O apoio e o custo do apoio

(*) Carlos Brickmann

O presidente Bolsonaro disse a Putin que o Brasil era solidário à Rússia. O fato é que, até essa declaração, o Brasil não tinha diretamente nada a ver com o problema. Pois passou a ter: primeiro, por se colocar do lado oposto ao do Ocidente, e se transformar em possível alvo de sanções internacionais; e, ao dar apoio a um país que pretende decidir sozinho quais pedaços de outro país devem ser reconhecidos e militarmente garantidos como novas nações, abriu o flanco para que alguma potência, em nome, digamos, da “luta contra o aquecimento global”, ou em favor “do desenvolvimento sustentável”, apoie a transformação de áreas amazônicas em nações independentes.

Quem levanta essa hipótese é um bom conhecedor da Amazônia, o vice-presidente e general Hamilton Mourão Filho. Mourão propõe que o Brasil tome conta da Amazônia. Mas se uma superpotência nuclear como a Rússia, já instalada na Venezuela, fizer o que fez com a Ucrânia, teremos condições de resistir?

Isso, claro, é apenas uma hipótese de trabalho, um pesadelo. Mas vamos pagar custos altos pela intervenção russa na Ucrânia. Sem o gás natural da Rússia, a Europa tem de buscar combustíveis num mercado já em alta. Hoje, o petróleo está pertinho de US$ 100 o barril. A menos que a Arábia Saudita queira aumentar brutalmente a produção, diesel e gasolina vão subir ainda mais. Sob sanções internacionais, é mais difícil para a Rússia vender-nos os fertilizantes de que necessitamos, mesmo a preços bem mais elevados.

Volta ao mundo

Em linguagem simples, o presidente Bolsonaro viajou muitos milhares de quilômetros para pisar numa casca de banana da política internacional. É bem provável que alguns bons frutos essa viagem tenha rendido, em especial na construção do submarino nuclear brasileiro e na implantação de pequenas centrais atômicas para geração de energia elétrica. Mas a questão da Ucrânia merecia receber respostas que não comprometessem o Brasil. Aí sobrariam só os bons frutos eventualmente colhidos, sem que a crise viesse junto.

Quem ganha

À primeira vista, o dirigente russo Vladimir Putin sai na frente, embora a um alto custo financeiro. Mobilizar mais de cem mil soldados equipados não é barato. Mas, por enquanto, não apenas atingiu seus objetivos como também demonstrou que o Ocidente não estava preparado para o desafio. Talvez seja uma conclusão apressada, talvez a pressão ocidental seja suficiente para, no mínimo, frear os russos. Em parte, isso depende da capacidade financeira de Moscou. A Rússia tem hoje, como principais produtos de exportação, o gás e o petróleo. Se essa atividade for paralisada, devido às pressões ocidentais, por quanto tempo os russos conseguirão manter a vantagem?

Mas há outra pergunta: por quanto tempo a Europa conseguirá pagar preços mais altos por seu petróleo, considerando-se que até a produção de energia sai da queima de combustíveis fósseis? Até onde o Ocidente irá para defender a Ucrânia?

Calma no Brasil

Lula vai indo bem nas pesquisas, Bolsonaro subiu um tiquinho, dentro da margem de erro, Moro é um candidato nanico que pensou que era grandão. Se a eleição fosse hoje, Lula ganharia. Só que a eleição não é hoje. E até o Bolsonaro, rejeitadíssimo, que muitos já viam fora do segundo turno, ainda está de pé. Com todos os problemas que enfrenta – não conseguiu manter a seu lado nem a dupla Weintraub & Irmão – continua na disputa. Bolsonaro tem a seu dispor aquele grupo que o chama de Mito e acredita nisso; está no poder; tem possibilidades de distribuir benesses (e a habilidade de, ao negar benesses, botar a culpa em outros); e não se acanha diante de situações que constrangeriam uma pessoa normal, como proclamar que evitou a Terceira Guerra Mundial.

Bolsonaro tem ainda um trunfo valioso, se conseguir passar ao segundo turno: pode herdar boa parte dos votos de quem não tolera Lula.

Lula, ótimo na prática da política, já percebeu esse risco. Por isso articula tanto para conquistar a vitória no primeiro turno.

Aos pedaços

Quanto aos candidatos da Terceira Via, parece que esqueceram um ponto fundamental: não adianta conquistar os votos dos adversários no segundo turno se não tiverem chegado ao segundo turno. Até agora, falta coordenar os partidos que se opõem tanto a Lula quanto a Bolsonaro para que coloquem nomes que tenham condições de superar um dos dois favoritos. Nesse caso, não apenas terão chances, como chances boas: herdarão os votos de quem não aguenta nem ouvir falar do nome de seu adversário.

Hoje, os terceiras-vias, somados, atingem pouco mais da metade dos que prometem votar em Bolsonaro.

Aécio na berlinda

O Ministério Público Federal insiste em pedir a condenação de Aécio Neves (PSDB) por corrupção passiva. Aécio é acusado de, em 2017, ter recebido R$ 2 milhões de Joesley Batista, da JBS.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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