O Brasil precisa mudar, o Maranhão está farto do pão e circo, o maranhense quer “saída para qualquer parte”

 
(*) Waldir Maranhão

As eleições se aproximam e fazer a alegria do eleitor é ordem primeira. Isso significa que governantes e candidatos à eleição ou reeleição em breve acionarão a máquina de promessas. Quem ocupa cargo no Executivo larga na frente porque usa a máquina estatal para vender sonhos.

O Brasil precisa mudar, virar a página, pois é impossível compactuar com um cenário de crise que só avança. Não será com promessas impossíveis de serem cumpridas que a mudança surgirá no horizonte.

O Maranhão, minha terra natal, também precisa mudar com urgência. Aliás, precisa de uma mudança maior e mais abrangente e impactante. Ficar de braços cruzados enquanto a tragédia social assola a mais pobre unidade da federação é covardia política.

Entra governo, sai governo, e a realidade do Maranhão só piora. Esse movimento rumo ao caos não é recente, vem de décadas.

De nada adianta se aproximar do povo durante a campanha e depois, quando concluídas as eleições, dar-lhe as costas, fingir que algo está sendo feito em seu favor. Números estatísticos, coletivas de imprensa, pronunciamentos oficiais, anúncio de programas de governo não colocam comida no prato do trabalhador, cada vez mais faminto.

O cenário político-eleitoral que volta a dominar o país me faz lembrar do verso “Pão e Circo” (Panis et Circenses, em latim), de autoria do escritor romano Juvenal. O vocábulo (originalmente “Panem et Circenses”) foi usado como crítica ao povo de Roma, à época mais interessado em pão e diversões do que nas questões políticas.

É importante que cada cidadão se importe com as questões políticas, pois só assim é possível proteger a democracia e cobrar do Estado os direitos garantidos pela nossa Constituição.

Não seguindo esse caminho, o povo continuará enfrentando o dia a dia como se estivesse a praticar o funambulismo, que consiste em caminhar sobre uma corda esticada e elevada, a famosa “corda bamba”.

Em São Luís, capital do meu estado, o Maranhão, a teoria do “pão e circo” voltou com mais força ao cotidiano.

Na terça-feira, 31 de maio, o trânsito da Ponte José Sarney, também conhecida como Ponte do São Francisco, teve o trânsito interrompido por horas devido à queda de um poste. Após intensa chuva, a estrutura metálica cedeu em determinado ponto por causa do peso das bandeirinhas instaladas no local em razão do período de festas juninas.

Volto a “Panis et Circensis”, desta vez a canção de autoria de Caetano Veloso e do agora imortal Gilberto Gil, gravada em 1968 pelo grupo Os Mutantes. No primeiro verso, a canção diz: “Eu quis cantar minha canção iluminada de sol / Soltei os panos sobre os mastros no ar / Soltei os tigres e os leões nos quintais / Mas as pessoas na sala de jantar / São ocupadas em nascer e morrer…”

O mastro da Ponte do São Franciso arreou não só por causa dos panos cantados por Caetano e Gil, mas pelo populismo barato que domina a política brasileira. De nada adianta adornar a cidade de São Luís para comemorar os santos juninos, se longe da sala de jantar os maranhenses estão ocupados apenas em nascer e morrer. Não têm direito a uma vida minimamente digna.

Mudar o cenário, como citei no início do artigo, passa obrigatoriamente por investimentos na educação, bandeira que sempre defendi e continuarei defendo até o último suspiro. Não se muda a realidade de uma nação só com discursos pomposos, mas com cidadãos dotados de conhecimento.

Apenas para que o leitor consiga avaliar a importância de investimentos na educação e o descaso com o setor, o Brasil investe quatro vezes mais no sistema prisional em comparação com a educação básica, de acordo com levantamento feito pela Universidade de São Paulo (USP). Cada preso custa, em média, R$ 1,8 mil por mês, enquanto um aluno de escola pública nesta etapa de aprendizagem recebe R$ 470 em investimentos mensais.

O noticiário tem dedicado cada vez mais espaço para notícias relacionadas à insegurança, a crimes dos mais distintos. Isso significa que as portas do mundo do crime estão escancaradas para os que foram deixados à margem ao longo de seguidos governos. Punir os infratores é um dever do Estado, mas é preciso disponibilizar uma luz no fim do túnel. Essa luz chama-se educação.

O Brasil está farto do “pão e circo”. Aproveito minha inspirada fase musical para relembrar a canção “Comida”, dos Titãs, que em determinado verso entoa: “A gente não quer só comida / A gente quer comida, diversão e arte / A gente não quer só comida / A gente quer saída para qualquer parte…”

Disse o grande educador Paulo Freire: “Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo.”

(*) Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista e comentarista político, escritor, poeta, palestrante e fotógrafo por devoção.

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