Enquanto o BC tenta conter a inflação, o governo Bolsonaro atua para incentivar o consumo

 
O Comitê de Política Monetária (Copom) considera “apropriada” a manutenção do ciclo de aperto monetário diante das projeções observadas e do “risco de desancoragem das expectativas” para prazos mais longos. A ata da última reunião do Copom foi divulgada nesta terça-feira (10), em Brasília.

Entre as avaliações apresentadas na ata da última reunião do comitê, que elevou a taxa básica de juro (Selic) em um ponto percentual – para 12,75% ao ano –, constam considerações sobre a continuidade da alta do petróleo, a continuidade da inflação no país e no ambiente externo, a nova onda da Covid-19 na China e a reorganização das cadeias de produção globais em decorrência da guerra na Ucrânia.

“A inflação ao consumidor segue elevada, com alta disseminada entre vários componentes se mostrando mais persistente que o antecipado. A inflação de serviços e de bens industriais se mantém alta, e os recentes choques levaram a um forte aumento nos componentes ligados a alimentos e combustíveis”, informou o Copom.

“As leituras recentes vieram acima do esperado e a surpresa ocorreu tanto nos componentes mais voláteis como nos mais associados à inflação subjacente”, acrescentou o comitê ao destacar, entre os itens mais voláteis, o aumento do preço da gasolina, “com impacto maior e mais rápido do que era previsto”.

 
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. Guedes disse que o Brasil estava pronto para reagir, agora culpa a guerra e a Covid-19 pelo salário mínimo

Na contramão do esforço do Banco Central para conter a inflação, o governo de Jair Bolsonaro estimula o consumo por meio da antecipação do décimo terceiro salário para aposentados e pensionistas, saque de até R$ 1 mil do FGTS e afrouxamento fiscal em alguns setores.

Com o cenário provocado pelo governo, que age em consonância com o Congresso Nacional, a taxa básica de juro tende a sofrer novas altas como forma de tentar conter a escalada da inflação. A previsão é que a Selic não recuará antes do segundo trimestre de 2023.

Enquanto o panorama econômico aponta na direção de uma “bomba” que explodirá no colo do próximo presidente da República, não importando quem será eleito, o salário mínimo perde valor de compra, como informamos em matéria anterior.

Na segunda-feira (9), durante o lançamento do “Monitor de Investimentos” do Ministério da Economia, o ministro Paulo Guedes afirmou que o País está “avançando em direção a um futuro de prosperidade”. De acordo com Guedes, se o Brasil estivesse “na outra direção”, “já estaríamos na miséria”.

Na opinião do ministro, o Brasil está recuperando lentamente a capacidade de investimento porque, enquanto se desvencilhava dos efeitos negativos da pandemia, foi atingido pela guerra na Ucrânia, que aumentou preços de alimentos e energia em todo o planeta. A falta de aumento real do salário entra na cota de sacrifício para essa aludida recuperação econômica, segundo Guedes, que, como sempre, se esconde atrás de desculpas estapafúrdias.