O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, pediu nesta segunda-feira (23) “sanções máximas” contra a Rússia. Durante um discurso transmitido na abertura do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, o líder ucraniano foi ovacionado pelos participantes do evento, que neste ano vetou a participação russa devido à guerra.
Zelensky insistiu que para conter a agressão de Moscou as sanções precisam ir além das que já foram impostas por países ocidentais e devem incluir o embargo ao petróleo russo, o bloqueio de todos os bancos do país e a suspensão de todos os negócios com a Rússia.
“É assim que sanções devem ser: máximas. Só assim a Rússia e qualquer outro potencial agressor, que queira promover uma guerra brutal contra seu vizinho, saberão claramente as consequências imediatas de seus atos”, afirmou Zelensky.
Ele também defendeu a retirada completa de empresas estrangeiras do território russo, a fim de evitar o apoio à guerra, e convidou essas companhias para se mudarem para a Ucrânia. Além disso, afirmou que o país precisa de uma ajuda mínima de US$ 5 bilhões por mês.
Além das sanções, Volodymyr Zelensky reiterou a necessidade de a Ucrânia receber mais armas: “Se tivéssemos recebido tudo o que pedimos de uma só vez, ainda em fevereiro, o resultado seria que dezenas de milhares de vidas teriam sido salvas. É por isso que a Ucrânia precisa de todos os armamentos que pedimos, e não somente dos que nos foram entregues”.
O G7, grupo de países formado pelas sete maiores economias do mundo, já havia acordado na sexta-feira um repasse de quase US$ 20 bilhões em ajuda financeira à Ucrânia. O Congresso dos Estados Unidos também havia aprovado um pacote de US$ 40 bilhões. No sábado (21), durante visita à Coreia do Sul, o presidente Joe Biden sancionou o projeto.
“Esta guerra é um ponto de virada e vai reconfigurar nossos campos políticos e econômicos nos próximos anos”, disse Klaus Schwab, um dos fundadores do Fórum Econômico Mundial.
Fome é uma as preocupações
Para os políticos e empresários que participam do fórum, há uma série de tópicos sobre a mesa: guerra na Ucrânia, preços dos combustíveis, mudanças climáticas, a pandemia de Covid-19 e a escassez de alimentos causada pelo conflito na Europa.
Ovacionado após sua fala, Zelensky também lembrou que a Rússia está dificultando a exportação de alimentos, como trigo e óleo de girassol, na medida em que bloqueia portos e rouba suprimentos, segundo o governo ucraniano, o que tem trazido insegurança alimentar a países de continentes e regiões distintas, como África, Oriente Médio e partes da Ásia.
O diretor executivo do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas, David Beasley, pediu a reabertura dos portos ucranianos, lembrando que o país produz o suficiente para “alimentar 400 milhões de pessoas”.
De acordo com Beasley, se a cadeia ucraniana de suprimentos seguir fora do mercado, o mundo poderá conviver com “um inferno na Terra” nos próximos de 10 a 12 messes. Ele também alertou que há, atualmente, pelo menos 49 milhões de pessoas sofrendo com a fome em 43 países, em diferentes regiões, entre eles, Iêmen, Líbano, Mali, Burkina Faso, Egito, Congo, Guatemala e El Salvador.
“O mundo enfrenta uma grave crise. É necessário agir, o mundo precisa de vocês”, disse Beasley, ao fazer um pedido a bilionários para que ajudem financeiramente a prevenir uma catástrofe alimentar.
Como antecipou o UCHO.INFO em outra matéria, a estratégia de Vladimir Putin para contrapor as sanções internacionais é colocar o Ocidente de joelhos na esteira da restrição à exportação de alimentos, o que se dá a partir do controle do porto de Mariupol, na região ucraniana do Donbass e que Moscou quer incorporar ao território russo. A ideia é ameaçar os países que apoiam a Ucrânia com a escassez de alimentos.
Rússia fora de Davos
O Fórum Econômico Mundial voltou a ocorrer presencialmente após hiato de mais de dois anos devido à pandemia do novo coronavírus. Em 2021, o evento foi totalmente virtual. Este ano, foi adiado para maio também por causa da pandemia, já que normalmente ocorre no mês de janeiro.
Políticos e empresários russos não foram convidados para esta edição. A chamada Casa da Rússia, historicamente utilizada para promover o país durante o Fórum Econômico Mundial, foi rebatizada por críticos como Casa de Crimes de Guerra da Rússia. O local mostra fotografias de crueldades das quais o país é acusado de perpetrar em solo ucraniano.
O prefeito de Butcha, Anatoliy Fedoruk, discursará no evento. A cidade, próxima a Kiev, foi palco de cenas que chocaram o planeta. Após o exército russo deixar a região, surgiu um rastro de destruição e mortes, com dezenas de corpos espalhados por ruas, muitos deles com as mãos amarradas e enterrados em valas comuns. (Com agências internacionais e Deutsche Welle)