(*) Gisele Leite
No momento contemporâneo da história brasileira, atravessando uma das maiores crises em diversos aspectos econômicos, políticos e ideológicos e, também, sanitários.
E acrescidos com os típicos problemas estruturais do país, aliado ainda às mudanças ocorrentes no cenário internacional, diante de revoluções tecnológicas e o combate ao aquecimento global, as eleições de 2022 cogitam sobre a famélica terceira via.
Reina a bipolarização que disputa as preferências do eleitorado, sendo notória a preferência que rejeita o atual Presidente da República, o que despertou a busca por alternativa que venha atender aos interesses do povo, surgindo o famoso discurso em prol da terceira via.
De fato, a expressão “terceira via” não é original e foi criada em razão de proposta da renovação política e econômica alternativa ao socialismo e ao liberalismo, tendo como um de seus principais criadores o sociólogo Anthony Giddens, ligado ao Partido Trabalhista britânico.
A tese formulada alcançou sucesso considerável e trouxe figuras relevantes, como Fernando Henrique Cardoso, Bill Clinton e Tony Blair, o ex-primeiro-ministro do Reino Unido.
Os dois últimos foram expressivos quando em conferência em Nova York para lançar a ideologia e rejeitaram a crença neoliberal de que tudo pode ser deixado para o mercado, também enxergavam a tradicional fé na intervenção do Estado na economia por parte da esquerda.
Enfim, acreditou-se que a terceira via seria hábil a oferecer melhores respostas para a vetusta dicotomia direita-esquerda e jamais conseguiu. Porém, com o tempo a ideologia foi perdendo importância no cenário internacional e veio adquirir outro significado dentro da política brasileira.
Desde os primórdios da Nova República, a política brasileira passou a viver de coalizões de centro-esquerda, lideradas pelo PT e, também de coalizações de centro-direita, com o PSDB. E, tal fato se deu em todas as eleições, com exceção de 1989 e 2018, com Fernando Collor e Jair Messias Bolsonaro.
A ideia de um candidato alternativo aos dois grupos mencionados acima sempre foi o desejo, tanto que houve com Leonel Brizola, Enéas Carneiro, Ciro Gomes, Anthony Garotinho, Heloisa Helena e Marina Silva.
As terceiras vias no contexto brasileiro vêm sendo meramente conjunturais com políticos de esquerda. E as oito últimas eleições indicam que a terceira via é algo que ainda precisa ser construído e consolidado no Brasil, pois não tem obtido sucesso nas três décadas de disputas para a Presidência da República.
De fato, a polarização afetiva prima pelo antagonismo, respaldando diferentes e diametralmente opostos projetos de governo, pode-se afirmar que a rejeição a Bolsonaro e Lula é transversal, atingindo os mais diversos setores da sociedade com grupos de esquerda e de direita se posicionando contra ambos.
Com mais de seiscentos mil vítimas fatais do coronavírus, e com expressivo número de mortes evitáveis no Brasil, há uma contraposição feroz entre saúde e economia.
E o atual governo federal demonstrou-se desfavorável ao uso de máscaras faciais, da quarentena, do isolamento social e mesmo o avanço na distribuição de vacinas quando estas se fizeram disponível, acena com precárias formas de medidas de enfrentamento da pandemia de Covid-19.
Soma-se, ainda, a contribuição da CPI da Covid que levanta um rol de crimes cometidos pelo governo federal e seus algozes tanto do meio político como do empresarial. Mas, até o momento, nenhuma punição fora efetivada…
A inflação, por sua vez, deriva mais de um cenário internacional do que de um quadro especificamente brasileiro, apontando uma alta de preços provocada por choques de oferta, com energia mais cara, alta do dólar, do petróleo e de outras matérias primas, pressionando cada vez mais a inflação.
Adicione-se ainda a escassez hídrica e o risco de ocorrer um apagão, o que também encarece o preço da energia elétrica no país e a histórica desvalorização do real.
Com a anunciada desistência de João Dória à candidatura à Presidência da República, parece acenar que a terceira via será ocupada por Simone Tebet e demais coalizões partidárias em oposição ao atual governo federal.
Cada vez mais percebe-se que a terceira via se torna inviável…
(*) Gisele Leite – Mestre e Doutora em Direito, é professora universitária.
As informações e opiniões contidas no texto são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo obrigatoriamente o pensamento e a linha editorial deste site de notícias.