Autoridades de Kiev anunciaram que o exército ucraniano se prepara para “grandes batalhas” contra as forças russas no Donbass, no leste da Ucrânia, onde Moscou controla dois territórios separatistas. A evacuação da região foi retomada no último sábado (9) a partir da cidade de Kramatorsk, palco de recente ataque com míssil que matou mais de 50 civis.
De acordo com analistas, a ofensiva em grande escala pode se iniciar nos próximos dias. Muitos questionam a capacidade das tropas russas, desfalcadas e desmoralizadas, de conquistar muito terreno, depois de os motivados combatentes ucranianos terem repelido sua tentativa de tomar a capital, Kiev.
Mykhaylo Podolyak, consultor do presidente Volodymyr Zelensky, enfatizou que a Ucrânia precisa derrotar o invasor na região leste, antes que se possa realizar um encontro entre os chefes de Estado dos dois países.
Os russos se preparam para uma batalha decisiva que pode encerrar a guerra na Ucrânia, o que não significa obrigatoriamente vitória para Moscou. Tomando por base a resistência ucraniana em Mariupol, onde alguns civis ainda tentam deixar a cidade portuária, não causará surpresa se os russos forem derrotados. Isso seria ruim para Vladimir Putin, que para escapar de um enorme fiasco poderá radicalizar, inclusive provocando o Ocidente.
1.200 mortos na região de Kiev
Centenas de corpos foram descobertos em torno da capital ucraniana, parcialmente ocupada há várias semanas por forças russas: “Até o momento, só nesta manhã de domingo, temos 1.222 mortos na região de Kiev”, disse a procuradora-geral da Ucrânia, Iryna Venediktova, em entrevista ao canal britânico Sky News.
Sem especificar se os corpos descobertos eram exclusivamente de civis, admitiu que possa haver muitos outros cadáveres ainda não recolhidos e avaliados. Ela também mencionou que 5.600 inquéritos por supostos crimes de guerra já foram abertos desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro.
Há uma semana, a alta funcionária havia quantificado 410 civis mortos nos territórios libertados da região de Kiev. Só em Bucha, a noroeste da capital, cerca de 300 vítimas estavam enterradas em valas comuns, de acordo com relatório das autoridades ucranianas de 2 de abril. A cidade se tornou um símbolo das atrocidades da guerra na Ucrânia.
Após as revelações, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky anunciou a criação de um “mecanismo especial” para “investigar e processar todos os crimes dos ocupadores”, que funcionaria com base no “trabalho conjunto de especialistas nacionais e internacionais”.
“Esse mecanismo ajudará a Ucrânia e o mundo a levar à justiça que iniciaram ou participaram de alguma forma nesta terrível guerra e crimes contra o povo ucraniano”, prometeu o chefe de Estado.
“Principal criminoso de guerra do século 21”
Na entrevista à Sky News, após aludir a 5.600 inquéritos em curso envolvendo 500 possíveis criminosos de guerra russos, Iryna Venediktova disse considerar o presidente da Rússia, Vladimir Putin, “o principal criminoso de guerra do século 21”.
A procuradora-geral ucraniana disse ter provas de que a Rússia esteve por trás do ataque com um míssil contra a estação ferroviária de Kramatorsk, no leste da Ucrânia, que na sexta-feira matou 52 civis, inclusive cinco crianças.
Segundo os dados mais recentes da Organização das Nações Unidas (ONU), a “operação militar especial” na Ucrânia (na terminologia do Kremlin), ordenada por Putin em 24 de fevereiro, matou até agora pelo menos 1.626 civis, incluindo 132 crianças, e feriu 2.267, sendo 197 menores. A organização ressalva que o número real de vítimas pode ser muito maior.
Além disso, a guerra de agressão já causou um número indeterminado de baixas militares e a fuga de mais de 11 milhões de cidadãos, dos quais 4,4 milhões para países vizinhos. A invasão é condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com o envio de armamento para a Ucrânia e sucessivos pacotes de sanções econômicas e políticas contra a Rússia. (Com agências internacionais)
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