(*) Waldir Maranhão
“A história da mulher é a história da pior tirania que o mundo conheceu: a tirania do mais fraco sobre o mais forte”. (Oscar Wilde)
Nascida na Alemanha em 1857, Clara Josephine Zektin morreu na Rússia e seu corpo foi enterrado na Necrópole da Muralha do Kremlin, em Moscou.
Zektin foi quem sugeriu, em 1910, durante a Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, em Copenhague, a criação do Dia Internacional da Mulher. No encontro estavam presentes 100 mulheres, de 17 países, e por unanimidade concordaram com a sugestão.
A data foi celebrada pela primeira vez em 1911, na Áustria, Dinamarca, Alemanha e Suíça, mas a oficialização do Dia Internacional das Mulheres aconteceu em 1977, por ocasião do reconhecimento pela ONU.
Em 1911, um incêndio na fábrica de roupas Triangle Shirtwaist, em Nova York, mostrou as degradantes condições de trabalho enfrentadas pelas mulheres. A globalização da data se deu em 1917, por ocasião da marcha das mulheres russas por paz e pão.
No Brasil, por infelicidade, a maioria só reflete sobre a importância da mulher na sociedade porque o calendário obriga a isso. A importância das mulheres no cotidiano do País transcende uma data específica e deve ser considerada diuturnamente.
Com a questão de gênero marcando o nosso cotidiano de forma insistente, o Brasil precisa mudar o cenário que impõe silencioso processo de exclusão às mulheres. De nada adiante fazer leis aqui e acolá para que espaços sejam abertos às mulheres, se a sociedade não mudar a forma de pensar, se a isonomia de tratamento não for implantada no país.
Reconheço que algumas leis proporcionaram o alargamento dos direitos e garantias no universo feminino, como a Lei Maria da Penha, mas não podemos nos ater apenas a essas poucas conquistas. É preciso muito mais.
A fixação de cotas para mulheres nas eleições é um exemplo da necessidade de se mudar a forma de pensar e agir. O cumprimento de cotas foi adotado pelos partidos políticos por força da lei, mas na prática a realidade é outra.
Para se ter ideia da dificuldade que representa quebrar a hegemonia masculina no mundo político, o Grupo Voto promove nesta semana um debate para fomentar a participação da mulher na política brasileira.
Muito estranhamente, todos os debatedores são homens: Jair Bolsonaro, Paulo Guedes (ministro da Economia), Arthur Lira (Presidente da Câmara dos Deputados), Tarcísio Gomes de Freitas (ministro da Infraestrutura) e Rodrigo Garcia (vice-governador de São Paulo).
Alguém pode alegar que estamos diante de um ato falho – ou lapso freudiano –, mas um evento criado para fomentar a participação feminina na política deveria ter cinco mulheres como debatedoras. Fica patente que a preservação da política como universo masculino é o objetivo do evento, sem contar que os debatedores em questão, exceto Paulo Guedes, concorrerão a algum cargo eletivo nas próximas eleições.
Mas saio do mundo da política para exaltar as mulheres do Brasil, imprescindíveis no dia a dia do país. Não posso deixar de exaltar as mulheres pobres, abandonadas pelo Estado, que com bravura enfrentam os reveses da vida.
As mulheres indígenas, que lutam de forma incansável para manter os direitos dos descendentes dos primeiros habitantes da antiga Pindorama. As mulheres quilombolas, que não arredam o pé dos respectivos territórios e desafiam o poder público em defesa de seu povo. É preciso apurar o olhar para essas mulheres que ganharam destaca em defesa da população indígena e dos quilombolas.
Mas um cenário preocupante que foge ao olhar dos brasileiros. As mulheres que estão encarceradas nos presídios femininos espalhados Brasil afora. Nos dias atuais, aproximadamente 40 mil mulheres encontram-se em estabelecimentos prisionais espalhados por todo o país.
As razões para o encarceramento de mulheres são os mais diversos, mas é preciso olhar mais atento a esse universo. Todos temos o dever de evitar que isso ocorra, pois a ausência de uma mulher no seio familiar abre caminho para a desestruturação da sociedade. O Brasil tem o quarto maior contingente de mulheres presas do planeta. É preciso resgatar as mulheres do cárcere
Para finalizar, deixo o meu repúdio à fala misógina e sexista do deputado estadual Arthur do Val, do Podemos de São Paulo, que em áudio compartilhado em grupo do WhatsApp afirmou que as mulheres ucranianas “são fáceis porque são pobres”.
Como disse o escritor irlandês Oscar Wilde (1854-1900), “A história da mulher é a história da pior tirania que o mundo conheceu: a tirania do mais fraco sobre o mais forte”.
Esse cenário precisa mudar por única razão. E aqui recorro a frase certeira da terapeuta holística Efu Nyaki: “Metade do mundo são mulheres. A outra metade, os filhos delas.”
(*) Waldir Maranhão – Médico veterinário e ex-reitor da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), onde lecionou durante anos, foi deputado federal, 1º vice-presidente e presidente da Câmara dos Deputados.
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