Bolsonaro tenta blindar candidatura de Datena ao Senado, mas apresentador pode desistir da política

 
Em matéria anterior, o UCHO.INFO destacou a importância de todos os pretendentes a uma vaga no Senado Federal saberem o que representa a Casa legislativa. Diferentemente do que muitos imaginam, o Senado representa os interesses dos estados da federação, não a população, que é representada pela Câmara dos Deputados. Isso mostra que todo cidadão que conquista um mandato de senador precisa ter preparo mínimo e conhecimento político.

Ao longo dos últimos anos, o nível do Senado despencou de forma assustadora, transformando-se em palanque para o populismo barato. Não é assim que se defende os interesses dos estados brasileiros.

O apresentador José Luiz Datena, da Band, por diversas vezes acenou com a possibilidade de ingressar na política. Até recentemente, Datena estava decidido a concorrer ao Senado na chapa do governador Rodrigo Garcia (PSDB), de São Paulo, que busca a reeleição. O alvoroço causado pelo ex-governador João Dória Júnior, que até horas atrás insistia em ser candidato à Presidência da República, fez com que Datena mudasse o rumo de sua candidatura.

Datena acabou se filiando ao PSC e anunciou que será candidato na chapa do ex-ministro Tarcísio de Freitas, que tem o apoio do presidente Jair Bolsonaro na disputa pelo governo paulista. Há dias, o apresentador da Band disse “a política pode desistir de mim”. Para quem interpreta a política nas entrelinhas, a declaração do apresentador de televisão soa como desistência.

Na última sexta-feira (20), o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, afirmou a empresários durante almoço que Datena “tinha “coisa no passado” e dificilmente seria candidato. Costa Neta ressaltou que estava em gestação um “plano B”, que no caso seria a candidatura de Paulo Skaf ao Senado.

 
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Datena, por sua vez, não gostou da afirmação e reagiu em seguida, afirmando que Costa Neto “saiu da cadeia outro dia”, em referência à condenação no âmbito do escândalo do Mensalão do PT.

No sábado (21), Bolsonaro telefonou para Datena com o intuito de diminuir a fervura, mas não por enquanto é certo que logrará êxito. No diálogo, o presidente declarou: “O cargo [de senador] é seu. Eu já disse para esses caras [lideranças do Republicanos e do PL] que você ganha a eleição. A decisão é sua, você define se quer ou não [ser candidato]”.

Bolsonaro precisa de um palanque com Datena para aumentar o número de votos no principal colégio eleitoral do País, o estado de São Paulo. O apresentador da Band, por outro lado, terá dificuldade para conciliar as seguidas e ácidas críticas à política econômica do governo e um eventual apoio a Jair Bolsonaro.

Pesquisas de opinião apontam que Datena lidera a preferência dos eleitores paulistas para o Senado, mas é preciso aguardar o resultado das urnas para cantar vitória. Mesmo assim, durante a campanha, José Luiz Datena terá de elogiar o governo Bolsonaro, que é duramente criticado no seu diário programa na Band.

Cobrar coerência de políticos é missão hercúlea, talvez impossível, mas em cima do palanque tudo é permitido, inclusive se contradizer. Caso não seja eleito, Datena voltará à televisão na condição de “dupla face”. No contraponto, se eleito, Datena, por inexperiência política, pouco ajudará o estado de São Paulo. Enfim, mais um “paraquedista” em cena.