Credit Suisse ajudou ditadores, traficantes, políticos, criminosos de guerra e espiões a esconder dinheiro

 
O gigante do setor bancário Credit Suisse abriu, por muitos anos, contas para autocratas, traficantes de drogas, suspeitos de crimes de guerra, espiões e traficantes de seres humanos, segundo um noticiou um consórcio global de veículos de imprensa neste domingo (20).

A investigação do “Suisse Secrets”, baseada em grande volume de dados vazados por um informante para o jornal alemão “Süddeutsche Zeitung” (SZ), revela os titulares de 100 bilhões de francos suíços (R$ 558 bilhões) mantidos no banco.

O “SZ”, as emissoras públicas alemãs NDR e WDR, o jornal britânico “The Guardian” e o “The New York Times” são algumas das mais de 40 organizações de mídia envolvidas na investigação, que integra o projeto “Organized Crime and Corruption Reporting Project” (OCCRP).

O que a investigação descobriu?

Os veículos de comunicação analisaram os dados vazados de 30 mil clientes do Credit Suisse em todo o planeta.

As contas haviam sido abertas em algum momento desde a década de 1940 até a década passada. Mais de dois terços delas haviam sido abertas depois de 2000, e muitas existem até hoje.

Entre os correntistas descobertos, estão um traficante de pessoas condenado nas Filipinas, um chefe da bolsa de Hong Kong preso por suborno e um bilionário egípcio que ordenou o assassinato de sua namorada, uma libanesa estrela do pop.

Outros clientes incluem numerosos chefes de estado e de governo, ministros e agentes de inteligência, bem como oligarcas e empresários de reputação duvidosa, segundo a apuração.

O “SZ” informou que um ex-gerente da Siemens condenado por suborno em 2008 estava vinculado a seis contas. Em 2006, uma das contas do ex-gerente da Siemens tinha ativos no valor de mais de 54 milhões de francos suíços (atualmente cerca de R$ 300 milhões), uma quantia que o jornal afirma que não pode ser resultado de seu salário na Siemens.

O vazamento também revelou contas secretas mantidas pelo rei Abdullah II da Jordânia, pelo ex-vice-primeiro-ministro do Iraque, Ayad Allawi; pelo autocrata argelino Abdelaziz Bouteflika e pelo ex-presidente armênio Armeniano Armen Sarkissian.

Sarkissian renunciou ao cargo de presidente em janeiro, pouco depois que o SZ o contatou para perguntar sobre suas contas no Credit Suisse. Ele disse que havia fechado todas as contas antes de ser obrigado a declarar seus bens.

Banco falhou na checagem de clientes suspeitos

O vazamento aponta uma falha generalizada de diligência por parte do Credit Suisse na avaliação e rejeição de clientes suspeitos e que lidam com fundos ilegais.

O “SZ” informou que os fraudadores poderiam ter aberto ou mantido contas mesmo “se o banco pudesse ter conhecimento há muito tempo que estava lidando com criminosos”.

 
Os repórteres falaram com vários ex-funcionários do banco, que descreveram uma “cultura corporativa altamente tóxica que incentivava a tomada de riscos para maximizar os lucros – e bônus”, escreveu o OCCRP em seu site.

Ex-funcionários disseram que isso levou a uma cultura que aplicava regras diferentes para dois tipos de clientes: os ricos e os extremamente ricos.

O informante, cujo nome permanece em sigilo para os veículos de imprensa, descreveu o sigilo bancário suíço como “imoral”.

“A alegação de proteger a privacidade financeira é apenas um disfarce para encobrir o vergonhoso papel dos bancos suíços como colaboradores dos evasores de impostos”, disse o informante.

Credit Suisse rebate acusações

O Credit Suisse negou veemente neste domingo as acusações, dizendo que a investigação é “baseada em informações incompletas, imprecisas ou seletivas retiradas do contexto, levando a interpretações tendenciosas da conduta comercial do banco”. O banco também disse que 90% das contas citadas já haviam sido fechadas.

Quanto às contas que permanecem ativas, o banco afirmou que “diligências apropriadas, revisões e outras medidas de controle foram tomadas de acordo com as nossas regras atuais”. O banco também alegou que a lei o impede de comentar sobre “potenciais relacionamentos com clientes”.

A Suíça tem sido há muito tempo um dos centros financeiros mais opacos do planeta. Contudo, o país tem procurado, nos últimos anos, se livrar da imagem de paraíso para a evasão fiscal, lavagem de dinheiro e desvio de verbas públicas.

Os bancos suíços agora trocam informações sobre os titulares de contas com vários países, mas não com algumas das nações mais pobres e mais corruptas.

A investigação descobriu que grande número de clientes nos dados do “Suisse Secrets” vem da Venezuela, Egito, Ucrânia e Tajiquistão.

O Credit Suisse esteve envolvido em dezenas de escândalos nas últimas duas décadas e pagou mais de US$ 10 bilhões (R$ 51 bilhões) em multas.

Neste mês, ele se tornou o primeiro grande banco suíço a enfrentar acusações criminais de que teria ajudado um cartel de drogas búlgaro a lavar dinheiro. O Credit Suisse nega a acusação.

Em janeiro, o banco perdeu o seu presidente, Antonio Horta-Osorio, após ele ter desrespeitado duas vezes regras sanitárias sobre a pandemia do novo coronavírus. (Com agências internacionais)

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