Bolsonaro suaviza ataques ao TSE e ao sistema eleitoral, mas insiste no criminoso discurso golpista

 
O discurso golpista do presidente Jair Bolsonaro continua avançando sem cerimônia, mas com camuflagem para esconder o seu verdadeiro teor. Depois de amainar o palavrório em relação à pandemia de Covid-19, que no Brasil foi alvejada pelo negacionismo do governo, Bolsonaro agora tenta calibrar a verborragia quando trata de assuntos relacionados às eleições de outubro.

Nesta terça-feira (19), em discurso durante evento oficial, o presidente voltou a criticar o sistema eleitoral e afirmou que o comando do Exército marcou a história do Brasil em 2016, ano do impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT).

Bolsonaro não detalhou o episódio a que se referiu, mas à época o então vice-presidente Michel Temer (MDB) chegou a procurar o então comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, antes de assumir o governo com a cassação da petista.

“Em 2016, em mais outro momento difícil da nossa Nação, a participação do então comandante do Exército, Villas Bôas, marcou a nossa história”, disse o presidente em cerimônia para comemorar o Dia do Exército. Também compareceram à solenidade o vice-presidente Hamilton Mourão e os presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux.

Enrustido quando o assunto é o golpismo, Villas Bôas tinha bom trânsito no universo político e ganhou holofotes ao publicar no Twitter, em 2018, mensagem interpretada como ameaça velada ao STF na véspera de julgamento de habeas corpus do ex-presidente Lula.

“Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do País e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais”, publicou o general à época.

Na segunda-feira (18), Bolsonaro disse que as Forças Armadas “estão presentes”, “sabem o que é melhor” para o País e têm o compromisso de respeitar a Constituição.

“Quando se fala em Exército brasileiro, vem à nossa mente que, em todos os momentos difíceis que a nossa Nação atravessou, as Forças Armadas, o nosso Exército sempre esteve presente. Assim foi em 22, em 35, em 64, em 86 com a transição, onde (sic) a participação ativa do então ministro do Exército Leônidas Gonçalves, a transição foi feita com os militares, não contra os militares”, afirmou o presidente, em referência ao golpe militar de 1964, que mergulhou o Brasil em 21 anos de ditadura, e à transição para a democracia.

 
Críticas ao sistema eleitoral

Como citado acima, Bolsonaro aproveitou a ocasião para mais uma vez criticar o sistema eleitoral, o mesmo que deu a ele e aos filhos a possibilidade de ingressar na política.

Sem apresentar qualquer prova capaz de embasar seus ataques às urnas eletrônicas e ao tribunal Superior Eleitoral (TSE), Bolsonaro disse ter certeza de que a eleição terá “seu ritmo normal”.

“Não podemos jamais ter eleições no Brasil que sobre elas pairem o manto da suspeição. Esse compromisso é de todos nós, presidentes dos Poderes e comandantes de Forças”, discursou. “A alma da democracia repousa na tranquilidade e na transparência do sistema eleitoral”, completou.

Que ninguém acredite no falso bom-mocismo de Jair Bolsonaro, pois seus ataques à democracia têm o endosso dos generais palacianos, os quais são defensores do golpe de 64 e flertam com a possibilidade de repetir a história em algum momento.

Não é preciso esforço do raciocínio para perceber o movimento golpista que circula pelos corredores palacianos. Nesta terça-feira, o vice-presidente Hamilton Mourão usou as redes sociais para se manifestar sobre o Dia do Exército, classificando o golpe militar como “revolução democrática”.

“O Exército, com uma história de vitórias, desde Guararapes, quando índios, brancos e negros combateram os holandeses, passando pela Guerra do Paraguai, 2ª GM [Guerra Mundial] e pela Revolução Democrática de 1964 até os dias atuais, preserva a soberania e contribui com o Brasil. Parabéns ao EB!”, escreveu Mourão.

Essas manifestações são coordenadas e têm o objetivo de vender à parcela desavisada da população a falsa ideia de que eventual golpe militar servirá para garantir a democracia. Divulgados pela jornalista Miriam Leitão, os áudios de sessões do Superior Tribunal Militar (STM), um tribunal de exceção, mostram que a ditadura militar foi um covarde e facinoroso golpe contra a democracia, marcado por crimes como perseguição política, prisões arbitrárias, sessões de tortura, execução de adversários do regime e sumiço de corpos. Se isso é democracia, que Mourão explique o que é ditadura.

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