Rússia é acusada de “roubar” aviões comerciais arrendados por companhias aéreas do país

 
Devido às sanções impostas pelo Ocidente à Rússia pela invasão à Ucrânia, fabricantes e empresas de leasing de aeronaves temem que jatos e aviões que estão atualmente estacionados em solo russo jamais sejam devolvidos.

Nesta segunda-feira (28), prazo final para as companhias recuperarem suas aeronaves, passou a valer a sanção que rescinde os contratos entre essas empresas e companhias aéreas russas, com isso, a consequente devolução desses aviões, que não ocorreu.

Líderes do mercado aéreo por meio de arrendamento mercantil, como a Aercap e a Avalon, podem não mais reaver algumas dezenas de aeronaves que estão na Rússia. As medidas foram anunciadas há cerca de um mês, mas as companhias aéreas russas não devolveram as aeronaves.

Especialistas falam que a permanência das aeronaves em solo russo pode ser encarada como “o maior roubo” da história da aviação comercial: estima-se que em torno de 400 jatos e aviões, no valor total de cerca de US$ 10 bilhões, dificilmente serão reavidos.

“Temo que estamos testemunhando o maior roubo de aeronaves da história da aviação civil comercial”, afirma Volodymyr Bilotkach, professor de Gestão de Tráfego Aéreo no Instituto de Tecnologia de Singapura.

O diretor-geral de Transportes da Comissão Europeia, Henrik Hololei, também argumenta que os aviões que estão na Rússia foram “roubados de seus legítimos proprietários”.

 
Em resposta às sanções econômicas impostas pelo Ocidente, a Rússia criou novas leis para evitar a saída das aeronaves do país. A fim de manter os certificados de segurança em dia, as aeronaves foram novamente registradas, mas em solo russo.

O duplo registro, no entanto, não é permitido pelas regras internacionais. Segundo Hololei, a ação caracteriza uma grave violação da Convenção de Aviação Civil Internacional – ou Convenção de Chicago, assinada em dezembro de 1944. De acordo com dados oficiais, a Rússia já teria registrado ao menos metade de um total de 515 aeronaves arrendadas.

Logo após as primeiras sanções, o presidente Vladimir Putin determinou às companhias aéreas russas que levassem de volta as aeronaves ao país, em claro sinal de que se apropriaria de algo que pertence a terceiros. A guerra na Ucrânia, que já passa de um mês, está criando uma série de entraves econômicos ao redor do planeta.

Sem autorização para voar no exterior

Em solo russo, a maioria das aeronaves alugadas tem sido utilizada em rotas domésticas, já que, com a suspensão dos certificados de navegação, não estão autorizadas a voar para o exterior. Assim que aterrissam fora da Rússia, podem ser apreendidas. Esses aviões podem voar também para Belarus ou para alguma república da federação russa, que apoiam o Kremlin.

A Comissão Europeia acompanha todos os aviões que deixam a Rússia e trabalha junto às autoridades dos países de destino a fim de assegurar questões relacionadas à segurança das aeronaves.

“Temos obtido bastante sucesso na recuperação de aviões”, declarou Hololei, durante seminário online realizado pela Eurocontrol (Organização Europeia para a Segurança da Navegação Aérea, em português).

De acordo com um relatório da agência de notícias russa Interfax, somente na semana passada 78 aviões foram apreendidos no exterior.

O problema maior, além da apropriação indébita, é a manutenção das aeronaves que, por determinação de Putin, farão apenas rotas domésticas. As sanções impostas a Moscou englobam a proibição de fornecimento de peças para aviões, o que compromete a segurança dos passageiros. Sem a substituição de peças e revisões adequadas, em breve esses equipamentos deixarão de voar. A China se recusou a ajudar Moscou com o envio de peças de reposição.

 
Quem pagará pelas aeronaves?

Autoridades e especialistas agora questionam quem pagará pelo custo das aeronaves estacionadas na Rússia, mesmo que estejam asseguradas. A tendência é de que as empresas de leasing do setor aéreo enfrentem um longo período de lutas judiciais por reembolsos, justamente devido aos altos valores dos seguros.

Conforme estimativa da Moody’s, que analisa e classifica riscos de créditos, as perdas dessas empresas já chegaram a US$ 11 bilhões devido à guerra na Ucrânia. Ainda que as aeronaves sejam devolvidas no futuro, entretanto, há também as perdas com registros de manutenção, peças e reposições. Modelos Airbus e Boeing também estão na lista de sanções da UE contra a Rússia.

Ainda assim, especialistas afirmam que o impacto poderá ser controlado, uma vez que as companhias aéreas russas respondem por menos de 10% do total de aeronaves arrendadas. “Isso não deve paralisar completamente essas empresas. Entretanto, na minha opinião, o que vai mudar é o potencial do mercado russo”, diz Brad Dailey, diretor da consultoria Alton Aviation.

A companhia aérea estatal russa Aeroflot, por exemplo, era considerada bastante rentável em termos de crédito antes da invasão. Agora, devido ao registro duplo, considerado ilegal, o cenário mudou.

A fim de voltarem a fazer negócios com o Ocidente no futuro, companhias aéreas russas sinalizaram que gostariam de devolver as aeronaves alugadas. No entanto, essa ação teria de ser aprovada pelo governo russo. (Com agências internacionais)

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