Pedro Guimarães, ex-presidente da Caixa, transforma artigo pífio em espetáculo mambembe de vitimização

 
Prega a sabedoria popular que “o ataque é a melhor defesa”. Essa tese serve para quem não sabe como explicar o inexplicável e busca no campo do absurdo alguma justificativa, mesmo que torpe. Agora ex-presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães assinou nesta terça-feira (5) artigo publicado no jornal “Folha de S.Paulo”, no qual afirma ser vítima de um achincalhe moral, assim como sua família. O outrora comandante da Caixa, bolsonarista de primeira hora, ressalta estar pronto para “a mais profunda devassa”.

“Eu não escreveria um artigo com meu próprio nome e faria as afirmações que farei se não pudesse sustentá-las não apenas hoje, mas daqui a um, dez ou 20 anos. Portanto, não é um texto de defesa. É um posicionamento de vida. E o assumo aqui, com todas as suas consequências, que, aliás, não as temo nenhuma, pois o que eu e minha família estamos sofrendo é algo que no futuro será lembrado apenas pelo que é: um massacre insano e inquisitorial. Por isso, eu quero sofrer a mais profunda devassa a que uma pessoa pode ser submetida”.

Essa tática sórdida, possivelmente entabulada por sua defesa, não para em pé e busca não apenas minimizar as denúncias de assédio sexual e moral, mas transformar em culpadas as vítimas de sua condenável compulsão.

Guimarães tem garantido o direito à ampla defesa e ao devido processo legal, mas alegar inocência na esteira de um currículo contraditório é o que se conhece popularmente como “enxugar gelo”. Quando indicou Pedro Guimarães para o comando da Caixa, o presidente Jair Bolsonaro tinha conhecimento de episódios semelhantes ocorridos anteriormente que tiveram na proa “Pedro Maluco”, como ficou o ex-chefão do banco estatal.

 
Guimarães foi demitido do Banco Santander, em 2004, por ter tentado beijar à força uma funcionária da área de grandes clientes da instituição financeira, durante festa de final de ano. De acordo com informação publicada pela jornalista Malu Gaspar, do jornal “O Globo”, ex-funcionárias do Santander teriam afirmado em grupos de WhatsApp o comportamento relatado nas denúncias atuais era comum na passagem de Guimarães pela instituição, há quase 20 anos. Há relatos de que ele puxava o cabelo das colegas e forçava gestos de intimidade ou de aproximação no ambiente de trabalho.

No BTG, Pactual Guimarães também esteve envolvido em episódios de assédio sexual e moral, segundo funcionários e funcionárias do banco. “Pedro Maluco” trabalhou com Paulo Guedes no BTG, na época em que o agora ministro da Economia era sócio do banco. Em suma, Guedes sabia dos escândalos de Guimarães, mas silenciou diante da indicação feita pelo presidente da República.

No período em que era sócio do banco de investimentos Brasil Plural (hoje Genial), Pedro Guimarães teria feito um acordo extrajudicial por conta de comportamento inadequado. O acordo teria envolvido o pagamento de centenas de milhares de reais à vítima para encerrar o caso.

Resumindo, Pedro Guimarães é reincidente nesse tipo de comportamento, mas para dar subsídios à defesa e no afã de preservar a família – talvez salvar o casamento – surge nas páginas da Folha como um misto de injustiçado com maior abandonado, como se a vida pregressa não o condenasse.

 
A mulher do ex-presidente da Caixa, Manuella Pinheiro Guimarães, afirmou na segunda-feira (4), por meio de rede social, que as acusações contra Pedro Guimarães têm por objetivo “destruir” a família dos dois. Ela recebeu o apoio da primeira-dama Michelle Bolsonaro que replicou a postagem com um comentário: “Querida”.

“Sabíamos que na luta pelo Brasil haveria deslealdade, inveja, sordidez e falsidade. Sabíamos que seriam acompanhados de ataques deliberados e impiedosos com objetivo único de destruir nossa família”, afirmou Manuella Guimarães, que filha do empreiteiro Léo Pinheiro, da construtora OAS, e um dos implicados na Operação Lava-Jato.

Nessa epopeia machista e misógina protagonizada por Pedro Guimarães, que até agora não mereceu pronunciamento oficial de Bolsonaro, o chefe do Executivo, ao ser questionado por um apoiador à porta do Palácio da Alvorada, disse: “Foi afastado o presidente da Caixa. Tá respondido?”. Em seguida, ao perceber o ato falho, o presidente da República corrigiu a própria fala e afirmou: “Ou melhor, ele pediu afastamento, tá?”.

Entre idas e vindas, o escândalo envolvendo Pedro Guimarães é mais um retrato do governo que insiste em levar o Brasil na direção do retrocesso, da intolerância e do obscurantismo. Além disso, Guimarães usou a Folha para encenar um espetáculo mambembe de vitimização.


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