O presidente da França, Emmanuel Macron, foi recebido pelo chanceler federal alemão, Olaf Scholz, em Berlim nesta segunda-feira (9), em sua primeira visita oficial depois de ser reeleito para mais cinco anos à frente do governo francês.
Na pauta do encontro estavam a guerra na Ucrânia e a soberania europeia, com atenção especial para as áreas da defesa e energia. Segundo o gabinete de Macron, também seriam discutidos no encontro questões envolvendo a relação europeia com os países dos Bálcãs e as políticas do continente relacionadas à China.
A visita de Macron a Berlim como seu primeiro compromisso internacional após a reeleição é um sinal importante da amizade e parceria franco-alemã. Após a reunião dos dois líderes, Macron disse que a amizade entre as duas nações é, hoje em dia, mais importante do que nunca.
Nova entidade europeia
Horas antes, durante as comemorações do chamado Dia da Europa em Estrasburgo, o francês havia proposto um novo modelo de organização política para aproximar os países europeus que compartilham os valores da União Europeia (UE).
Ele disse que o processo de adesão da Ucrânia à UE poderá levar décadas, e sugeriu a criação de meios para aproximar do bloco as nações cujos valores se assemelhem aos de Bruxelas.
“A União Europeia […] não deve ser o único meio de estruturar o continente europeu em curto prazo”, disse Macron, ao propor o que chamou de Comunidade Política Europeia, que poderia convidar países que não integram a UE ou que, como o Reino Unido, a deixaram.
Segundo o francês, essa nova organização abriria espaço para as nações democráticas da Europa reforçarem a cooperação em segurança, energia, transporte, investimentos, infraestrutura e movimentação de pessoas.
A UE afirmou que divulgará em junho uma primeira avaliação do pedido de adesão ao bloco feito por Kiev. Uma vez que o status de país candidato seja concedido à Ucrânia, o processo de adesão poderá se arrastar por anos. Cada um dos 27 Estados-membros do bloco possui poder de veto, não somente no que diz respeito à adesão final, mas também ao início e fechamento das etapas de negociação.
As 27 nações vêm apoiando em conjunto a resistência ucraniana à invasão de seu território pela Rússia, com a adoção de sanções econômicas sem precedentes. Os líderes, porém, estão divididos quanto à rapidez do processo de entrada da Ucrânia no bloco, assim como o tempo necessário para romper a dependência do fornecimento de fontes de energia vindas da Rússia.
Scholz: Kiev merece “resposta honesta”
Em Berlim, Scholz e Macron reforçaram o apoio a Kiev. “Apoiamos a Ucrânia moralmente, financeiramente e militarmente”, disse o líder alemão. “Não podemos aceitar que as fronteiras europeias sejam modificadas através da violência. Faremos de tudo para garantir que a guerra não se espalhe para outros países, e para reforçar nossas capacidades militares”, enfatizou.
“Vamos também reforçar nossas posições conjuntas em termos de defesa e política externa”, completou Macron. “A guerra iniciada pela Rússia na Ucrânia tem um impacto profundo em todos nós, em nossos cidadãos, e na Europa.”
O chanceler federal alemão afirmou ser importante que a Ucrânia receba uma “resposta honesta” de Bruxelas sobre o tempo que o processo de adesão poderá levar, e afirmou que a proposta de Macron para a criação de uma nova entidade europeia é “bastante interessante, para lidarmos com esse grande desafio que enfrentamos”.
Scholz, entretanto, ressaltou que a UE não deve interromper os processos de adesão que foram iniciados, como, por exemplo, no caso da Macedônia do Norte.
Ao lado de Macron, o líder alemão ressaltou a importância do resultado das eleições na França, onde uma clara maioria votou a favor da Europa.
Ucrânia não aceitará ditadura russa
O chefe do governo alemão afirmou no domingo (8) que não haverá “paz sob uma ditadura russa” na Ucrânia, em um discurso para marcar o 77º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial na Europa.
“A Ucrânia não aceitaria isso e nós tampouco”, disse Scholz em discurso transmitido pela TV alemã. O chanceler federal afirmou também estar “profundamente convencido” de que o presidente russo, Vladimir Putin, não vencerá a guerra, iniciada em 24 de fevereiro.
“A Ucrânia irá prevalecer. A liberdade e a segurança vencerão, assim como a liberdade e a segurança triunfaram sobre a servidão, a violência e a ditadura há 77 anos”, acrescentou.
Scholz também lembrou como russos e ucranianos uma vez lutaram juntos e fizeram grandes sacrifícios para derrotar o “nacional-socialismo assassino” da Alemanha. Mas, agora, “Putin quer subjugar a Ucrânia, destruindo sua cultura e identidade (…) [e] até equipara sua guerra de agressão bárbara com a luta contra o nacional-socialismo. Isso é falsificar a história e é malicioso. É nosso dever afirmar isso claramente”, disse. (Com agências internacionais)