Marcos Valério mentiu ao sugerir ligação do PT com o PCC; Câmara deveria ouvir Queiroz e os milicianos do RJ

 
Desde que o então candidato Jair Bolsonaro foi alvo de um ataque a faca em Juiz de Fora (MG), em 6 de setembro de 2018, teorias conspiratórias são cultivadas por integrantes do bolsonarismo. Gostem ou não os apoiadores do presidente da República, o episódio alavancou a candidatura do ex-capitão do Exército, permitindo que ele chegasse ao Palácio do Planalto para ancorar o pior governo ao longo de décadas.

Entre as teses absurdas que vez por outra ainda voltam à baila, merece destaque a de que Adélio Bispo, autor do ataque, agiu a mando de partidos de esquerda. A Polícia Federal investigou o caso em duas ocasiões e concluiu que Adélio agiu por conta própria. Mesmo assim, Bolsonaro e sua claque rechaçam a conclusão da PF.

Nessa avalanche de aleivosias, as quais serviram e ainda servem para Bolsonaro acionar a alavanca do coitadismo, até mesmo o advogado que defendeu Adélio Bispo foi alvo de mandados de busca e apreensão. Na Justiça, a defesa de Bolsonaro ousou aventar a possibilidade de quebra do sigilo bancário do advogado Zanone Manuel de Oliveira. A alegação que embasou esse devaneio foi a necessidade de identificar quem financiou o advogado de Adélio Bispo.

Marcos Valério ressurge

Como sempre afirmamos, a política, em especial a brasileira, não cede espaço para coincidências, ou seja, tudo acontece de forma premeditada e à sombra de algum interesse espúrio. Operador financeiro do escândalo Mensalão, Marcos Valério, condenado a 37 anos de prisão, ressurge em cena na esteira de afirmação questionável.

Em delação à Polícia Federal, Marcos Valério afirmou que administrou “caixa 2” com R$ 100 milhões pertencentes ao Partido dos Trabalhadores. As informações foram publicadas no último domingo (3) pelo site da revista “Veja”.

Em 2005, Valério, de acordo com a delação, teria sido procurado pelo PT para entregar R$ 6 milhões ao empresário Ronan Maria Pinto, que chantageava o ex-presidente Lula com a possibilidade de revelar detalhes da ligação do Primeiro Comando da Capital (PCC) com a morte do petista Celso Daniel, ex-prefeito de Santo André, em 2002.

“Eu simplesmente, eu tinha muito mais que os seis milhões na mão deles, eu tinha umas dez vezes mais que isso na mão, então, pagar os 6 milhões não era o problema”, afirmou Valério.

De acordo com o ex-publicitário, o aludido pagamento não foi realizado por envolver o caso da morte de Celso Daniel. “Se eu não tivesse rastreado tudo isso, e não tivesse chegado a essa conclusão, eu teria feito, gente. Por que que eu não ia fazer? Eu tinha mais de 100 milhões deles na mão”, disse Marcos Valério.

 
Causa espécie os fatos revelados por Valério tornarem-se públicos a menos de três meses das eleições e com o presidente Jair Bolsonaro, segundo pesquisas eleitorais, correndo o risco de ser derrotado por Lula.

A Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados marcou para a próxima quinta-feira (14) o depoimento de Marcos Valério sobre a delação premiada feita à PF. A iniciativa de chamar Marcos Valério para depor partiu do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro.

O advogado Marcelo Leonardo, que representa Valério, afirmou que o seu cliente cumpre pena em liberdade e está impedido de falar sobre a delação devido ao acordo com a Justiça.

Editor afirma que Valério mentiu

O depoimento de Marcos Valério é tão falacioso quando a teoria delirante de que Adélio Bispo agiu a mando de um partido de esquerda. A delação premiada só é válida em termos legais caso o delator apresente provas ou meios para que essas sejam alcançadas. Do contrário, a delação perde a validade, assim como são nulos os benefícios concedidos ao delator, conforme determina lei específica.

Considerando que a delação de Marcos Valério foi homologada pela Justiça, cabia às autoridades investigar as informações fornecidas pelo delator. Se isso não aconteceu, quem se omitiu deve ser punido.

O assunto ganhou voltou à tona em 2016, no desenrolar das investigações da Operação Lava-Jato. À época, Marcos Valério disse ter feito pagamentos clandestinos para que Lula não fosse implicado no sequestro e assassinato de Celso Daniel. Em suma, o operador do caixa do Mensalão dá versões diferentes para um fato que já foi rechaçado nas esferas judiciais e investigativas.

Sabem os leitores que o editor do UCHO.INFO auxiliou ativamente os parlamentares que integraram a CPI dos Correios, por isso afirmamos com tranquilidade que a declaração de Marcos Valério é falaciosa.

 
Também é de conhecimento dos leitores que divulgamos com exclusividade as gravações do caso Celso Daniel, decisão que rendeu processos ao editor e a retirada da página do ar por decisão arbitrária da Justiça.

O editor é o profissional de imprensa do País que mais conhece o caso envolvendo o sequestro e o assassinato de Celso Daniel, tendo sido alvo de ameaças e investidas criminosas, que se estenderam aos familiares, mas as razões que levaram ao assassinato do ex-prefeito de Santo André são destoam das afirmações de Marcos Valério.

Queiroz e o miliciano Adriano da Nóbrega

Impulsionados pelo desespero decorrente das pesquisas eleitorais, os bolsonaristas agora tentam induzir os eleitores a erro, enquanto escondem a verdade sobre o escândalo das “rachadinhas”, a atuação de Fabrício Queiroz no esquema criminoso que contava com a participação do miliciano Adriano da Nóbrega.

Os parlamentares da Comissão de Segurança Pública da Câmara deveriam convocar Fabrício Queiroz para explicar os depósitos feitos na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro, que de acordo com declaração do presidente da República eram referentes a pagamento de empréstimo feito ao ex-assessor. Michelle recebeu R$ 24 mil, enquanto o empréstimo foi de R$ 40 mil, segundo Bolsonaro.

Morto em fevereiro de 2020 no interior da Bahia, após longos meses fugindo da Justiça, Adriano da Nobrega foi um dos fundadores do “Escritório do Crime”, grupo de matadores de aluguel que atua até hoje no Rio de Janeiro e tem envolvimento nos assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. O miliciano foi executado por policiais do Rio e da Bahia, mas até hoje a morte não foi esclarecida.

Ex-capitão da Polícia Militar fluminense, Adriano, que de acordo com as investigações lavou o dinheiro das “rachadinhas”, conseguiu emplacar a mãe e a ex-mulher como funcionárias do no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

É importante lembrar que Fabrício Queiroz ficou escondido durante meses em um sítio em Atibaia, de propriedade de Frederick Wassef, advogado da família Bolsonaro, até ser localizado pela polícia e preso.

Considerando que grande parte do “telhado” do clã Bolsonaro é de vidro, resta saber quem está por trás do movimento que ressuscitou o conteúdo falacioso da delação de Marcos Valério, que há muito já deveria ter sido anulada.


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