(*) Carlos Brickmann
A guerra já passa de um mês, os dois lados comemoram as mortes que impõem ao inimigo, a destruição sem sentido prossegue, aumenta os preços no mundo inteiro, reduz a produção agrícola, leva à fome populações que nada têm com a luta. A propósito: por que a guerra entre Rússia e Ucrânia?
Lembremos que Vladimir Putin foi criado como agente secreto, com treino e licença para matar. Mata há muito tempo, e agora em larga escala. Não precisaria demonstrar sua barbárie: pode ter saído do serviço secreto, mas o serviço secreto não saiu dele. E o Ocidente lhe ofertou as desculpas.
O fim da União Soviética, com Mikhail Gorbatchev, poderia ter levado à cooperação econômica. Prometeu-se à Rússia que a OTAN, o tratado militar ocidental, ficaria onde estava (mas a OTAN se expandiu, assustando Putin). Dois dos maiores especialistas dos EUA se manifestaram contra a expansão da OTAN: Henry Kissinger e George F. Kennan (este o ideólogo da doutrina de contenção do comunismo, na Guerra Fria). A OTAN trouxe de sua criação em 1949 um lema claro: “Manter os americanos dentro da Europa, os russos fora e os alemães em baixo”. Com o tempo, a Alemanha se tornou membro importante da OTAN, mas os russos foram mantidos fora. E por que a OTAN se expandiu? Porque outros países quiseram se sentir seguros: houve 14 que entraram, fora Bósnia-Herzegovina, Georgia e Ucrânia, que estão na fila.
A propósito, na dissolução da URSS, a Ucrânia entregou aos russos suas armas atômicas, com garantia de paz. Em troca, enfrenta 190 mil invasores.
Prevendo o passado
E se as opiniões de Kennan e Kissinger tivessem sido levadas em conta? Talvez nada fosse diferente: Putin já disse que a dissolução da URSS foi uma das maiores tragédias da História. Ele não tem nada de comunista: seu sonho é a volta do império que existia antes dos comunistas, tendo vizinhos bem obedientes. Isso consta nos textos de seu guru Aleksandr Durgin, uma espécie de Olavo de Carvalho que fala menos palavrões. Putin já invadiu a Georgia e a Ucrânia. Que faria com a pequena Letônia, que fechou seus portos, se os letões não tivessem entrado na OTAN? Olhando para trás, é fácil ver que as promessas não foram cumpridas. Se fossem, seria tudo igual.
Visão curta
Enquanto os líderes fazem besteiras que levam gente à morte, liderados se esmeram nas bobagens. Um restaurante se recusa a servir estrogonofe, os maestros russos Valery Gergiev e Pavel Sorokin ficam fora da programação em Paris e Londres. Imagine se os EUA, em guerra com Alemanha e Itália, tivessem afastado de suas universidades o professor alemão Albert Einstein e o físico italiano Enrico Fermi? Mas essas bobagens têm precedente: 1964, no Brasil, logo após a tomada de poder pelos militares. O Ballet Bolshoi não pôde se apresentar, nem a Seleção soviética. Parece que era tudo comunista!
Lendo pesquisas
Lula continua favorito, com 43% das intenções de voto, seguido por Jair Bolsonaro, com 26%. Os bolsonaristas ficaram eufóricos com o resultado do Datafolha, porque não indica vitória de Lula no primeiro turno. O resultado ainda pode mudar: em 1989, Collor estava disparado na frente, seguido por Lula e Brizola, praticamente empatados (Lula venceu Brizola e foi para o segundo turno, onde perdeu para Collor). Mas tudo poderia ter mudado: no meio da campanha, Sílvio Santos lançou sua candidatura, e em dois dias já estava disputando o primeiro lugar. Se não dessem um jeito de vetá-lo, Sílvio tinha boas probabilidades de ganhar. O problema é que, hoje, quem seria o Sílvio Santos?
Nenhum dos candidatos da “terceira via” alcançou a casa dos 10%. Todos, somados, não chegam à magra marca de Bolsonaro.
Belo futuro por trás
A situação do Brasil é complexa: o que há de opções é tão fraquinho que Bolsonaro quer que Damares seja candidata à Câmara, mas não sabe por qual Estado; e quer porque quer lançar seu ministro Tarcísio (sim, o que era autoridade na presidência de Dilma) para o Governo paulista. Lançou a confusão na cabeça do ministro: ele já cansou de circular pela Rodovia dos Bandeirantes e ainda não descobriu onde fica o tal Palácio dos Bandeirantes.
A coisa está tão pra trás que a grande novidade das eleições é o Alckmin.
Tico x Teco
De um lado, um cavalheiro inocente, acossado por denúncias de pessoas que confessaram crimes que certamente não cometeram, devolveram um dinheirão que não tinham roubado e até cumpriram pena, tudo pelo simples prazer de mentir. De outro lado, um cavalheiro que dedicou sua carreira à formação de famiglia, investigado (a contragosto) por manter fantasmas em sua folha de pagamento, para pegar a maior parte dos salários; criticadíssimo por enfiar a mão em rachadinhas; deixou pra lá o pessoal da propina na vacina, acha que não tem problema liberar pastores amigos para distribuir verbas na Educação. Este combate tanto a corrupção que até infiltrou gente sua entre os milicianos, certamente para apurar melhor o modus operandi.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.
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