Boris Johnson derrota moção de desconfiança, mas sai enfraquecido em termos políticos

 
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, derrotou nesta segunda-feira (6), por 211 votos contra 148, uma moção de desconfiança dentro do próprio Partido Conservador, mas o resultado escancarou um enfraquecimento crescente do chefe do governo.

A votação foi secreta. A moção havia sido apresentada por deputados do partido de Johnson insatisfeitos com a conduta pessoal do premiê após a eclosão do escândalo do “partygate”.

Para que Johnson derrotasse o voto de desconfiança era necessário que ele arregimentasse uma maioria absoluta – 180 votos ou mais.

Com a vitória, Boris Johnson permanece na liderança do Partido Conservador e segue por enquanto no cargo de premiê. O resultado também determina que Johnson também fica imune durante um ano a uma nova contestação interna.

Por outro lado, a imprensa britânica apontou imediatamente que os 148 votos contra Johnson e a diferença de apenas 63 votos demonstram que Johnson perdeu a influência de 41% dos deputados do seu próprio partido, o que deve dificultar ainda mais o funcionamento do seu governo.

Os 148 votos superaram estimativas iniciais sobre o tamanho da oposição ao premiê. O resultado obtido por Johnson também foi pior do que o da sua antecessora, Theresa May, em voto de contestação à sua liderança em 2018. À época, May obteve 200 votos a favor e 117 contra, diferença de 83 votos, com 37% dos deputados contrários à sua liderança.

Boris Johnson, que conquistou ampla vitória eleitoral em 2019, está sob pressão desde a revelação que ele e sua equipe realizaram festas regadas a álcool enquanto o Reino Unido estava sob rígido lockdown para combater a Covid-19. A imagem pública de Johnson também sofreu com o escândalo. Ele foi recebido com vaias em eventos para celebrar o Jubileu de Platina da rainha Elizabeth II nos últimos dias.

A votação para contestar a liderança interna de Johnson também marcou uma mudança radical de atitude entre membros do Partido Conservador. Nos últimos dias, aliados do primeiro-ministro acreditavam que os críticos não teriam força para organizar a moção.

 
Nesta segunda-feira, Johnson também foi atacado pelo ex-aliado Jesse Norman, que disse ser a permanência do primeiro-ministro no poder um insulto tanto ao eleitorado quanto ao partido.

“Você presidiu uma cultura de violação da lei no número 10 da Downing Street (residência oficial do premiê) em relação à Covid”, afirmou Norman, acrescentando que o governo tinha “uma grande maioria, mas nenhum plano de longo prazo”.

Jeremy Hunt, ex-ministro da Saúde que concorreu contra Johnson pela liderança dos conservadores em 2019, disse que o partido sabia que estava decepcionando o país. “A decisão de hoje é mudar ou perder”, disse ele. “Vou votar pela mudança.”

Críticos de Johnson dentro do partido vinham articulando uma votação para contestar a liderança do premiê. Para dar o pontapé para a votação eram necessários pedidos por carta de pelo menos 15% dos 359 deputados da maioria conservadora, ou seja 54, número que foi alcançado no domingo.

Alguns parlamentares haviam decidido adiar o envio de seus pedidos até a conclusão dos quatro dias de celebrações no Reino Unido para marcar os 70 anos de reinado de Elizabeth II, abrindo caminho para que a votação ocorresse apenas nesta segunda-feira.

Em caso de derrota, o partido teria de organizar nas próximas semanas uma eleição interna para designar um novo líder, que seria automaticamente alçado ao posto de primeiro-ministro do Reino Unido.

O Partido Conservador tem um histórico implacável de defenestrar líderes que deixaram de ter apelo eleitoral. Mesmo os políticos da legenda que sobrevivem a esse tipo de votação costumam se ver enfraquecidos.

Margaret Thatcher venceu uma moção contra sua liderança em 1989, mas acabou renunciando em 1990 após ser desafiada mais uma vez, sem esperar pela votação final. Passadas mais de duas décadas, a premiê conservadora Theresa May também venceu uma moção de desconfiança interna em dezembro de 2018, mas apenas quatro meses depois começou a sinalizar sua intenção de deixar o cargo, na esteira do acúmulo de derrotas do governo no Parlamento. Ela renunciou ao cargo de primeira-ministra após menos de seis meses.


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