Após matança na Vila Cruzeiro, PM do Rio tem de lidar com prisão de 9 policiais que favoreciam traficantes

 
Dois dias após o secretário de Polícia Militar do Rio de Janeiro, coronel Luiz Henrique Marinho Pires, culpar o Supremo Tribunal Federal (STF) pela migração de criminosos para o estado, argumento pífio usado para justificar a matança na comunidade de Vila Cruzeiro, na zona norte carioca, a corporação sofreu um duro golpe nesta quinta-feira (26), confirmando matéria do UCHO.INFO.

O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) e a Corregedoria da PM fluminense prenderam nesta quinta-feira nove policiais militares no âmbito da Operação Mercenários. Ao todo, 11 policiais eram procurados por corrupção, tortura, peculato e concussão – quando um funcionário público se vale do cargo para obter vantagens indevidas.

O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MP-RJ) afirmou que o grupo sequestrava criminosos mediante tortura e pagamento de resgate, vendia armas, vazava informações sobre operações policiais e fazia “troia”, espécie de tocaia para surpreender traficantes.

O MP-RJ cita como exemplo caso em que quatro dos denunciados exigiram R$ 1 milhão de Léo Marrinha, chefe do tráfico dos morros Cantagalo e Pavão-Pavãozinho, para não ser preso.

Entre os investigados, estão o comandante do 15º BPM (Duque de Caxias), tenente-coronel André Araújo de Oliveira, que foi afastado; e o chefe do Serviço Reservado (P2) do batalhão, capitão Anderson Santos Orrico. Contra a dupla havia mandados de busca e apreensão. Na casa de Orrico foram apreendidos R$ 96 mil, na sala utilizada pelo militar no batalhão o MP apreendeu R$ 37 mil em espécie.

Na casa do subtenente Antônio Carlos dos Santos Alves, também lotado no Batalhão de Duque de Caxias, agentes apreenderam armas longas, munição, radiocomunicadores, joias e R$ 120 mil em espécie.

 
A Secretaria de Polícia Militar informou que colabora com as investigações. “A secretaria e o MPRJ atuam conjuntamente para cumprimento de mandados de prisão e mandados de busca e apreensão em desfavor de policiais militares”, afirmou, em nota.

“Preventivamente, o comandante do 15º BPM foi afastado da unidade visando à isenção no andamento do caso. A Polícia Militar não compactua com desvios de conduta e tem como objetivo a apuração dos fatos”, completa o documento.

Em relação à irresponsável operação policial na Vila Cruzeiro, a segunda mais letal da história do Rio de Janeiro e que até o momento deixou 23 mortos, informamos anteriormente que não apenas traficantes de drogas agem nas comunidades, mas também milícias, onde alguns policiais militares ocupam postos de comando na estrutura criminosa.

Omisso e passando ao largo de suas obrigações, o Estado permite que o crime organizado se instale em regiões onde prevalece o caos social, como é o caso da Vila Cruzeiro, que abriga em sua extensa maioria pessoas honestas e trabalhadoras.

O crime precisa ser combatido de maneira firme e contínua, sempre a partir da inteligência policial, mas substituir o fracasso das políticas de segurança por execuções é atestar que o Estado deixou de existir.

Independentemente de os alvos das operações policiais terem ligações com o tráfico de drogas ou antecedentes criminais, o poder público tem o dever legal de prender, julgar e condenar, ao mesmo tempo em que é responsável pela recuperação do apenado.

Uma matança a três meses das eleições soa estranho e serve para turbinar as campanhas dos que diuturnamente ignoram os direitos humanos. Se a omissão criminosa do Estado causa asco, o perigo que ronda a democracia é preocupante. [Fotos: operacao_mercenarios_1001 & operacao_mercenarios_2001]