Tarcísio diz que polícia de SP tem pacto com o crime organizado, mas ignora o finado Adriano da Nóbrega

 
Ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio Gomes de Freitas foi incumbido pelo Palácio do Planalto de concorrer ao governo de São Paulo como forma de garantir palanque a Jair Bolsonaro no mais importante estado da federação.

Natural do Rio de Janeiro, onde até então tinha domicílio eleitoral, Tarcísio não apenas aceitou disputar o governo paulista, mas vem cumprindo absurdas ordens palacianas. A primeira delas foi acusar a polícia paulista de ter um pacto com o crime organizado para não ir a fundo nas investigações.

“O paulista não percebe a associação com o crime organizado. (A polícia de) São Paulo fez um pacto com o crime organizado, de não combatê-lo”, declarou o ex-ministro na última sexta-feira (1).

“E por que se optou por não combater? Porque crime organizado dá efeito colateral e ninguém quer o efeito colateral do combate ao crime”, argumentou, em entrevista ao portal Money Report. “E o problema é que, quando você não combate, o crime cresce, se infiltra no poder e acaba se tornando força política”, completou.

Se o ex-ministro tem provas das acusações que faz, que apresente às autoridades competentes. Do contrário, corre o risco de responder criminalmente por declarações que servem apenas para tumultuar o processo eleitoral. Aliás, essa prática é típica de Bolsonaro, que costuma acusar a esmo seus adversários políticos.

Tomando por base o cerne da acusação, o crime organizado, Tarcísio de Freitas, ao que parece, é mais um sabujo na órbita do presidente a viver a anos-luz da realidade dos fatos.

 
Caso Tarcísio desconheça, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), enquanto deputado estadual, empregou em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) a mãe e a esposa do miliciano Adriano da Nóbrega, morto na Bahia em fevereiro de 2020 após meses de fuga.

As contas bancárias controladas por Adriano da Nóbrega foram usadas para abastecer Fabrício Queiroz no esquema de “rachadinha” no antigo gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj.

Promotores do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) interceptaram menções ao presidente Jair Bolsonaro em investigações sobre as atividades Adriano da Nóbrega, um dos fundadores do grupo de matadores de aluguel conhecido como “Escritório do Crime”.

Em relatórios da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Polícia Civil fluminense, ao menos duas pessoas ligadas à Nóbrega mencionaram o presidente Jair Bolsonaro em diálogos sobre a situação do miliciano.

De acordo com o MP-RJ, na interceptação de Luiz Carlos Felipe Martins, conhecido como “Orelha” e um dos braços direito de Adriano da Nóbrega, o amigo mencionou que o miliciano “dizia que se fodia por ser amigo do Presidente da República”.

 
Em 12 de agosto de 2003, em discurso na Câmara dos Deputados, Jair Bolsonaro disse que grupos de extermínio eram a solução para combater a criminalidade. A fala do então deputado serviu para exaltar milicianos que há décadas aterrorizavam a Bahia.

“Quero dizer aos companheiros da Bahia — há pouco ouvi um parlamentar criticar os grupos de extermínio — que enquanto o Estado não tiver coragem de adotar a pena de morte, o crime de extermínio, no meu entender, será muito bem-vindo. Se não houver espaço para ele na Bahia, pode ir para o Rio de Janeiro. Se depender de mim, terão todo o meu apoio, porque no meu estado só as pessoas inocentes são dizimadas. Na Bahia, pelas informações que tenho — lógico que são grupos ilegais —, a marginalidade tem decrescido. Meus parabéns”, disse Bolsonaro.

Uma semana após a morte de Adriano da Nóbrega, no município baiano de Esplanada, o presidente da República afirmou que por ocasião da homenagem feita por Flávio Bolsonaro, na Alerj, em 2005, o miliciano era um herói da Polícia Militar do Rio de Janeiro. À época, Adriano estava preso e foi condecorado com a Medalha Tiradentes, mais alta honraria do Legislativo fluminense.

“Não tem nenhuma sentença transitada em julgado condenando capitão Adriano por nada, sem querer defendê-lo. Naquele ano ele era um herói da Polícia Militar”, afirmou Jair Bolsonaro em 15 de fevereiro de 2020.

Bolsonaro foi além em seu desvario e disse ter determinado ao filho Flávio que condecorasse o miliciano, que, segundo as autoridades, atuava no jogo do bicho, máquinas caça-níqueis e crimes de encomenda.

O melhor que Tarcísio de Freitas pode fazer é rever seu conceito de pacto com o crime organizado, pois o “telhado” do patrão não é pequeno quando o assunto é relações com a milícia.

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