A morte e a morte do PSDB

(*) Carlos Brickmann

Os partidos políticos, como os jornais, começam a morrer muito antes da morte oficial. O PSDB começou a morrer há 20 anos, no fim do mandato de Fernando Henrique (e já estava doente havia alguns anos, quando FHC fez algo inaceitável: trabalhou para implantar a reeleição, o que seria normal se valesse para os presidentes seguintes, mas se tornou imoral por beneficiá-lo).

O candidato tucano à sucessão era José Serra – trabalhador, preparado e eficiente. Mas, para viabilizar sua candidatura, Serra esmagou outro possível candidato, Tasso Jereissati. E não há quem convença José Sarney, aliado do PSDB, de que Serra não teve nada a ver com uma batida da Polícia Federal no escritório de seu genro, o que liquidou a possível candidatura de Roseane, sua filha.

A aliança se trincou, o PSDB não se esforçou, Serra ignorou FHC na campanha, o presidente assistiu tranquilo à vitória de Lula. Alckmin foi candidato, o PSDB não o traiu, mas trabalhar por ele também não trabalhou. Serra perdeu de novo, Aécio chegou perto – mas bastou uma denúncia de suborno, feita por Joesley Batista, da JBS, e o PSDB o deixou ao sol e ao sereno. Não o expulsou, como pedia Doria.

E agora ele dá o troco, ofertando-lhe um apoio mais falso que discurso do Bolsonaro (dizem, aliás, que Bolsonaro é o candidato de Aécio). O PSDB não morreu, mas vegeta. E ainda tem uma doença infantil: desde que foi fundado, há mais de 30 anos, não revelou ninguém – seus líderes ainda são os fundadores sobreviventes.

A morte morrida

Os partidos brasileiros têm embutido este defeito: seus líderes impedem o crescimento de possíveis sucessores. O PT foi fundado em 1979. Se Lula, cansado de guerra, resolver se dedicar apenas à família, quem é seu sucessor? Quem é o possível sucessor de José Dirceu? E de Antônio Palocci? No MDB, quem ocupa a posição de Ulysses, Montoro, Tancredo, Thales Ramalho, Teotônio Vilella? Em Alagoas, terra de Teotônio, sobrou Renan Calheiros. Na Arena, que hoje se chama PP, quais os sucessores de Petrônio Portella, Maluf, Delfim?

Não é que falte gente: falta que se abram as portas, que o partido possa se renovar dentro da mesma linha política. Parece que quem está no comando não quer criar alguém que possa depois desafiá-lo.

A morte matada

Doria não é um novato no PSDB. Era ligadíssimo a Montoro e Covas. E, mesmo assim, caiu na tentação de brincar de bolsonarista no segundo turno em São Paulo. Mas é tucano, fez um bom governo em São Paulo – fora trazer a vacina, manteve um ritmo de crescimento muito superior ao nacional, não se envolveu em escândalos, deixou praticamente pronta a tarefa que parecia impossível, a despoluição do rio Pinheiros.

Sua candidatura não chegou a decolar. Mas dizer que ele, com seus 4%, é menos viável que Simone Tebet, com 2%, é meio muito. E não deixa de ser engraçado que Rodrigo Garcia, que foi seu vice, que foi levado por ele para o PSDB para ser o candidato do partido a governador, diga agora que só foi seu vice, mas é muito diferente. Talvez seja: Doria ganhou a eleição para governador.

O talento de Musk

Elon Musk, que construiu uma fortuna de mais de cem bilhões de dólares, é sem dúvida um gênio. E não é apenas por ter criado, do nada, a Tesla, uma fabricante de cobiçados carros elétricos cujo valor em Bolsa supera hoje o da General Motors, da Toyota, da Volkswagen; não só por produzir foguetes espaciais e vendê-los para a Nasa. É um gênio por convencer o presidente da República de que pode fornecer internet à Amazônia via satélite, conectando à rede 19 mil escolas rurais e colaborando no monitoramento ambiental da região, sendo que sua empresa de internet, a Starlink, não cobre esta área e não tem satélites operando na órbita exigida.

Sua SpaceX pode lançar rapidamente esses satélites – mas ele estará disposto a investir nisso a poucos meses do fim do governo, sem saber se o presidente será mesmo reeleito?

O talento de Bolsonaro

Já Bolsonaro conseguiu convencer Elon Musk de que o monitoramento ambiental da Amazônia pode render um bom contrato. O problema do Brasil não é monitoramento, que é bem feito por gente ligada ao próprio Governo, em entidades como o INPE, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia.

Para Bolsonaro, o monitoramento é uma dor de cabeça: mostra direitinho como caminha a devastação. E fica mal para o Governo mostrar ao mundo esses dados de desmatamento ilegal.

O talento do jornalista

Traduzindo tudo: a vontade de fazer não resistirá aos estudos. E é difícil imaginar que, um tentando enganar o outro, o sonho poderá tornar-se real.

Pesquisa congelada

Os números da pesquisa XP-Ipespe não mudam: Lula 44%, Bolsonaro 32%, Ciro 8%. Doria foi de 3 para 4%, Simone Tebet de 1 para 2%. O chefe da União Brasil, Luciano Bivar, não foi citado por nenhum dos entrevistados.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

As informações e opiniões contidas no texto são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo obrigatoriamente o pensamento e a linha editorial deste site de notícias.