Troca no comando da Petrobras produzirá bomba de efeito retardado, mas Bolsonaro só pensa na reeleição

 
Como tem afirmado o UCHO.INFO, a principal ameaça ao projeto de reeleição do presidente Jair Bolsonaro não é o petista Lula, mas a desastrada política econômica conduzida pelo ainda ministro Paulo Guedes, que mandou o discurso liberal pelos ares para manter-se no cargo.

A decisão de demitir o presidente da Petrobras, José Mauro Ferreira Coelho, há 40 adias no cargo, é prova maior do desespero de Bolsonaro diante dos efeitos colaterais da alta da inflação, impulsionada também pelos preços dos combustíveis.

O chefe do Executivo quer que os preços praticados pela empresa petrolífera sejam congelados até outubro para não comprometer ainda mais a sua tentativa de permanecer no Palácio do Planalto por mais quatro anos.

A política de preços cobrada por Bolsonaro é descabida e fere as regras da Petrobras, que usa como referência a cotação do petróleo no mercado internacional, impactada pelos efeitos da guerra na Ucrânia.

A demissão de Ferreira Coelho aconteceu na esteira da decisão de aumentar o preço do diesel, assunto que apavora Bolsonaro por causa da reação dos caminhoneiros, grupo que uma paralisação em âmbito nacional o ajudou a impulsionar a campanha de 2018. Em suma, o presidente não quer provar do próprio veneno.

O não reajuste do preço do diesel é uma exigência extremamente arriscada, pois pode levar ao desabastecimento, o que provocaria um caos ainda maior na economia. Resumindo, é melhor o diesel com preço maior do que a falta do produto no mercado.

Em vez de protestar contra os preços dos combustíveis (gasolina, diesel e gás de cozinha), o brasileiro deveria cobrar de Jair Bolsonaro uma política econômica minimamente eficaz, já que Paulo Guedes foi apresentado ao eleitorado, ainda em 2018, como “Posto Ipiranga”.

 
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Ao governo não cabe interferir na política de preços da Petrobras, mas tem poder para mudar o conselho e o presidente da empresa, que por sua vez trocam a diretoria. O Palácio do Planalto já deu “carta branca” para que essas mudanças aconteçam. No caso de troca dos diretores da companhia, é importante saber quem aceitará ser responsável por uma bomba de efeito retardado. Afinal, que assume postos de direção na maior companhia brasileira é responsável solidário pelas decisões do colegiado.

Que ninguém creia no malabarismo eleitoreiro de Bolsonaro para conter os preços dos combustíveis até outubro, pois passadas as eleições o caos voltará à cena muito maior e com mais capacidade de produzir estragos na economia.

De acordo com dados divulgados pela em abril de 2022, o governo detém 50,30% das ações da Petrobras com direito a voto. Quando consideradas todas as ações da petrolífera, o governo 28,7% de participação acionária. O BNDES e o BNDESpar juntos têm 7,9%. Isso significa que 63,40% das ações da Petrobras estão nas mãos de investidores privados (nacionais e estrangeiros), que devem ter seus direitos respeitados. Mesmo assim, o governo insiste na tese da privatização de uma empresa que tem quase dois terços das ações nas mãos da iniciativa privada.

Resumindo, Bolsonaro pode ludibriar muitos por algum tempo, mas jamais a enganação será eterna. Ou o brasileiro abre os olhos para a realidade e baliza o voto que depositará nas urnas em outubro próximo, ou aceita a ideia de que o pior ainda está por vir.