Faltando 100 dias para as eleições, Bolsonaro decide criar vale-diesel e aumentar o valor do “auxílio gás”

 
O governo de Jair Bolsonaro chegou à conclusão de que interferir na política de preços da Petrobras é algo impossível. Em edições anteriores afirmamos que qualquer medida nesse sentido acabaria na Justiça, pois os direitos dos acionistas minoritários devem ser respeitados. Não é por causa de um projeto de reeleição, que desmorona com o passar do tempo, que detentores de ações da petrolífera brasileira devem acumular prejuízos.

Esse cenário obriga, em tese, o governo Bolsonaro a desistir da CPI para investigar a política de preços da companhia, já que a Lei das Estatais impede interferência política na empresa. Isso também manda ao rés do chão a proposta do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), de mudar a Lei das Estatais por meio de medida provisória.

Segundo Lira, alteração na Lei das Estatais colocaria a empresa “em sinergia com o governo do momento”. Na verdade, o que o presidente da Câmara dos Deputados pretende com a esdrúxula e irresponsável proposta reeditar o esquema de corrupção que sangrou os cofres da Petrobras. É importante ressaltar que o partido de Lira, o PP, foi um dos principais protagonistas do escândalo que ficou conhecido como Petrolão.

Em agosto de 2005, o UCHO.INFO fez as primeiras denúncias sobre o esquema criminoso que dava os primeiros passos na Petrobras, criado nas entranhas palacianas para substituir o Mensalão do PT. Isso porque o governo de então, após o primeiro grande escândalo da era petista, entendeu ser melhor deixar bônus e ônus às legendas aliadas. Em 2009 levamos denúncia mais robusta ao Ministério Público, sendo que cinco anos mais tarde foi deflagrada a Operação Lava-Jato.

Um dos caciques do Centrão, Arthur Lira não apenas busca a reeleição, mas quer avançar cada vez mais na estrutura do governo federal, como forma de compensar o apoio que o informal bloco parlamentar dá ao presidente Jair Bolsonaro. As emendas de relator, batizadas de “orçamento secreto”, são prova inconteste desse conluio criminoso entre o Centrão e o Palácio do Planalto. Não por acaso, Lira mantém engavetados mais de 140 pedidos de impeachment de Bolsonaro.

 
Nenhum parlamentar que flerta com a reeleição deseja enfrentar dificuldades eleitorais provocadas pelos elevados preços dos combustíveis, mas a proposta de Lira é no mínimo criminosa. Além disso, para um governo que prometeu combater a corrupção e decretar o fim da chamada “velha política”, a gestão de Jair Bolsonaro é um escárnio.

Diante de mais um impasse criado na seara dos combustíveis, o governo trabalha nos bastidores do Congresso Nacional para aprovar um vale-diesel de R$ 400 para caminhoneiros e elevar o valor do “auxílio gás”, atualmente fixado em R$ 53 e pago a 5,7 milhões de famílias. Ou seja, o “auxílio gás” criado pelo governo corresponde a menos da metade do valor de um botijão de gás.

Os detalhes foram acertados nesta terça-feira (21) durante reunião entre o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, e os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), respectivamente.

O governo Bolsonaro optou por essa solução depois que Rodrigo Pacheco se posicionou contra a alteração da Lei das Estatais por meio de medida provisória, como havia proposto Lira.

Faltando quatro meses para as eleições de outubro, o presidente Jair Bolsonaro tenta encontrar uma forma de transferir aos contribuintes o custo de seu projeto de reeleição. Na verdade, Bolsonaro deveria demitir o ministro Paulo Guedes, o “Posto Ipiranga”, por conta de uma política econômica desastrada e elitista.


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