Flávio Bolsonaro tenta minimizar prisão de Milton Ribeiro, mas no governo o clima é de tensão

     
    Reza a sabedoria popular que “a melhor defesa é o ataque”. É temerário afirmar que essa tese funciona, mas faz-se necessário ressaltar que nem sempre tal estratégia logra êxito. Um dos campos em que o ataque nem sempre dá bons resultados é a política, onde muitas vezes a reação não passa de demonstração de desespero.

    Especialista no milagre da multiplicação patrimonial e em liderar um esquema criminoso de “rachadinhas” enquanto exercia mandato de deputado estadual no Rio de Janeiro, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) tentou minimizar os efeitos colaterais da prisão de Milton Ribeiro, ex-ministro da Educação e já em liberdade por decisão do TRF-1

    Filho mais velho do presidente da República, Flávio Bolsonaro tentou isentar o pai e afirmou que o governo está “tranquilo” em relação à prisão de Ribeiro e dos pastores-lobistas que cobravam propina para liberar verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

    “É uma clara tentativa de usar eleitoralmente esse fato em que há suspeita sobre o ex-ministro Milton. Enquanto o presidente Bolsonaro trabalha dia e noite para reduzir o preço do combustível, para reduzir o preço da comida, a oposição tenta usar isso eleitoralmente e colocar o Bolsonaro na mesma prateleira do Lula, o que é impossível porque o Lula é o maior ladrão da história do nosso país”, afirmou o parlamentar fluminense.

    Assim como o chefe do Executivo, o senador do PL vive à margem da realidade. No tocante à afirmação de que Lula é “o maior ladrão do Brasil”, Flávio Bolsonaro deveria saber que, de acordo com a Constituição Federal (artigo 5º, inciso LVII), “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”.

     
    Lembramos que não estamos a defender Lula e outros envolvidos no escândalo do Petrolão, pelo contrário, até porque coube ao editor fazer as primeiras denúncias sobre o esquema de corrupção que funcionou na Petrobras, mas, sim, cobrar o respeito à lei em sua inteireza, que vale inclusive para que surrupiam parte dos salários dos servidores de gabinete. E nessa seara o clã presidencial é especialista.

    Com referência a ser o “maior ladrão” do País, Flávio Bolsonaro precisa compreender que aqueles que incorrem no que descreve o artigo 157 do Código Penal são condenados pelo ato praticado, não pelo montante subtraído. Em outras palavras, é “ladrão” quem desvia dinheiro da Petrobras e quem comanda esquema de “rachadinhas”. Se o assunto do momento na vida de Flávio Bolsonaro é a ladroagem, que o nivelamento se dê por baixo.

    Sobre a afirmação de que o presidente da República “trabalha dia e noite para reduzir o preço do combustível, para reduzir o preço da comida”, Flávio Bolsonaro deveria assumir publicamente, mesmo com elevadas doses de vergonha, que a única coisa que seu pai não faz é trabalhar. Aliás, há três décadas que Jair Bolsonaro finge trabalhar. Em relação a reduzir os preços dos alimentos e dos combustíveis, os temas só entraram na pauta do cotidiano político porque Bolsonaro aparece atrás nas pesquisas eleitorais.

    Enquanto Flávio Bolsonaro tenta criar uma cortina de fumaça, o presidente da República, em sua primeira declaração após a prisão do ex-ministro da Educação, afirmou que Milton Ribeiro deve responder por seus atos. O ex-titular da Educação afirmou em depoimento à Polícia Federal que as demandas dos pastores-lobistas eram atendidas com prioridade a pedido do próprio Bolsonaro.

    Confirmando diversas matérias do UCHO.INFO sobre o escândalo na Educação, o presidente da República, assessores palacianos e o núcleo duro da campanha pela reeleição do ex-capitão, que consideram a prisão de Ribeiro e dos pastores um “desastre”, continuam temendo a possibilidade de delação premiada, principalmente por parte de Milton Ribeiro.