”, diz outra moradora desabrigada, Elisabeth Lourenço, segurando duas sacolas contendo algumas roupas que ela conseguiu levar depois que as autoridades ordenaram que todos na vizinhança deixassem suas casas.

“Quando a chuva estava mais forte, uma grande quantidade de lama desceu pela encosta, e alguns galhos de árvores caíram na minha casa”, diz a manicure de 32 anos, à beira das lágrimas.

“Eu estava jantando quando a tempestade começou. Meu irmão entrou e disse: ‘a gente tem que sair daqui, a encosta está desabando’“, diz Jeronimo Leonardo, de 47 anos, cuja casa fica no limite de uma área devastada pelo deslizamento de terra.

Refúgio em igreja

Moradores do bairro Alto da Serra foram levados para uma igreja que fica no topo de outro morro próximo. Da praça do lado de fora do pequeno prédio azul, eles podem ver a zona do desastre através da névoa. Dezenas de famílias lotam a igreja, carregando seus pertences em sacolas. Do lado de fora, voluntários descarregam um caminhão de água engarrafada, enquanto outros separam as roupas doadas.

“Posso pegar uns sapatos?” pergunta um menino descalço, com as roupas manchadas de lama. No interior do edifício, colchões cobrem o chão. “Começamos a receber as pessoas assim que a tragédia começou, na terça-feira à noite. Estamos abrigando cerca de 150 a 200 pessoas, incluindo muitas crianças”, diz o responsável pela paróquia, padre Celestino.

Yasmin Kennia Narciso, uma professora assistente de 26 anos, está sentada em um colchão amamentando seu bebê de nove meses. “Eu não dormi a noite toda”, diz.

Ela conta a história de como fugiu com as duas filhas por volta das 23h. “Tentamos sair mais cedo, mas tinha pedregulhos espalhados pelo caminho e tudo estava inundado. Estávamos com água até a cintura. Não tivemos escolha a não ser esperar até que a água baixasse”, explica.

Ela diz que ainda espera notícias sobre vários vizinhos. “Uma senhora mais velha e seus três netos que moravam logo acima de nós foram enterrados na lama.”

Os sobreviventes sabem que provavelmente enfrentarão uma longa espera para saber se e quando podem voltar para casa – para aqueles que ainda têm casa. (Com Deutsche Welle e agências de notícias) [Fotos: Silvia Izquierdo – Associated Press, Ricardo Moraes – Reuters)


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