(*) Carlos Brickmann
Vivemos e vimos: a partir desta sexta-feira, Lula e Alckmin chamam um ao outro de “cumpanhero”. Há alguns anos, debatendo na TV, Alckmin chamava Lula de mentiroso, desrespeitoso, arrogante. Já Lula chamava Alckmin de leviano. E há pessoas que injustamente falam mal de políticos. São gente boa, capaz de mudar de opinião e amar os inimigos, bastando apenas que haja uma perspectiva de poder. Convenhamos, é melhor amar do que odiar. O poder, por incrível que pareça, é como o amor: é lindo!
Mas que é que aconteceu na sexta-feira? O presidente nacional do Partido Socialista Brasileiro, Carlos Siqueira, enviou a Lula uma carta indicando Alckmin para vice. Aliás, é outro notável episódio que tivemos oportunidade de ver: Alckmin virando socialista. Vá contar a algum estrangeiro interessado na política brasileira que Alckmin não só virou socialista, tão socialista como Paulo Skaf, que na época era presidente da Federação das Indústrias, como virou cumpanhero de Lula! Skaf já saiu do meio dos socialistas e hoje flerta com Bolsonaro – e não se espante: Bolsonaro já elogiou Hugo Chávez e disse que todo milico tem algo de comunista.
As grandes viradas políticas são instrutivas. Lula, ao sugerir que ele e Alckmin chamem um ao outro de cumpanhero, disse que já divergiu de Serra, de Fernando Henrique, os reis do tucanato, “mas que sempre se respeitaram”. Pois não é que este desatento colunista tinha outra impressão?
Ao balanço das urnas
A seis meses das eleições, vale a pena fazer um balanço das pesquisas. Nada muito sofisticado, não: apenas uma linha do tempo. Há pouco menos de um ano, em 12 de maio de 2021, a pesquisa Datafolha indicava que, num segundo turno, Lula venceria Bolsonaro por 55% a 32%. Bolsonaro teve boa queda, subiu de novo, conseguiu manchetes segundo as quais tinha reduzido a vantagem de Lula e ameaçava alcançá-lo. Na pesquisa DataFolha de março de 2022, o mês passado, Lula bateria Bolsonaro por 55% a 34%.
Em pouco menos de um ano, fazendo campanha o tempo todo, Bolsonaro só subiu dois pontos percentuais – ficou, portanto, dentro da margem de erro. E Lula até agora está jogando parado, sem campanha de rua, apenas buscando alianças.
Votando com o bolso
O fraco desempenho de Bolsonaro nas pesquisas, até agora, tem nome e sobrenome: Custo de Vida. Nos últimos dois anos, a inflação, medida pelo IPCA, foi de 16,3%. Quem teve um aumento de renda desse porte nos dois últimos anos, fora os pastores da Bíblia e a Petrobras?
E o pior nem é isso: o pior é que as camadas mais pobres da população enfrentam reajustes ainda maiores. O gás engarrafado, que Bolsonaro prometeu, em campanha, baixar para R$ 35 o bujão, já ultrapassou os cem reais e atingiu picos de R$ 150. Os alimentos e o material de construção subiram mais que a inflação. Existe eleitor que vota no candidato por gostar muito dele, ou por acreditar em suas promessas, ou por considerá-lo um mito. Mas um número maior de eleitores vota com o bolso. Emprego estável, barriga cheia, aluguel pago, algum dinheirinho sobrando para pequenos extras, não é preciso muito para agradar o eleitor.
E isso vale no mundo inteiro: basta lembrar do assessor de Clinton que, diante do prestígio do adversário George Bush, candidato à reeleição, insistia em dizer que o tema era outro: “É a economia, estúpido!”
Quem leva a culpa
As coisas ainda vão piorar para o lado do Governo: deve vir uma paulada nos planos de saúde, convênios, etc. As empresas que oferecem plano-saúde individual pedem aumento de até 18%, que seria o maior já concedido pela Agência Nacional de Saúde Suplementar. O argumento dos empresários é que os custos médico-hospitalares subiram acima da inflação e que muitos tratamentos adiados no auge da pandemia estão sendo realizados agora. Em votos, isso custa caro: são quase nove milhões de pessoas prejudicadas.
Ganhar e perder
Uma característica importante desta eleição é que nem todos têm a mesma concepção do que é ganhar. Bolsonaro e Lula disputam para ganhar a eleição de acordo com o pensamento da maioria da população: quem ganha ocupa a Presidência da República. Mas vamos combinar que ser presidente é bom (ou não haveria tanta disputa), mas dá trabalho; enquanto, com as leis que prepararam, deputado e senador ganham excelentes salários (com todos os penduricalhos, muito mais que o presidente), têm férias mais constantes, têm acesso, se quiserem, a diferentes tipos de corrupção, dispõem de assessores que desempenham todo o trabalho do cargo (inclusive, conforme o cargo, até recebem para entregar ao patrão), têm passagens aéreas, diárias, etc.
Um vidão! É por isso que tantos partidos preferem buscar aliados diferentes, um em cada Estado, pedindo em troca facilidades para ampliar a bancada. Uma boa bancada representa uma boa parcela do dinheiro público que financia as eleições. Poder é dinheiro, dinheiro é poder. Não é preciso ser presidente.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.
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