Com atraso, União Europeia conclui que bloqueio russo à exportação de grãos é “crime de guerra”

 
Muitos anos antes da guerra na Ucrânia, o UCHO.INFO alertou para o perigo que representava a dependência da União Europeia em relação ao gás russo. Isso porque o presidente da Rússia, Vladimir Putin, poderia transformar esse importante detalhe em moeda de troca “indigesta”. Dias após a invasão ao território ucraniano, afirmamos que Putin em algum momento usaria uma crise alimentar global em arma de guerra.

O tempo passou e, senhor da razão, confirmou nossas previsões. Não se trata de profecia do apocalipse, pelo contrário, mas de uma visão estratégica sobre como se dão as relações no tabuleiro internacional. Com mais de um ano de antecedência anunciamos a invasão do Iraque pelo governo do presidente George W. Bush, dos Estados Unidos. À época, ninguém acreditava nessa possibilidade.

Não apenas a invasão ao território iraquiano confirmou nossa previsão, como o filme “Vice”, do cineasta Adam McKay, relata com detalhes a ascensão de Dick Cheney, então vice de Bush, o filho, e responsável maior pela invasão ao Iraque.

Agora, com semanas de atraso, a União Europeia (UE) descobre o que era previsível. Chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell afirmou nesta segunda-feira (20) que a Rússia comete um “verdadeiro crime de guerra” ao bloquear a exportação de cereais e grãos da Ucrânia, devendo ser responsabilizada por isso.

“É inconcebível, não se pode imaginar que milhões de toneladas de trigo permaneçam bloqueadas na Ucrânia, enquanto no resto do mundo pessoas passam fome. Isso é um verdadeiro crime de guerra”, disse Borrell ao chegar para uma reunião dos ministros das Relações Exteriores da União Europeia (UE) em Luxemburgo.

Borrell insistiu que as sanções adotadas pela União Europeia não são responsáveis pelas ameaças à segurança alimentar.

“As sanções europeias impostas à Rússia não são direcionadas a produtos agrícolas e fertilizantes. Podem vender, comprar, exportar”, acrescentou o Alto Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança.

 
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Ele destacou que “estão avançando os esforços diplomáticos liderados pela Organização das Nações Unidas” para negociar com Moscou a saída de alimentos da Ucrânia.

“Espero que ninguém resista à pressão da comunidade política e que no final se chegue a um acordo”, detalhou Borrell, destacando que a Rússia é a única responsável pela situação de bloqueio.

“Rússia deve parar de brincar com a fome”

“A Rússia deve parar de brincar com a fome no mundo”, disse, por sua vez, a ministra francesa das Relações Exteriores, Catherine Colonna. A chefe da diplomacia francesa acrescentou que a Rússia “deve acabar com o bloqueio dos portos da Ucrânia e parar de destruir a infraestrutura de armazenamento” daquele país. Na opinião da chanceler francesa, “deixar cereais bloqueados é perigoso para a estabilidade do mundo”.

Os chanceleres europeus iniciaram nesta segunda-feira em Luxemburgo uma reunião cuja agenda inclui discussões sobre as ameaças à segurança alimentar devido à guerra na Ucrânia, e também a “batalha narrativa” sobre os impactos do conflito.

“Defesa dos portos com meios militares”

O ministro das Relações Exteriores da Lituânia, Gabrielus Landsbergis, pediu a “defesa dos portos ucranianos” com meios militares. “Se levamos a sério a crise alimentar, devemos levar a sério a defesa dos portos. Infelizmente, não há outra maneira de abrir portos como Odessa”, argumentou.

Nesse sentido, ele assinalou que Kiev já exigiu equipamentos específicos que alguns Estados membros possuem, sem mencioná-los expressamente. “Espero que os pedidos sejam ouvidos. Precisamos de dissuasão para que os russos não aproveitem a oportunidade para atacar os portos e os navios que transportam grãos”, disse Landsbergis.

“Tempestade perfeita” na África

O Programa Alimentar Mundial Organização das Nações Unidas (PAM) alertou nesta segunda-feira para novos e iminentes cortes no abastecimento de alimentos para as populações mais necessitadas da África, que por sua vez continuarão crescendo até acabarem por formar uma “tempestade perfeita” de excesso de demanda e oferta mínima para milhões de necessitados.

“O PAM já foi forçado a reduzir significativamente as porções para refugiados em todas as suas operações”, lamentou a agência da ONU em um comunicado por ocasião do Dia Mundial do Refugiado. (Com agências internacionais)


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