A hora da boa estrela

(*) Carlos Brickmann

Há gente morrendo, há destruição, há riscos, a guerra continua. Mas há um ou outro sinal de que talvez o pesadelo esteja chegando ao fim.

Surpreendentemente, o Governo mais ativo na busca da mediação entre a Rússia e a Ucrânia é o de Israel. Israel é aliado do Ocidente; a Rússia se aliou ao Irã, cujo objetivo é varrer Israel do mapa. Mas há pontos de bom contato entre israelenses e russos. A Rússia garante o regime sírio de Assad, enquanto Israel, embora formalmente em guerra com a Síria, não se moveu quando uma enorme e confusa ação conjunta de inimigos do regime tentou depô-lo, sob o pretexto da Primavera Árabe. A posição israelense, realista, identificou nos inimigos de Assad um risco maior do que ele. E negociou com a Rússia, também realista, um acordo singular: Israel teria liberdade para atacar bases iranianas na Síria, poupando as forças sírias (e avisando os russos quando os ataques seriam realizados, para evitar imprevistos).

Israel e Rússia conversam e se acertam. Anteontem, o primeiro-ministro israelense Naftali Bennet conversou com Putin por quase duas horas sobre a possibilidade de uma trégua. Contou-lhe que Israel já tinha decidido montar um hospital de campanha na Ucrânia (Putin nada objetou). Em seguida, ligou para Zelensky. O líder ucraniano postou um twitter: “Trocamos informações sobre nossos passos e os de nossos parceiros no contexto da agressão russa. De acordo em outras ações”.

A conversa continua – o que é um ótimo sinal.

A sugestão

Como esta coluna já informou, Israel disse anteriormente a Zelensky que Putin estaria disposto a suspender a guerra se a Ucrânia desistisse formalmente de aderir à OTAN e à União Europeia e reconhecesse os dois enclaves de maioria russa como repúblicas independentes. Talvez a Ucrânia, nas negociações, consiga a aceitação de laços com a União Europeia (ou seja, participar economicamente do grupo); já laços com a OTAN, grupo militar, não seriam aceitos de forma alguma pelos russos. Andriy Yermak, o chefe de gabinete de Zelensky, elogiou os esforços de Israel para obter a trégua.

Fumaça nos olhos

Enquanto isso, sucedem-se represálias bobas de parte a parte. Os ingleses aumentaram brutalmente os impostos sobre vodca russa, os russos proibiram entrada no país de Joe Biden, do secretário de Estado Antony Blinken e do primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau. Mas deixaram a possibilidade de remover essas proibições quando houver interesse do Poder Executivo.

Buscando um vice

Bolsonaro pensa no ministro da Defesa, general Braga Netto, para vice de sua chapa à reeleição. Nada decidido até agora, mas é um nome que agrada Sua Excelência. Não é uma unanimidade: há muita gente perto do presidente que preferiria um vice capaz de atrair votos, que é do que Bolsonaro precisa se quiser vencer as eleições.

Até hoje, como lembrou o cientista político Antonio Lavareda, que é do ramo, ninguém jamais se elegeu tendo menos de 45% de aprovação. Mas, se o presidente fizer mesmo questão de ter o general, surge outra questão: quem substituiria Braga Netto no Ministério da Defesa. Poderia ser o comandante do Exército, general Paulo Sérgio, mas ele se manifestou (horror, horror!) a favor da vacinação. Poderia ser o general Marcos Antônio Amaro, chefe do Estado-Maior do Exército, mas ele já foi chefe da Casa Militar de Dilma, o que também é visto como um obstáculo.

Portas abertas

Mas ter sido chefe da Casa Militar de Dilma talvez não seja um obstáculo tão grande. Tarcísio de Freitas é ministro da Infraestrutura e um dos queridos de Bolsonaro, que gostaria até de elegê-lo governador de São Paulo. E foi diretor executivo e diretor geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes durante o governo Dilma Rousseff.

Portas fechadas

Em compensação, outro homem-forte do petismo, colega de Tarcísio no governo Dilma, está ao menos neste momento inabilitado de exercer cargos federais, em comissão ou de confiança, por ordem do Tribunal de Contas da União. Sérgio Gabrielli, com seis outras pessoas que trabalham com ele, mais quatro empreiteiras, foi condenado a repor R$ 704 milhões. Este é, segundo o TCU, o montante dos prejuízos causados à Repar, Refinaria do Paraná, entre 2008 e 2014, nos governos Lula e Dilma. Ainda falta a correção desse valor.

Gabrielli não teve participação direta nas obras superfaturadas, mas foi punido, diz a decisão, por conivência com as irregularidades. Gabrielli informa que irá recorrer da decisão ao TCU e à Justiça.

Sem fantasia

O Ibram, Instituto Brasileiro de Mineração, que reúne as maiores mineradoras do país, declarou-se contra o projeto que abre as terras indígenas à exploração mineral – a PEC 191. Informa o Ibram que o projeto não é adequado e só funcionará direito ouvindo e levando em conta os índios.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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