Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro arquiva denúncia contra Flávio Bolsonaro no caso das “rachadinhas”

 
O Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro rejeitou nesta segunda-feira (16) a denúncia contra o senador Flávio Bolsonaro (PL) no processo das “rachadinhas”, que o acusava de comandar um esquema de desvio ilegal de parte do salário de seus assessores.

O arquivamento da denúncia atendeu a um pedido do próprio Ministério Público, após provas importantes que fundamentavam a denúncia terem sido anuladas pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

A denúncia acusava o senador de ter enriquecido ilegalmente ao se apropriar de salários de funcionários quando atuava como deputado estadual na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Os promotores afirmam que o senador teria comandado o desvio de mais de R$ 6 milhões e cometido os crimes de peculato, organização criminosa e lavagem de dinheiro.

Anulação das provas

O documento que fundamentou o início da investigação é um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) indicando uma movimentação atípica de R$ 1,2 milhão de janeiro de 2016 a janeiro de 2017 na conta de Fabrício Queiroz, um ex-assessor de Flávio, incluindo um cheque de R$ 24 mil para a primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

 
O inquérito foi conduzido na primeira instância da Justiça do Rio de Janeiro, sob o comando do juiz Flávio Itabaiana Nicolau, da 27ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, que autorizou diversas outras medidas para coletar provas, como quebra de sigilo bancário e apreensão de celulares. Durante a investigação, foram descobertos, entre outros, 48 depósitos de R$ 2 mil em espécie na conta do senador, feitos em uma agência bancária na antiga sede da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

A defesa de Flávio recorreu, argumentando que ele deveria ter mantido o seu foro privilegiado de deputado estadual, mesmo após ter sido eleito senador. O argumento foi aceito pelo Tribunal de Justiça do Rio e depois confirmado pela Quinta Turma do STJ. Em março de 2021, os ministros da Corte decidiram que Itabaiana não poderia ter julgado o caso devido ao foro privilegiado, e em novembro anularam as provas obtidas por autorização do magistrado. As decisões foram depois confirmadas pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal.

Recomeço da investigação

A decisão do STJ não anulou o primeiro relatório de inteligência financeira elaborado pelo Coaf sobre Queiroz que embasou o início da investigação. Portanto, o Ministério Público poderia se basear nesse relatório para solicitar a produção de novas quebras de sigilo ou depoimentos, por exemplo. Contudo, outras provas obtidas durante a tramitação do caso em primeira instância, como documentos e dados de celulares apreendidos, não podem ser mais aproveitadas.

A advogada do senador, Luciana Pires, divulgou uma nota em que afirma considerar o caso encerrado e que recorrerá se uma nova investigação for aberta. “O STJ já havia anulado todas as provas. A defesa entende que o caso está enterrado, e caso haja qualquer desdobramento serão tomadas as medidas judiciais cabíveis”, afirmou.

Carlos Bolsonaro, irmão de Flávio, e o pai, o presidente Jair Bolsonaro, também já foram acusados de implementar esquemas de “rachadinha” em seus gabinetes legislativos. (Com agências de notícias)