Juntando as metades

(*) Gisele Leite

O Minotauro é o ser metade homem e metade animal, sendo produto da relação entre a mulher de Minos, rei de Creta, e um touro. A singular relação fora uma vingança dos deuses contra Minos que, encantado com beleza desse animal recebido como sinal de aprovação divina de seu reinado, resolveu ficar com ele ao invés de sacrificá-lo ao deus, conforme havia sido prometido.

Quando Minotauro cresceu e se tornou uma incontrolável besta, foi construído um vasto labirinto para abrigá-lo, sendo que para alimentá-lo eram necessárias muitas vidas de jovens. Minos obrigou Egeu, rei de Atenas, acusado de ter matado o filho de Minos, a pagar anualmente esse tributo. E, com isso, fora estabelecida a Paz Cretana para além das terras e dos mares, através de uma tributação estrangeira regular que mantinha o Minotauro bem alimentado.

Os historiadores apontam que o Minotauro de Creta representava a hegemonia política e econômica da região do Mar Egeu. E as cidades-Estados mais fracas, tal como Atenas, tinham que pagar impostos a Creta regularmente como um sinal de subjugação.

E, assim, desde a mitologia greco-romana que tributos significam parcelas de poder. A recente medida governamental em isentar de ICMS dos combustíveis, além de provar um parco efeito para o consumidor final, terá um certeiro e significativo peso no orçamento público.

Além de se revelar como mera medida eleitoral, o atual governo não resolverá os problemas sobre o preço dos combustíveis, além de acenar com promessa de reembolso aos Estados.

Outro detalhe é a ilegalidade da proposta, por usar a máquina governamental para fins eleitoreiros. Enfim, com o resultado das últimas pesquisas apontando que o candidato a reeleição perderá ainda no primeiro turno, o desespero compareceu no ânimo da equipe do governo.

Tal qual Minos apaixonado pelo Minotauro, Bolsonaro não quer se desencantar do poder. Nem unindo as metades dispersas no atual cenário tem-se um governo íntegro e minimamente eficiente que vaga no mais amplo labirinto contemporâneo.

(*) Gisele Leite – Mestre e Doutora em Direito, é professora universitária.

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