(*) Waldir Maranhão
Quando concorreu ao governo do Maranhão, em 2010, Flávio Dino prometeu quebrar os paradigmas das oligarquias políticas do mais pobre estado brasileiro. Derrotado nas urnas daquele ano, Dino voltou à disputa em 2014, conquistando o direito de ocupar o Palácio dos Leões, sede do Executivo maranhense.
Em 2018, Flavio Dino foi reeleito com as mesmas promessas da campanha anterior, entre as quais a de combater a pobreza no estado. O discurso nem sempre encontra guarida no campo da prática, terreno onde as mazelas enfrentadas pela população ficam mais evidentes diante de promessas inexequíveis.
Reconheço que os últimos dois anos foram extremamente difíceis por conta da pandemia de Covid-19, mas regredir no cenário da pobreza é simplesmente inaceitável. Afinal, como disse o saudoso sociólogo Herbert José de Souza, o Betinho, “quem tem fome, tem pressa”.
Para o infortúnio dos maranhenses, a frase de Betinho é mais do que atual. E nesse caso de nada adianta o faminto ter pressa, pois os governantes caminham a passos lerdos.
Quando chegou ao comando do governo estadual, Dino recebeu o Maranhão com seis cidades entre as dez mais pobres do país. Esse ranking deveria corar a face dos ocupantes do Palácio dos Leões, mas quem desconhece as entranhas da fome não tem pressa.
Atualmente, o Maranhão figura no tablado da vergonha nacional com oito das dez cidades brasileiras mais pobres – São João do Soter, Milagres do Maranhão, Turilândia, Primeira Cruz, Jenipapo dos Vieiras, Centro do Guilherme, Matões do Norte e Fernando Falcão.
Para que o leitor consiga avaliar a extensão da tragédia, em Fernando Falcão, município localizado a 542 km da capital maranhense, a renda média dos habitantes (pouco mais de 10 mil) sequer chega a R$ 20,00.
Se antes da pandemia o quadro de penúria nas citadas cidades já era assustador, com o advento da mais grave crise sanitária dos últimos cem anos a tragédia social veio à tona sem qualquer cerimônia.
Entre garantir um prato de comida para hoje e pensar no amanhã, a primeira situação é a que prevalece sempre. Não há como planejar o futuro sendo desafiado pela fome.
Quando menciono planejar o futuro refiro-me à presença dos jovens nas escolas. A fome por si só afasta o jovem da escola, pois é preciso subsistir antes de aprender. Na verdade, é preciso estar vivo para aprender. E a fome mata!
Esse detalhe cruel do cotidiano das cidades maranhenses mencionadas acima precisa ser banido, pois é impossível seguir adiante com conterrâneos abandonados pelo Estado.
Os governantes têm o dever de não apenas combater a miséria, e por consequência a fome, mas proporcionar condições para que esse quadro não se torne perene. Faço esse destaque porque é primordial garantir aos jovens um aprendizado que garanta uma qualificação, evitando que o amanhã seja um temido algoz.
As eleições batem à porta, o processo eleitoral está em marcha, coligações são costuradas, campanhas ganham as ruas e as redes sociais, mesmo que antes do prazo legal. É preciso mudar a triste e dura realidade que nos atormenta. É mandatório derrotar a fome no Maranhão, estado rico em recursos naturais, mas que figura entre os mais pobres do país.
A política é em tese uma atividade de desprendimento por parte do eleito em favor dos desassistidos, mas não é isso que acontece. No Brasil, para a nossa infelicidade, acontece o contrário. O que é comum passou a avançar no terreno do normal. Não é possível tratar o absurdo como sendo normal.
Quem assumir o governo do Maranhão a partir de janeiro de 2023 precisa estar ciente de que o desafio maior será, como já é, combater a fome. Nenhum homem público pode dormir sem peso na consciência sabendo que seus conterrâneos se debatem no pântano da miséria.
O mundo está com os olhares voltados para a guerra na Ucrânia, palco de inenarrável catástrofe humanitária, mas é necessário ter olhos para a batalha que milhões de brasileiros travam contra a fome.
Disse o filósofo iluminista francês Voltaire: “Encontrou-se, em boa política, o segredo de fazer morrer de fome aqueles que, cultivando a terra, fazem viver os outros”.
A fome é cruel, aviltante. Mudar é preciso, a hora da mudança se aproxima. Sempre lutarei por justiça social, pela dignidade de cada maranhense, por um Maranhão igualitário e melhor.
(*) Waldir Maranhão – Médico veterinário e ex-reitor da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), onde lecionou durante anos, foi deputado federal, 1º vice-presidente e presidente da Câmara dos Deputados.
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