Com desempenho nas pesquisas eleitorais aquém das próprias expectativas, o presidente Jair Bolsonaro, que flerta diuturnamente com a possibilidade de golpe, tem apostado na PEC do Desespero para conter o esfarelamento de seu projeto de reeleição.
Bolsonaro, que continua atacando o sistema eleitoral e o TSE, crê que benefícios sociais turbinados e a criação de outros pontuais, com validade até 31 de dezembro, servirá para comprar a consciência e os votos dos incautos.
Contudo, engana-se o chefe do Executivo ao acreditar que a PEC, flagrantemente inconstitucional e eleitoreira, facilitará sua vida na corrida eleitoral. Apesar de a medida aplacar por alguns parcos meses a fome de milhões de brasileiros, que a partir de janeiro retornarão ao terreno da tragédia social, os caminhoneiros não receberam de forma positiva a movimentação de Bolsonaro.
Presidente da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim, conhecido como “Chorão”, classificou como “esmola” e tentativa de “compra de voto” a PEC do Desespero que prevê o pagamento de um vale-diesel no valor de R$ 1.000 aos caminhoneiros até o final do ano.
Em nota enviada à imprensa, Chorão afirmou que o valor ofertado é insuficiente para “resolver os problemas dos caminhoneiros autônomos”, além de ser uma “afronta” à inteligência dos transportadores, por se tratar de uma “clara tentativa” de comprar o voto dos motoristas.
“Mil reais não resolvem o problema dos caminhoneiros autônomos, é uma afronta à nossa inteligência, é uma tentativa clara de comprar o direito mais digno de um cidadão que é o seu voto”, afirmou.
Ao se referir à PEC como uma “esmola”, Chorão diz que os caminhoneiros “não são burros” e alega que o valor é insuficiente, sobretudo por não haver estabilidade no preço dos combustíveis, já que a política de preços adotada pela Petrobras, baseada no mercado internacional, está atrelada à cotação do dólar.
Em claro e direto recado ao presidente da República, o líder dos caminhoneiros alerta Bolsonaro para que “não duvide de nossa inteligência”, pois esses os caminhoneiros “não precisam de esmola”.
“Presidente, precisamos de respeito, [pois] somos nós que carregamos o Brasil nas costas”, completou Chorão, que sugeriu a possibilidade de paralisação da categoria.
Além de Chorão, o diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL), Carlos Alberto Litti Dahmer, disse que o auxílio de R$ 1.000 é um “desaforo” por tentar “comprar o cidadão”.
“Os R$ 1.000 (do voucher que o governo vai dar) é um desaforo, é uma tentativa de aproximação da categoria pelo que há de mais antigo, que é a tentativa de compra do cidadão com algo que não resolve, é uma esmola”, declarou Dahmer.
Em relação à possibilidade de paralisação dos transportadores, Dahmer destacou que os seguidos aumentos nos preços dos combustíveis impulsionam desejos por greve, mas se mostrou cauteloso porque “nas últimas tentativas [de paralisação] o Estado atuou de maneira bastante repressiva”.
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