Bolsonaro afirma que Queiroga, o sabujo de plantão, pode mudar status da Covid-19 para “endemia”

 
O presidente Jair Bolsonaro continua cultivando seu negacionismo torpe em relação à pandemia de Covid-19, mas já não se manifesta publicamente contra a vacinação e as medidas de proteção. Esse recuo no campo da pandemia é fruto do aconselhamento de alguns assessores palacianos, em especial os que integram o sempre famigerado Centrão.

Para continuar ao lado de Bolsonaro na campanha pela reeleição, o Centrão exigiu que cessassem os ataques à vacinação infantil contra Covid-19, investida que contou com ameaças das mais diversas a diretores e técnicos da Anvisa e a especialistas defensores da imunização de crianças de 5 a 11 anos.

No afã de amenizar os efeitos colaterais da desastrada declaração de solidariedade ao russo Vladimir Putin, responsável por uma tragédia humanitária na Ucrânia, Bolsonaro voltou são tema Covid-19, enquanto tenta conversar com líderes globais.

Nesta quinta-feira (3), o presidente da República afirmou que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, pode rebaixar o status da Covid-19, de pandemia para endemia. A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica como pandemia a maior crise sanitária dos últimos cem anos.

Endemia é o status de doenças recorrentes que se manifestam com frequência em determinada região, mas para a qual a população e os serviços de saúde já estão preparados.

 
Se a mudança de status da Covid-19 realmente acontecer, como anunciou o presidente, a doença provocada pelo coronavírus deixará de ser vista como emergência de saúde e muitas das restrições, como a proibição de aglomerações e a exigência do passaporte vacinal, deixarão de ser aplicadas.

“Em virtude da melhora do cenário epidemiológico e de acordo com o § 2° do Art. 1° da Lei 13.979/2020, o Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, estuda rebaixar para ENDEMIA a atual situação da COVID-19 no Brasil”, informou Bolsonaro em uma rede social.

A mudança de status sugerida pelo chefe do Executivo é precipitada, pois o vírus SARS-CoV-2 tem apresentado mutações desde o registro do primeiro caso, na cidade chinesa de Wuhan.

Em que pese o efeito da vacinação na redução do número de casos da doença, a imunização contra Covid-19 não significa que uma pessoa não pode ser contaminada. Há no País centenas de casos de pessoas que tomaram as três doses da vacina e foram infectadas, sendo que muitas foram a óbito.

Ademais, a proteção gerada pelas vacinas reduz com o tempo, ou seja, faz com que a pessoa fique vulnerável ao novo coronavírus. Considerando que no Brasil a maioria da população acredita que a pandemia chegou ao seu final, não será surpresa se o número de casos de internação hospitalar aumentar nos próximos dias. Isso porque as aglomerações no período de Carnaval criaram um ambiente propício para a disseminação do vírus.

 
Na última semana, quando o País registrava média móvel de 800 mortes diárias pelo coronavírus, Marcelo Queiroga disse que a vacinação contribui para acabar com o “caráter pandêmico da Covid-19”, ressaltando que o governo avalia dados epidemiológicos para rebaixar a classificação da doença para “endemia”.

Na verdade, trata-se de irresponsabilidade de um governo que agiu na contramão da ciência durante parte da pandemia, Além disso, não se pode esquecer que Bolsonaro disse, logo no início da crise sanitária, que no Brasil morreriam no máximo 800 pessoas por Covid-19, mas já são mais de 650 mil vidas que tombaram diante do novo coronavírus.

A lei mencionada pelo presidente da República em rede social estabelece que um ato do ministro da Saúde “disporá sobre a duração da situação de emergência de saúde pública” provocada pela Covid-19.

A referida também determina que o ato do ministro tratará sobre as condições e os prazos aplicáveis às medidas de prevenção previstas na própria lei, como isolamento, quarentena, realização compulsória de exames médicos, testes laboratoriais, coleta de amostras clínicas, vacinação e outras medidas profiláticas, tratamentos médicos específicos.

Não se pode esquecer que milhões de brasileiros que contraíram o coronavírus lutam diuturnamente contra as sequelas da doença, a chamada “Covid longa”, que pode durar até mais de um ano. Para isso, o sistema de saúde pública precisa correr contra o tempo para atender essas pessoas.

Não pode ser considerado sério um país cujo presidente impõe sigilo de cem anos no escopo da própria carteira de vacinação e classifica como “coleira” o passaporte vacinal. Em outras palavras, o negacionismo criminoso de Bolsonaro continua circulando nos subterrâneos do poder.

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