Na política brasileira, assim como na de muitos países planeta afora, nenhum ato acontece por acaso. Tudo tem uma razão de ser, especialmente quando o regime democrático está sob ameaça. Adepto do autoritarismo e temendo uma derrota nas urnas em outubro próximo, o presidente Jair Bolsonaro retoma os discursos conspiratórios contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, de bloquear o aplicativo Telegram em todo o País levou o presidente a classificar a medida como “inadmissível”. Bolsonaro agora afirma que a revogação da decisão deve-se ao fato de que o magistrado temeu ser derrotado no plenário da Corte por ocasião de eventual julgamento de mérito.
Nesta segunda-feira, em conversa com apoiadores que se encontravam no “cercadinho” do Palácio da Alvorada, o presidente classificou a decisão de Moraes como “crime”. Bolsonaro tem consciência que o desrespeito à lei e a determinações judiciais configura crime, mas prefere “incediar” a horda de apoiadores, sempre pronta para atacar o STF e seus ministros
Bolsonaro, sabem os brasileiros de bom-senso, não aceita ser contrariado, mas ousa falar em “jogo dentro das quatro linhas da Constituição”, o que na realidade não acontece. Crime é não atender a ordens judiciais, independentemente do assunto evolvendo as decisões da Justiça. O fato de o bolsonarismo usar o Telegram para disseminar notícias falsas, propagar teorias conspiratórias e ameaçar a democracia não garante a qualquer cidadão ou empresa privilégio perante o Judiciário.
No momento em que Moraes alçou o Telegram à mira, após inúmeras demonstrações de desprezo às decisões do Supremo, o criador do aplicativo, o russo Pavel Durov, resolveu se mexer e cumprir as ordens judiciais em 24 horas. Antes, Durov alegou que divergências em endereços de e-mails levaram a empresa a não atender às determinações da Corte. Uma desculpa pífia para quem é especializado em tecnologia da informação.
Também nesta segunda-feira, em entrevista à TV Jovem Pan, uma espécie de “Granma” do bolsonarismo, o presidente da República afirmou que Alexandre de Moraes promove uma “perseguição implacável” contra ele.
“Sabemos da posição do Alexandre de Moraes. É uma perseguição implacável para cima de mim. Tivemos momentos difíceis no ano passado, quando o TSE julgou a possibilidade de cassação da chapa Bolsonaro-Mourão por fake News”, disse Bolsonaro.
“Acredite, eu até respondi processo no TSE por abuso de poder econômico. São processos que, no meu entender, deveriam ser arquivados de ofício – nem sido levados para frente. Sabemos o que eles querem, o que alguns querem aqui no Brasil. Não são todos, nem é uma instituição. Querem eu fora de combate e o Lula, eleito”, completou.
Em outro ponto desse persistente cenário de ameaça à democracia, somente agora o TSE acordou para algo que o UCHO.INFO alertou por ocasião da visita de Bolsonaro à Rússia, ocasião em que declarou solidariedade a Putin em sua criminosa invasão à Ucrânia. O nosso alerta foi para a presença do vereador Carlos Bolsonaro, do Rio de Janeiro, na comitiva que foi a Moscou, onde participou de reuniões oficiais do governo brasileiro.
Como se sabe, Carlos Bolsonaro não integra o governo federal, mas é responsável pelo chamado “gabinete do ódio”, que funciona no Palácio do Planalto e é custeado pelo suado dinheiro do contribuinte. Na viagem a Moscou, Carlos Bolsonaro contou com a companhia de Tércio Arnaud Tomaz, um dos seus braços avançados no “gabinete do ódio”.
Considerando que hackers russos, a pedido do Kremlin, interferiram nas eleições presidenciais americanas, que permitiu a Donald Trump a se instalar na Casa Branca por quatro anos, a viagem do filho “02” não causa estranheza para quem conhece as entranhas do governo Bolsonaro.
Por outro lado, na última semana, senadores contrários ao projeto de lei (PL 3.723/2019) que regulamenta o porte de arma de fogo para caçadores, atiradores e colecionadores (CACs) foram alvo de ameaças. Os criminosos foram devidamente identificados pela Polícia Legislativa do Senado e podem perder o direito à posse e ao porte de armas. Entres os ameaçados estão as senadoras Eliziane Gama (Cidadania-MA) e Simone Tebet (MDB-MS) e o senador Eduardo Girão (Podemos-CE)
O mencionado projeto é um dos capítulos da epopeia bandoleira que Bolsonaro usa para intimidar as autoridades, já que o presidente afirmou ser possível acontecer no Brasil uma versão tropicalizada da invasão ao Capitólio, sede do Parlamento americano, por simpatizantes de Trump que não aceitaram a vitória do democrata Joe Biden nas urnas.
É importante e necessário que os brasileiros de bem fiquem atentos para os movimentos de Jair Bolsonaro e seus apoiadores, pois uma eventual derrota na eleição presidencial poderá acabar em perigoso confronto. Principalmente porque as polícias militares em todo o País são, em sua maioria, alinhadas ao bolsonarismo.
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