IPCA sobe para 0,67% em junho, mas Bolsonaro diz que o Brasil é um país “sem problemas internos”

 
Com o presidente Jair Bolsonaro dentro da bolha da reeleição, o que exige discursos delirantes e declarações falaciosas, e o ainda ministro Paulo Guedes vivendo à margem da realidade, o Brasil afunda com preocupante velocidade na vala do caos social.

Há muito alertamos para o perigo que representa a política econômica comandada por Guedes, que para justificar sua incompetência recorre a palavrório tosco e preconceituoso. Não se pode esquecer as falas do ministro sobre “domésticas que viajam à Disney” e “o filho porteiro que ingressou na faculdade”, entre tantos devaneios verborrágicos.

Como se nada representasse um cenário em que 33 milhões de pessoas passam fome e 61 milhões enfrentam insegurança alimentar, Bolsonaro, que tenta conter o desmonte do projeto de reeleição, disse a apoiadores, na quinta-feira (7), que o Brasil é um país “sem problemas internos”.

Fosse verdadeira a afirmação de Bolsonaro, o governo não precisaria atropelar a Constituição, a legislação eleitoral e a Lei de Responsabilidade Fiscal para aprovar a chamada PEC do Desespero, que turbina benefícios sociais existentes e cria outros pontuais, com validade até 31 de dezembro. A manobra palaciana custará aos cofres públicos mais de R$ 41 bilhões, acima do teto de gastos.

Para fazer contraponto ao estupor oficial, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, registrou 0,67% em junho deste ano. A taxa é superior ao 0,47% de maio e ao 0,53% de junho de 2021. Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (8) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

No acumulado no ano a inflação oficial chegou a 5,49%. Em 12 meses, o IPCA acumulado atingiu 11,89%, acima dos 11,73% acumulados em maio.

 

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Grupos de despesas

Todos os nove grupos de despesas registraram inflação em junho, com destaque para alimentação e bebidas, com alta de preços de 0,80%. Entre os itens, com maior alta estão a refeição fora de casa (0,95%) e o lanche fora de casa (2,21%).

“Assim como outros serviços que tiveram a demanda reprimida na pandemia, há também uma retomada na busca pela refeição fora de casa. Isso é refletido nos preços”, afirmou o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov.

Também tiveram aumento de preços itens consumidos no domicílio como o leite longa vida (10,72%), o feijão-carioca (9,74%), o frango em pedaços (1,71%) e o pão francês (1,66%).

De igual modo apresentaram altas de preço relevantes, os grupos de saúde e cuidados pessoais (1,24%), puxado pelo aumento dos planos de saúde (2,99%), e pelos transportes (0,57%).

Entre os itens que pressionaram os transportes estão o óleo diesel (3,82%), o gás veicular (0,30%) e as passagens aéreas (18,33%).

Outros grupos apresentaram as seguintes taxas de inflação: vestuário (1,67%), artigos de residência (0,55%), habitação (0,41%), despesas pessoais (0,49%), comunicação (0,16%) e educação (0,09%).

 
Sinal de alerta

Em matéria publicada na quarta-feira (6) destacamos a possibilidade de a PEC do Desespero não surtir os efeitos desejados por Jair Bolsonaro e pelos integrantes do núcleo duro de sua campanha. Isso porque com a elevação dos preços dos alimentos, em especial, os benefícios sociais – os turbinados e os novos – terão os valores corroídos pela inflação.

Em mais uma ação para tentar salvar a campanha pela reeleição, o presidente editou decreto obrigado os postos de combustíveis a exibirem cartazes informando os preços antes e depois da limitação do ICMS, assunto que, insistimos, é inconstitucional, pois aos entes federativos cabe o direito de decidir sobre impostos estaduais, não ao governo federal.

Para provar que o desespero no Palácio do Planalto está em alta, o governo atuou nos bastidores do Congresso Nacional para garantir a aprovação da medida Provisória que permite a contratação de empréstimo consignado por beneficiários de programas de transferência de renda, como o Auxílio Brasil e o Benefício de Prestação Continuada (BPC). A MP fixa limite de até 40% do valor recebido por meio do programa assistencial para ser descontado mensalmente do benefício.

Trata-se de uma armadilha perigosa e covarde criada pelo governo, que busca dar ares de normalidade a uma economia que há muito desmorona lenta e continuamente. Mesmo assim, o ministro Paulo Guedes insiste em ignorar a tragédia que se abate sobre o País.


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