Flávio Bolsonaro se contradiz ao afirmar que comprou mansão no DF com dinheiro de trabalho como advogado

 
Quando surgiu na cena política como candidato à Presidência da República, em 2018, o então deputado federal Jair Bolsonaro “vendeu” ao eleitorado brasileiro a falsa ideia de que, se eleito, governaria à sombra do discurso antipolítica. À época, o UCHO.INFO afirmou sem medo de errar que Bolsonaro era, como ainda é, “mais do mesmo” e levaria o País ao retrocesso e ao obscurantismo.

Após ter se apresentado como um aguerrido combatente da corrupção, Bolsonaro não precisou de muito tempo para ser emoldurado por escândalos, alguns dos quais envolvendo a própria família. Além disso, com o objetivo de barrar mais de uma centena de pedidos de impeachment, o presidente aceitou ser refém do Centrão, o que há de pior na política nacional.

O mais novo e estupefaciente episódio bolsonarista envolve o filho “01” do presidente da República, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que abusou da criatividade ao explicar à Justiça como conseguiu comprar uma mansão em Brasília ao custo de R$ 6 milhões, sendo que à Justiça Eleitoral informou patrimônio muito aquém.

Flávio informou à Justiça ter utilizado recursos provenientes do seu trabalho como advogado para viabilizar parte do financiamento da mansão localizada em área nobre de Brasília.

Contudo, não há registros de processos em que Flávio Bolsonaro conste como advogado, tanto no Distrito Federal quanto no Rio de Janeiro, onde o senador tem inscrição válida na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). De igual modo, nos tribunais superiores não consta o nome de Flávio como advogado em ações judiciais.

 
Por ocasião da compra da mansão, quando o assunto veio a público, o senador informou ter utilizado recursos obtidos como empresário e da venda de imóvel no Rio de Janeiro. Naquele momento, Flávio Bolsonaro não mencionou o uso de honorários advocatícios.

Flávio Bolsonaro prestou tal informação no âmbito de ação judicial que tramita no Tribubunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJ-DFT) movida pela deputada federal Erika Kokay (PT-DF).

De forma acertada e lógica, a parlamentar petista questiona a capacidade financeira do senador para obter um financiamento imobiliário no Banco de Brasília (BRB) no valor de R$ 3,1 milhões, montante necessário para completar o pagamento pela compra do imóvel.

A defesa do senador contestou a argumentação de Erika Kokay alegando que “a renda familiar dos réus [Flávio e a esposa, Fernanda Bolsonaro] não está adstrita somente à remuneração percebida pelo réu no exercício da atividade parlamentar, visto que o mesmo atua como advogado, além de empresário e empreendedor, por muitos anos”.

Se por um lado a alegação de Flávio Bolsonaro não se sustenta, por outro a solução do enigma é muito simples e fácil. Basta, após quebra do sigilo fiscal, oficiar a Receita Federal para que informe se o senador informou na declaração do Imposto de Renda o recebimento dos aludidos honorários como advogado. Em caso negativo, Flávio terá incorrido em sonegação tributária, no que se refere à Receita, e em falsidade ideológica ao informar à Justiça fato inexistente.

Do contrário, a solução seria convocar Fabrício Queiroz, o assessor bolsonarista que pilotou o esquema criminoso das “rachadinhas” e se especializou no milagre da multiplicação das cédulas. Afinal, Queiroz afirmou em entrevista que a movimentação suspeita em sua conta bancária era proveniente da compra e venda de automóveis. Em suma, todos no entorno de Jair Bolsonaro posam como gênios tropicais, quando na verdade são atores no cenário da corrupção.