Eleições após eleições, o Brasil continua no caminho que leva ao retrocesso, ao desmando, à hipocrisia, ao deboche institucionalizado, ao abandono, ao que há de pior. Talvez isso ocorra porque o brasileiro não se interessa por política. O cidadão insiste em acreditar que basta comparecer diante da urna eleitoral a cada dois anos, com o direito de pagar multa irrisória caso não apareça para votar.
Há quem defenda o voto facultativo, mas o Brasil é uma democracia frágil e imatura para adotar modelo que funciona bem em países minimamente civilizados e com cidadãos instruídos. Estamos a anos-luz desse cenário “primeiro-mundista”.
O País mostrou-se estarrecido após a divulgação da fala torpe, criminosa e sexista de Arthur do Val, o Mamãe Falei, deputado estadual por São Paulo. O parlamentar do Podemos disse em áudio compartilhado em grupo de WhatsApp que as mulheres ucranianas são “fáceis porque são pobres”. Disse também que a fila nas fronteiras da Ucrânia são imbatíveis se comparadas com as das “melhores baladas do Brasil”. Isso porque do Val viajou para a Ucrânia para ajudar os que tentam fugir da guerra.
Ao desembarcar no Brasil, no último sábado (5), Arthur do Val disse que sua atitude foi de “moleque”. O tal Mamãe Falei sempre foi moleque, foi eleito por ser moleque, por prometer aos incautos que, junto com outros, promoveria uma radical mudança na política brasileira. Aos 35 anos, Arthur do Val mostrou no nauseante áudio a sua essência como ser humano, o que sempre foi e continuará sendo. Moleque!
Ainda filiado ao Podemos – não se sabe por quanto tempo mais –, o parlamentar não está preocupado com o que pensam seus eleitores e as mulheres brasileiras a seu respeito. Disse estar chateado com o ex-juiz Sérgio Moro, que após o episódio afirmou que não subiria no mesmo palanque de Mamãe Falei, e preocupado em reconquistar a namorada, que terminou o relacionamento tão logo o áudio sexista ganhou as redes sociais.
A desfaçatez de Arthur do Val não para por aí. Ele considera exagero perder o mandato parlamentar por causa da gravação enviada para amigos. Figura dessa estirpe precisa ser banida da vida pública, pois é inaceitável a declaração de um moleque que ousou lançar pré-candidatura ao governo paulista.
Não estivéssemos em ano de eleições, Arthur do Val no máximo seria suspenso do mandato parlamentar. Como seus pares na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) buscarão a reeleição ou algum outro cargo eletivo, a cassação do mandato é dada como certa. Até o momento, 37 deputados paulistas pediram a cassação do “garanhão tupiniquim” que não se sensibilizou com a tragédia humanitária que tem lugar na Ucrânia.
Arthur do Val foi eleito deputado por ser o que é, um moleque. Tivesse coragem, renunciaria ao mandato parlamentar para minimizar a molecagem. Não o faz porque é um delinquente intelectual que aproveitou a onda pós-Petrolão para mostrar que é o que na política conhece-se por “mais do mesmo”.
O presidente Jair Bolsonaro, que classificou a fala do deputado paulista como “asquerosa”, foi eleito no mesmo cenário de oportunismo político e populismo barato. Aliás, Bolsonaro é tão sexista e misógino quanto do Val. Nenhum dos eleitores de Mamãe Falei e de Jair Bolsonaro pode se queixar do estrago consumado, alegando desconhecimento, pois alertas na direção do perigo foram muitos, em especial da parte do UCHO.INFO.
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O Podemos abriu processo contra Arthur do Val e deve expulsá-lo da legenda. Isso também é dado como certo, pois integrantes da cúpula do partido também concorrerão nas próximas eleições. É preciso se desvincular o quanto antes de uma figura estúpida e machista, sob pena de esse episódio comprometer as campanhas de muitos candidatos do partido.
Se a expulsão do parlamentar for confirmada, Mamãe Falei terá menos de três semanas para se filiar a outro partido, caso queira participar do processo eleitoral que se avizinha. Será o cúmulo da audácia.
Em um dos trechos do fatídico áudio, do Val diz: “Assim que a guerra passar, eu vou voltar para cá”. Nessa afirmação o parlamentar deixa evidente que sua viagem à Ucrânia não foi por questões humanitárias, até porque um ser dessa estirpe não pode ser chamado de humano. Foi turismo sexual, o mesmo que Bolsonaro defende que aconteça no Brasil por ser conservador, misógino e homofóbico.
“A fila das refugiadas, irmão. Imagina uma fila de, sei lá, de 200 metros ou mais, só deusa. Se pegar a fila da melhor balada do Brasil, na melhor época do ano, não chega aos pés da fila de refugiados aqui. […] Eu estou mal cara, não tenho nem palavras para expressar. Quatro dessas eram minas que você, se ela cagar, você limpa o c* dela com a língua. Assim que essa guerra passar, eu vou voltar para cá”, disse o deputado do Podemos na gravação.
Para justificar o injustificável, Mamãe Falei disse que estava em um momento de empolgação. Um país tendo a soberania violada, invadido por tropas militares comandadas por um facínora, centenas de milhares de pessoas sendo obrigadas a fugir da barbárie, mas Arthur do Val alega que foi um momento de empolgação. Não é caso de cassação, mas de internação no manicômio mais próximo.
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