País sem futuro

(*) Gisele Leite

A impressão que temos é que o ano 2018 nunca terminou. Foram quatro anos deploráveis, com manifestações que vão o acinte ao deboche promovendo a ruptura da ordem democrática. Os tempos atuais que vivemos não ilude nem os mais otimistas pois estamos mergulhados nas profundas trevas medievais de um autoritarismo golpista.

As próximas eleições, em verdade, irão selar o destino do país. Não se trata de rotineira disputa entre a direita e a esquerda, nem a progressão natural do regime consagrado pela Constituição Federal brasileira de 1988.

Há um clima de cinismo permeado de arbítrio e violência profética que pode traduzir num sombrio futuro de nosso país. Vivenciamos o Zeitgeist brasileiro, o espírito de época, do tempo. Foi conceito introduzido por Johann Gottfried Herder e outros escritores românticos alemães. Mas, ficou célebre pela obra de Hegel, na obra Filosofia da História.

Os alemães românticos tendenciosos promoviam a redução filosófica do passado às essências, trataram de construir o espírito da época tido como argumento histórico de sua defesa intelectual. Afinal, a arte reflete a cultura da época em que foi feita. Aliás, o governo federal vetou integralmente a proposta da Lei Aldir Blanc, condenando a cultura brasileira à extrema penúria.

De 2018 até o presente momento tudo nada melhorou, durante a pandemia o Ministério da Saúde conheceu uma verdadeira dança das cadeiras, e o Ministério da Educação soterrado por uma avalanche de denúncias de corrupção e de tráfico de interesses. Não adianta editar e reeditar as motociatas a la Mussolini, lembrando que o fascista italiano além de morto, fora mutilado pelos italianos enfurecidos.

Aliás, a família do ex-ditador italiano fechou ao público a cripta onde estão os restos mortais do líder fascista desde 1957, em Predappio, ao norte da Itália. E uma de suas netas, Edda Negri Mussolini, alegou falta de recursos para manter as despesas com a manutenção do local.

Enfim, a demência e precariedade mostrou um braço frágil e as forças armadas perdidas à serviço de um governante, quando, em verdade, estão à serviço do Estado brasileiro e, mais precisamente, o Estado Democrático de Direito. A despicienda exibição do poderio militar continha um certo viés cômico, os blindados das forças armadas acenavam com as intenções antidemocráticas do governo atual.

E a tragédia prossegue em seu curso. É a graça “sem graça” dada ao Deputado Daniel Silveira, é a sequência de ofensas graves as instituições nacionais permanentes do Estado, a quebra de ética, harmonia e respeito entre os três Poderes da república. Durante os últimos quatro anos destruímos o campo democrático e, foram indiferentes à gravidade histórica. Enfim, rezemos, para a real democracia triunfe e, possamos reescrever a biografia de um país que parece não ter futuro.

(*) Gisele Leite – Mestre e Doutora em Direito, é professora universitária.