Entre escândalos de corrupção e a volúpia do Centrão, Bolsonaro tenta se equilibrar no projeto de reeleição

 
Há uma considerável distância entre promessas de campanha e a possibilidade de realização do que foi prometido. O eleitor brasileiro sabe disso, mas se deixa levar pelos embustes de candidatos, em especial os populistas. É o caso do presidente Jair Bolsonaro, que em outubro próximo tentará a reeleição.

Em deliberada campanha, apesar de a legislação eleitoral proibir esse tipo de ação antes do prazo, Bolsonaro tem ao menos três problemas no escopo de seu projeto de reeleição. O primeiro deles, talvez o com maior de capacidade de produzir ruídos, é o anunciado reajuste salarial dos servidores federais. Após anunciar que apenas policiais federais seriam contemplados com a medida, o presidente decidiu recuar e conceder aumento de 5% a todo os servidores federais.

A decisão não agradou e criou um a frente de desgaste com policiais federais, policiais rodoviários federais e agentes penitenciários, que em tese integram a base bolsonarista. Com o descontentamento generalizado por causa do baixo índice de reajuste – algumas categorias pleiteiam aumento de 30% –, os servidores ameaçam cruzar os brações e, em alguns casos, adotar a chamada “operação-padrão”. Diante desse impasse, Bolsonaro quer atender às demandas de todas as categorias, por meio de maior aumento salarial ou concessão de benefícios adicionais.

Outro problema envolve o ministro Ciro Nogueira (Progressistas-PI), da Casa Civil, que, na opinião dos caciques do Centrão, sofre processo de fritura por parte dos generais palacianos e do núcleo duro do bolsonarismo. Nogueira é alvo de denúncias de envolvimento em casos de corrupção no âmbito de em obras superfaturadas da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). Recentemente, o chefe da Casa Civil teve seu nome arrolado em imbróglio que chacoalhou o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), cujo diretor é um dos seus afilhados políticos.

 
O terceiro problema, talvez o mais perigoso e difícil de contornar, é o apetite do Centrão por cargos e recursos federais. A demissão do general da reserva Joaquim Silva e Luna da presidência da Petrobras levou o Centrão a sonhar com a possibilidade de indicar o novo dirigente da estatal, o que não aconteceu.

Com a saída de Milton Ribeiro do Ministério da Educação, provocada pelo escândalo do “gabinete de pastores”, o Centrão tentou emplacar algum apaniguado no comando da pasta, mas Bolsonaro decidiu efetivar o interino Victor Godoy Veiga, então secretário-executivo.

O Centrão está a anos-luz de distância de ter questões ideológicas como mola propulsora, pelo contrário. Não custa lembrar que o informal bloco parlamentar apoiava o governo de Dilma Rousseff quando optou por desembarcar do governo e defender o impeachment da petista.

O estilo “bate e assopra” adotado por Bolsonaro nos últimos dias serve não apenas para tirar o foco dos escândalos de corrupção, mas principalmente para animar a horda de apoiadores e ao mesmo tempo amainar os ataques às instituições, a começar pelo Judiciário (leia-se STF e TSE).

Controlar a volúpia do Centrão é tarefa quase impossível, mas não é difícil prever o desfecho de um relacionamento político que tem como berço o “toma lá, dá cá”. Em outras palavras, Bolsonaro não tem como cortar as asas do Centrão, mas tenta jogar para a sua plateia.

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